São Paulo, domingo, 28 de fevereiro de 1999

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Bolsa de Chicago especula com o real

TONI SCIARRETTA
da Sucursal do Rio

A mudança na política cambial está provocando um verdadeiro "boom" nas negociações de valores futuros da moeda brasileira na Bolsa Mercantil de Chicago, uma das principais praças de negociação de derivativos do mundo.
Com isso, começa a surgir um novo mercado para se negociar -e especular- diretamente contra ou a favor do real. Negociações sem o risco de ter as regras alteradas pelo governo.
De 31 de agosto do ano passado para a última sexta-feira, data do vencimento dos contratos de março, o número de posições em aberto (aquelas que ainda não tinham sido liquidadas) para março subiram de 3 para 4.786.
Esse volume em Chicago ainda é bastante pequeno se comparado com o da BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros) de São Paulo, onde ocorre a negociação inversa, a de futuros de dólar. Na sexta-feira, venceram cerca de 65 mil contratos de dólar para março.
São os contratos em aberto que dão margem para os ajustes diários, que são pagos no final do dia com base na cotação média do Banco Central do dólar comercial. É no ajuste diário que o dinheiro troca de mãos nessa negociação.
Os contratos futuros de reais foram criados em 1995 pela Bolsa Mercantil de Chicago para permitir operações de hedge -uma espécie de seguro contra variações violentas- de moeda durante a crise do México.
Na época, se temia que a desvalorização do peso mexicano contaminasse as moedas latinas.
Apesar de existirem desde 1995, esses contratos nunca foram de fato muito negociados em Chicago. Como o dólar variava numa banda conhecida, praticamente fixa, comprar ou vender reais nunca ofereceu boas chances de lucro.
Já na segunda quinzena de dezembro, menos de um mês antes da desvalorização do real se confirmar, as corretoras que operam em Chicago começaram a aumentar seus contratos futuros de reais.
No dia 22 de dezembro, por exemplo, o número de contratos em aberto de real para março já somava 913. Dia 29 do mesmo mês, chegaram a 1.358. Um dia antes da primeira desvalorização do real, dia 12 de janeiro, já eram 2.156.
Muitas dessas corretoras que operam em Chicago trabalham para bancos brasileiros ou para estrangeiros com negócios no Brasil. É por isso que no Carnaval, apesar de não ser feriado por lá, praticamente não houve negociações.
Segundo o gerente da área internacional do banco Bozano, Simonsen, Roberto Campos Neto, três fatores colaboraram para esse "boom" nas negociações de futuros de real em Chicago.
O primeiro foi que a Bolsa de Chicago continuou negociando real quando a BM&F suspendeu as negociações de dólar futuro, nos dias em que o BC anunciou as mudanças na política cambial.
"O segundo é o risco Brasil", disse Campos Neto, referindo-se ao risco permanente de sofrer taxações adicionais e de ter controles no fluxo de investimento.
Finalmente, a Bolsa de Chicago costuma permitir uma amplitude maior de variação do real em relação ao dólar, permitindo lucros - e riscos- maiores que na BM&F.
Na sexta, por exemplo, enquanto o contrato para abril da BM&F projetava o dólar a R$ 2,029, em Chicago ficava quase 1,5% mais caro, chegando a R$ 2,059.



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