São Paulo, sábado, 28 de fevereiro de 2004

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BASTIDORES

Queda no PIB reacende críticas à política econômica

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O desempenho da economia em 2003 ficou abaixo do esperado pelo governo, que já sabia anteontem que receberia uma notícia pior do que imaginava. O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, já se prepara para rebater as pressões internas (governo) e externas (PT e empresários) para reduzir o ajuste fiscal. Lula vai apoiar Palocci.
O governo avalia que a queda de 0,2% do PIB será explorada pela oposição agora, no meio da crise do caso Waldomiro Diniz, e na campanha eleitoral de outubro.
O Planalto esperava o "PIB zero" (ironia a uma eventual taxa de crescimento de 0%) ou algo entre 0,2% e 0,3% positivos. "Crescimento negativo é uma marca muito ruim", comentou ontem um ministro de Lula. "Dá margem a exploração política."
Na prática, a economia encolheu no primeiro ano do governo Lula e apresentou seu pior resultado desde 1992, ano do impeachment de Fernando Collor.
Toda a argumentação de Lula e do governo, como já veio a público ontem, é dizer que o pior já passou e atribuir o resultado à necessidade de ajuste em 2003.
No entanto, os críticos da política econômica no próprio governo devem voltar a atacar o ministro da Fazenda e seus principais auxiliares. São recorrentes nas reuniões da cúpula do governo sugestões para que haja diminuição da meta de superávit primário de 4,25% do PIB. O superávit, economia para pagamento de juros da dívida, é a principal meta do acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
Há três ministros que, nas reuniões internas, bombardeiam a meta de superávit primário: José Dirceu (Casa Civil), Jaques Wagner (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social) e Luiz Dulci (Secretaria Geral).
Dirceu, enfraquecido politicamente pelo caso Waldomiro Diniz, perdeu força para continuar a exercer o contraponto a Palocci nas reuniões internas do governo. Wagner, ligado a Dirceu, tem assumido mais as suas críticas. Dulci expressa desde o começo do governo as suas dúvidas.
Apesar das críticas dos três ministros, o presidente tem decidido quase sempre a favor de Palocci. Foi assim ao cortar R$ 6 bilhões dos R$ 413,5 bilhões previstos para o Orçamento deste ano.
Por ora, Lula tem elogiado Palocci e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, em encontros públicos e reservados. No quadro de hoje, dificilmente os críticos de Palocci conseguirão espaço para mudança significativa na política econômica.


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