São Paulo, terça-feira, 28 de março de 2006

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Baixa expansão atrapalha avaliação

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

As taxas modestas de crescimento e o alto endividamento do setor público estão entre as principais barreiras que separam o Brasil da classificação de investimento de baixo risco pelas grandes agências internacionais. Pelo menos é essa a avaliação de uma delas, a Standard & Poor's.
Representantes da agência de classificação de risco debateram ontem com o secretário do Tesouro, Joaquim Levy, e com executivos de grandes empresas brasileiras as condições para que companhias e governo brasileiros atinjam o "grau de investimento". As agências de classificação de risco atribuem notas a papéis de empresas e governos. A nota reflete a opinião da agência a respeito da capacidade e da disposição do emissor do papel de pagar seus compromissos.
O "grau de investimento" é a nota a partir da qual o risco de calote é considerado baixo. Como o risco é reduzido em relação aos demais papéis, os juros cobrados do emissor também são menores. Assim, quando governos ou empresas atingem o "grau de investimento", as condições de financiamento melhoram.
Uma série de investidores -como fundos de pensão e seguradoras- também só podem aplicar em papéis considerados de baixo risco. Assim, quando torna-se um investimento de baixo risco, ou com "grau de investimento", os papéis de um país são comprados por um maior número de investidores, o que aumenta a procura por eles e reduz também os juros.
"É muito difícil dizer quando um país pode atingir o "grau de investimento". [O prazo] depende do tipo de políticas adotadas pelo país e da velocidade em que elas são adotadas", diz Lisa Schineller, diretora de riscos soberanos (as notas atribuídas aos países), da Standard & Poor's.
Ainda assim, lembra Lisa, as estatísticas sobre países que já chegaram lá podem dar alguma pista. No caso da Standard & Poor's, dos países que tinham nota similar à brasileira e chegaram ao grau de investimento, 17,7% o fizeram em três anos, enquanto outros 22% demoraram cinco anos.
Ela cita, entre os problemas que o Brasil ainda precisa resolver para melhorar sua nota, a falta de crescimento e o alto endividamento público. Levy faz ressalvas. "O não crescimento é uma preocupação. Mas temos que lembrar que alguns países pares [com notas parecidas ou melhores do que a do Brasil] também não têm crescido muito. O crescimento não é impedimento definitivo para o grau de investimento."
O secretário do Tesouro admitiu que o Brasil precisa levar adiante mais reformas econômicas, mas ressaltou também as melhoras obtidas pelo país nos últimos anos. "É sempre muito legal falar que vamos fazer mais reformas, mas temos também que lembrar do que já fizemos", disse ele, citando a melhora das contas externas, do perfil do endividamento externo e interno e a adoção de reformas microeconômicas, como a nova lei de falências.
Levy disse que, depois do processo de combate à inflação deflagrado no último ano e com a continuidade das políticas econômicas adotadas até aqui, o Brasil está pronto para um "salto", aproximando-se mais do perfil de um país com classificação de baixo risco.
Mesmo um cenário externo menos favorável, disse ele, não deve atrapalhar o Brasil. "Estamos preparados para o ajuste [da economia internacional]", argumenta o secretário do Tesouro.


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