São Paulo, domingo, 28 de fevereiro de 1999

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OCDE reduz ajuda às nações mais pobres

ISABEL CLEMENTE
de Londres

O último dos impactos da crise financeira dos países asiáticos de que se têm notícia foi a redução da assistência oficial dos países ricos para os mais pobres.
Segundo relatório recentemente divulgado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o clube dos 29 países mais desenvolvidos do mundo, a ajuda oficial para os países mais pobres chegou, em 97, ao mais baixo nível desta década.
Os ricos desembolsaram US$ 49,6 bilhões em 97, contra US$ 57,9 bilhões no ano anterior. Os sete países mais ricos do mundo, o G-7, doaram, em 97, US$ 15 bilhões a menos do que em 92 -uma redução real de 30%.
A OCDE atribui a queda à turbulência financeira iniciada em 97 com a crise dos países asiáticos e estima que esse volume de recursos tenha minguado ainda mais no ano passado, com a crise russa.
Os países mais atingidos pela redução dos desembolsos são os mais pobres, já que os chamados emergentes, como o Brasil, dependem menos desse tipo de ajuda.
Os dados da OCDE reforçam a tese de que as crises financeiras estão aumentando a distância dos pobres para os ricos, diz o pesquisador brasileiro Paulo Wrobel, do Instituto Real de Assuntos Internacionais, baseado em Londres.
Os números da OCDE foram anunciados quase simultaneamente ao lançamento da campanha mundial "Cancelem a Dívida" (Drop the Debt), pelo perdão da dívida dos 52 países mais pobres do mundo -proposta que conta com o apoio do governo britânico.
Esta década tem sido marcada por um esforço grande dos países desenvolvidos em conter os próprio gastos, para reduzir o déficit público, explica Paulo Wrobel.
Os países da Comunidade Européia, em especial, se viram às voltas com as rígidas metas do Tratado de Maastricht, que visavam o ajuste econômico para a união monetária inaugurada este ano.
Atualmente, apenas quatro países atendem ao limite mínimo, de 0,7% do próprio PIB (Produto Interno Bruto), fixado pelas Nações Unidas, para as assistências oficiais. São eles: Noruega, Suécia, Dinamarca e Holanda.
Os Estados Unidos doam menos que 0,1% do seu PIB (soma das riquezas produzidas pelo país). A média da assistência de todos os membros da OCDE ficou em 0,22% do PIB somado desse grupo, contra 0,25% do ano anterior.
A OCDE defende, como contraponto, a fixação de estratégias de cooperação de longo prazo, para fugir das oscilações geradas pela crise financeira.
A boa notícia trazida pelo relatório anual sobre desenvolvimento da OCDE é que os recursos repassados aos países do Terceiro Mundo estão sendo melhor utilizados.
Se concentrados em áreas-chave, como Educação e Saúde, eles podem atrair o dobro em investimentos privados, que compensam a diminuição da participação estatal.
Os investimentos privados estão tomando a dianteira. A OCDE constatou que eles quase dobraram de 96 para 97, quando chegaram a US$ 108 bilhões. O problema é que muito pouco foi para os países realmente em necessidade.



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