São Paulo, quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

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Europa retoma importação de carne

Após suspender compras, UE aceita lista com somente 106 fazendas aptas a enviar gado para abate

Ministro considera medida "simbólica" e prevê que, com "dever de casa" realizado, exportações se normalizem até o final deste ano

IURI DANTAS
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Após 27 dias de embargo branco, a União Européia anunciou ontem a retomada de importações de carne bovina "in natura" do Brasil, negou protecionismo e imposição de cotas e criticou o país por descumprimento de regras sanitárias acertadas desde 2007. Inicialmente, apenas 106 propriedades poderão vender aos 27 países do bloco europeu.
O ministro Reinhold Stephanes (Agricultura) considerou "positiva" a decisão européia, mas classificou de "simbólica" a reabertura do mercado.
"É mais uma abertura simbólica do que uma abertura de fato para maiores volumes."
As exportações de carne para o bloco devem ser normalizadas, segundo o ministro, até o final do ano. "Volta ao normal desde que nós saibamos fazer o nosso dever de casa", disse.
A tarefa brasileira, nesse caso, é exigir dos pecuaristas a rastreabilidade dos rebanhos, uma exigência considerada rígida pelo próprio ministro.
Os europeus querem saber onde os animais nasceram, como viveram, se e quando foram vacinados, onde foram abatidos, entre outras informações.
Segundo o embaixador da União Européia, João Pacheco, as duas primeiras listas de fazendas entregues pelo Brasil não estavam completas, pois faltavam as auditorias individuais de cada propriedade.
"Estávamos à espera de uma lista que fosse enviada pelo Brasil com os relatórios de auditorias, essa era a condição. Isso foi feito, foi publicado e está reaberto [o comércio]", disse.
Desde ontem, há fazendas autorizadas no Espírito Santo (2), em Goiás (2), em Mato Grosso (4), em Minas Gerais (87) e no Rio Grande do Sul (11).
Uma equipe de técnicos europeus começou ontem uma vistoria em 27 dessas fazendas, para checar se os dados fornecidos pelo governo conferem.
Para a Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne), será preciso avaliar se os custos de logística vão permitir a retomada das exportações.
"Depois é lamber as feridas, reorganizar o processo e que o Sisbov seja refeito para se tornar mais simples para o produtor, que mais usa", disse Antonio Jorge Camardelli, diretor-executivo da entidade.
"Foi uma surpresa porque liberaram 106 propriedades sem vistoriar. Estavam com uma batata quente e não sabiam o que fazer", disse Antenor Nogueira, presidente do Fórum da Pecuária de Corte da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).
Segundo Pacheco, o problema começou em dezembro. "Quando veio cá a inspeção no final de 2007, o Sisbov não estava a funcionar como devia."
O embaixador da União Européia também negou que as decisões do bloco sejam influenciadas pela resistência de fazendeiros irlandeses, cuja carne compete com a brasileira. Disse que essa crítica "é, talvez, uma espécie de desculpa para alguns não fazerem aquilo que tem que fazer".
Pacheco também disse que o bloco nunca exigiu uma lista de somente 300 propriedades. "Foi uma sugestão dada pelos serviços técnicos da comissão, como parecendo o que seria possível de ser feito numa primeira fase da parte brasileira. Acabou sendo 106", disse.


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