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CAPITALISMO VERMELHO
Alta de 0,27 ponto é a 1ª em 18 meses e revela temor com aquecimento; commodities caem com medida
China eleva juros para conter crescimento
CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL
A China surpreendeu o mercado ontem com a elevação de 0,27
ponto percentual de sua taxa de
juros, para 5,85%, a primeira desde outubro de 2004. Apesar do pequeno valor, a decisão indica que
o governo está preocupado com o
ritmo de crescimento da economia, alimentado por um "boom"
de crédito e investimentos.
No primeiro trimestre, o PIB
chinês teve expansão de 10,2%,
índice semelhante aos registrados
em 2005 (9,9%) e 2004 (10,1%).
No mesmo período, os investimentos em ativos fixos, como
máquinas, equipamentos e construções, deram um salto de
27,7%, 4,9 pontos percentuais acima do aumento registrado no
mesmo período de 2005. Em números absolutos, o valor foi de
US$ 173,85 bilhões.
Os novos financiamentos concedidos pelos bancos somaram
US$ 157,5 bilhões no primeiro trimestre, valor que corresponde a
pouco mais de 50% da meta para
todo o ano fixada pelo Banco do
Povo da China, nome oficial do
banco central.
Créditos e investimentos em excesso podem levar a um superaquecimento da economia e a um
crescimento que seja insustentável. O temor de que isso ocorra
freqüenta a agenda do governo
chinês desde 2004, quando houve
o primeiro reajuste dos juros em
quase uma década.
Além de subir a taxa, o governo
adotou naquele ano uma série de
medidas administrativas para
coibir o ritmo da produção. Entre
elas, a proibição de novos investimentos em áreas já superaquecidas, como aço e cimento.
O receio de que a China desacelere levou ontem à queda no preço de ouro, zinco, cobre e prata.
As ações da Vale do Rio Doce recuaram 4,07%, mais que a queda
de 1,63% da Bovespa. A China é o
maior mercado da mineradora
brasileira e de vários outros exportadores de commodities.
Jonathan Anderson, economista-chefe do banco UBS na Ásia,
acredita que medidas administrativas semelhantes às de 2004 serão
adotadas agora. Em sua opinião, a
alta de 0,27 ponto dos juros terá
efeito quase nulo sobre a economia. Mas ela sinaliza para os bancos estatais que o governo está decidido a restringir a concessão de
crédito, avalia Anderson.
O sistema bancário da China
ainda é controlado por bancos estatais sujeitos a pressões políticas.
Somado à expansão monetária
superior à meta oficial, o fato é um
estímulo a novos empréstimos.
O aumento do crédito e do investimento pode levar a uma expansão da produção que supere a
demanda por produtos e serviços
chineses. Se isso ocorrer, a atividade econômica terá uma redução brusca, para que oferta e demanda se equilibrem.
É isso que os economistas chamam de "hard landing" (pouco
forçado) e que o governo chinês
quer evitar. O objetivo das medidas de restrição a crédito e investimentos é obter o "soft landing"
(pouso suave), com uma pequena
desaceleração do crescimento.
Todos os números do primeiro
trimestre indicam que a economia está em alta velocidade. A
produção industrial aumentou
16,7%, 0,5 ponto percentual acima da expansão registrada em
igual período de 2005. As importações subiram 24,8%, para US$
174 bilhões, 12,6 pontos percentuais acima da elevação de 2005.
Taxa administrada
O banco central da China não é
independente e implementa decisões aprovadas previamente pelo
Conselho de Estado, o gabinete
do país. Também não há liberdade na fixação da taxa final para o
tomador. Apesar da gradual flexibilização dos últimos anos, os empréstimos em yuan não podem
ter juros superiores a 2,3 vezes a
taxa básica, de 5,85% para operações de um ano. Existe ainda um
piso, de 90% da taxa.
Essas bandas, que já foram mais
estreitas, têm o objetivo de impedir a concorrência predatória entre os bancos e permitir sua gradual adaptação às regras de mercado. Um dos maiores problemas
dos bancos estatais é a dificuldade
de seus funcionários e gerentes
em avaliar o risco das operações e
definir os juros a partir disso.
A reforma do sistema bancário
caminha no sentido da total liberalização dos juros. As instituições locais enfrentarão a partir de
2007 a concorrência de bancos estrangeiros, segundo os compromissos assumidos pela China
quando entrou na OMC (Organização Mundial do Comércio).
A preocupação com a saúde financeira dos bancos ficou evidente na decisão de ontem. O banco
central elevou a taxa cobrada nos
empréstimos, mas manteve inalterada, em 2,25%, a que os bancos
pagam sobre os depósitos.
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