São Paulo, sábado, 28 de fevereiro de 2004

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TRABALHO

Taxa vai a 11,7% em janeiro porque temporários voltaram a procurar vagas; inflação menor corrói menos o salário

Desemprego aumenta, mas renda melhora

Antônio Gaudério/Folha Imagem
Desempregados na praça Floriano Peixoto (SP), a "praça do emprego", à espera de algum bico


PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Passado o período de contratações temporárias de final de ano, o desemprego voltou a subir: ficou em 11,7% em janeiro, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A taxa é 0,5 ponto percentual maior do que a registrada em igual mês de 2003 (11,2%). Em dezembro de 2003, havia sido de 10,9%.
Em janeiro, havia, segundo o IBGE, mais 149 mil pessoas desocupadas do que em igual mês de 2003. O total de desempregados nas seis principais regiões metropolitanas do país (São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador e Recife) alcançou 2,4 milhões de pessoas.
Segundo o IBGE, a razão do aumento do desemprego de um mês para o outro é que os empregados contratados no final do ano saíram de seus postos temporários. Passaram, com isso, a procurar um novo emprego e a pressionar o mercado de trabalho.

Renda cai menos
Em janeiro, o rendimento do trabalhador permaneceu em queda, embora já numa trajetória de desaceleração. Depois de chegar ao fundo do poço em julho (-16,4%), a intensidade da queda foi se reduzindo gradualmente, atingindo retração de 6,2% em janeiro na comparação com o mesmo mês de 2003.
Tal movimento, diz o IBGE, é reflexo do recuo da inflação, que, mais baixa, abocanha parcela menor do rendimento. Em relação a dezembro, a renda cresceu 1,9%.
Sobre o aumento do rendimento de dezembro para janeiro, o gerente da PME (Pesquisa Mensal de Emprego) do IBGE, Cimar Azeredo Pereira, afirmou que isso ocorreu porque os empregados temporários, em geral informais, ganham menos. "Quando eles saem do mercado, cresce o rendimento médio."

Mais carteiras assinadas
Outro sinal de que o mercado de trabalho está melhorando é a expansão do rendimento dos trabalhadores com carteira assinada, que teve seu primeiro sinal positivo desde março de 2003. Em janeiro houve expansão de 0,4% em relação a janeiro do ano passado.
Na avaliação de Pereira, a passagem das festas de final de ano levou o número de pessoas ocupadas em janeiro a cair 2,1% em relação a dezembro. Na comparação com janeiro de 2003, houve crescimento de 1,4%. Sob efeito do fim do período de contratações temporárias, caiu em 390 mil o total de pessoas ocupadas de dezembro de 2003 para janeiro.
Ao comparar o desemprego do mês passado com o registrado em janeiro de 2003, Pereira afirmou que o mercado de trabalho sofreu muito no ano passado com o aperto da política monetária e que a recuperação esboçada a partir de novembro ainda não foi suficiente para absorver todo o contingente de desempregados.
Para Lauro Ramos, economista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, órgão do Ministério do Planejamento), o crescimento da ocupação tanto em janeiro como em 2003 "foi um pequeno milagre", a julgar pelo desempenho negativo do PIB no ano passado. Não existem, porém, motivos para comemoração, afirma ele.
"Como diz o pessoal do IBGE, foi mesmo um pequeno milagre, mas, mesmo assim, o desemprego está num patamar muito elevado. O mercado de trabalho não está conseguindo dar conta de sua tarefa básica, que é gerar empregos para absorver o crescimento vegetativo, ou seja, os novos trabalhadores que estão ingressando na vida profissional", diz Ramos.


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