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LUÍS NASSIF
A Bolívia e as
multinacionais brasileiras
A crise Brasil-Bolívia é um
caso típico de diplomacia
condescendente e empresas arrogantes, com comportamento típico de velhas potências coloniais. Essa é a visão de um experiente negociador brasileiro do
setor privado, que passou por
inúmeros países de Terceiro
Mundo.
A diplomacia comercial é parte
importante nos projetos estratégicos do país. Ocorre que, especialmente no relacionamento
com países menores, as empresas
brasileiras ainda não têm jogo
de cintura, cultura diplomática.
São arrogantes, como os ingleses
pré-Segunda Guerra.
O presidente boliviano, Evo
Morales, é um cocaleiro rústico,
com noção difusa sobre interesse
nacional, que terá que passar
por um processo duro até aprender a negociar de igual para
igual com parceiros comerciais.
Mas o que está acontecendo
com algumas empresas privadas
é um jogo sujo, feito à margem
da cultura e da lei local, diz o observador. O caso da aciaria da
EBX, de Eike Batista, é uma vergonha para o Brasil, diz ele. Em
sua opinião, o empresário não
está criando caso para não ter
que expor à opinião pública brasileira detalhes de seu projeto.
Em um país com as reservas de
gás da Bolívia, ele planejou levantar uma aciaria à base de
carvão vegetal, destruindo um
ecossistema, em uma localização
proibida pela própria Constituição boliviana. Fosse no Brasil, o
empresário seria escorraçado.
As empresas brasileiras ainda
não entenderam a importância
do respeito pela história, pela antropologia dos países em que
atuam, nem preocupação em
montar acordos locais de longo
prazo, com consórcios adequados e pragmáticos. Entram com
boca torta e acabam pagando
caro por isso, diz o observador.
No caso da Petrobras, chegou à
Bolívia com a cabeça em Brasília
e com a cultura do "petróleo é
nosso" -da mesma maneira
que a Standard Oil em relação
ao Brasil, quando começamos a
nos preparar para criar nossa
própria indústria de petróleo.
Até na Argentina, a Petrobras
não teve humildade nos contatos
iniciais com as autoridades. Se é
para substituir os velhos colonizadores, diz ele, que vão para a
França e para a Inglaterra
aprender como se fazia na época
da colonização.
Uma empresa tem que entrar
em um país com visão de longo
prazo, de permanecer por lá por
50 anos, como parceria. Essa visão de longo prazo é que define a
atitude. Quem não se comprometer com o longo prazo será
punido. O executivo tem que se
dar conta de que, ali, ele sempre
será estrangeiro. Se passar desses
limites, acaba dificultando sua
vida, da sua empresa e -no caso da EBX- do próprio Brasil.
Uma proposta de construção
de um complexo petroquímico
na Bolívia seria muito mais eficiente do que toda a retórica do
Itamaraty.
Dívidas com a Varig
Uma luz se acendeu sobre a
Varig: um enorme passivo dos
Estados, na forma de cobrança
indevida de ICMS. Até janeiro
de 2006, esse passivo chegava a
R$ 1,3 bilhão, R$ 985 milhões
dos quais referentes à Varig, R$
300,5 milhões à Cruzeiro, R$ 84
milhões à Rio-Sul e R$ 16 milhões à Nordeste. O Rio de Janeiro é o único Estado sem passivo.
É a esperança à qual o governo federal está se apegando para conseguir o fôlego adicional
que dê tempo para a venda da
Varig.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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