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Bolsa de Chicago especula com o real
TONI SCIARRETTA
da Sucursal do Rio
A mudança na política cambial
está provocando um verdadeiro
"boom" nas negociações de valores futuros da moeda brasileira na
Bolsa Mercantil de Chicago, uma
das principais praças de negociação de derivativos do mundo.
Com isso, começa a surgir um
novo mercado para se negociar
-e especular- diretamente contra ou a favor do real. Negociações
sem o risco de ter as regras alteradas pelo governo.
De 31 de agosto do ano passado
para a última sexta-feira, data do
vencimento dos contratos de março, o número de posições em aberto (aquelas que ainda não tinham
sido liquidadas) para março subiram de 3 para 4.786.
Esse volume em Chicago ainda é
bastante pequeno se comparado
com o da BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros) de São Paulo,
onde ocorre a negociação inversa,
a de futuros de dólar. Na sexta-feira, venceram cerca de 65 mil contratos de dólar para março.
São os contratos em aberto que
dão margem para os ajustes diários, que são pagos no final do dia
com base na cotação média do
Banco Central do dólar comercial.
É no ajuste diário que o dinheiro
troca de mãos nessa negociação.
Os contratos futuros de reais foram criados em 1995 pela Bolsa
Mercantil de Chicago para permitir operações de hedge -uma espécie de seguro contra variações
violentas- de moeda durante a
crise do México.
Na época, se temia que a desvalorização do peso mexicano contaminasse as moedas latinas.
Apesar de existirem desde 1995,
esses contratos nunca foram de fato muito negociados em Chicago.
Como o dólar variava numa banda
conhecida, praticamente fixa,
comprar ou vender reais nunca
ofereceu boas chances de lucro.
Já na segunda quinzena de dezembro, menos de um mês antes
da desvalorização do real se confirmar, as corretoras que operam em
Chicago começaram a aumentar
seus contratos futuros de reais.
No dia 22 de dezembro, por
exemplo, o número de contratos
em aberto de real para março já somava 913. Dia 29 do mesmo mês,
chegaram a 1.358. Um dia antes da
primeira desvalorização do real,
dia 12 de janeiro, já eram 2.156.
Muitas dessas corretoras que
operam em Chicago trabalham para bancos brasileiros ou para estrangeiros com negócios no Brasil.
É por isso que no Carnaval, apesar
de não ser feriado por lá, praticamente não houve negociações.
Segundo o gerente da área internacional do banco Bozano, Simonsen, Roberto Campos Neto, três fatores colaboraram para esse
"boom" nas negociações de futuros de real em Chicago.
O primeiro foi que a Bolsa de
Chicago continuou negociando
real quando a BM&F suspendeu as
negociações de dólar futuro, nos
dias em que o BC anunciou as mudanças na política cambial.
"O segundo é o risco Brasil", disse Campos Neto, referindo-se ao
risco permanente de sofrer taxações adicionais e de ter controles
no fluxo de investimento.
Finalmente, a Bolsa de Chicago
costuma permitir uma amplitude
maior de variação do real em relação ao dólar, permitindo lucros -
e riscos- maiores que na BM&F.
Na sexta, por exemplo, enquanto
o contrato para abril da BM&F
projetava o dólar a R$ 2,029, em
Chicago ficava quase 1,5% mais caro, chegando a R$ 2,059.
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