São Paulo, terça, 28 de abril de 1998

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MERCADO EXTERNO
C-bonds, os mais negociados do mundo, perdem valor; juro de papéis do Tesouro dos EUA aumenta
Título da dívida brasileira despenca em NY

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
da Reportagem Local

Os C-bonds, títulos da dívida externa brasileira renegociada, despencaram ontem, acompanhando o pessimismo que tomou conta dos mercados internacionais.
Os preços de fechamento caíram de US$ 82,75, na sexta-feira, para menos de US$ 80,25 ontem. Terminaram o dia em US$ 80,63.
Com isso, os juros pagos por esses títulos brasileiros aos investidores internacionais ficaram 5,02 pontos percentuais acima das taxas dos títulos do Tesouro dos EUA. No fechamento da sexta-feira, estavam em 4,76 pontos.
Para hoje, os investidores apostam em um aumento ainda maior nessa diferença entre um juro e outro, uma medida importante de quanto os investidores internacionais estão pedindo para deixar o porto seguro dos títulos do Tesouro dos EUA e apostar no Brasil. É uma fórmula cada vez mais consagrada de medir o chamado "risco Brasil".
Ontem, os juros pagos pelos títulos do Tesouro dos EUA também subiram. No caso dos papéis com vencimento em 30 anos, passaram de 5,95% para 6,05%.
Usando o C-bond como parâmetro, o Brasil ainda não conseguiu recuperar, junto aos investidores internacionais, a credibilidade que possuía antes do início da crise asiática, em outubro.
Antes da crise, a diferença das duas taxas de juros era de cerca de 3,50 pontos percentuais ao ano. No auge da crise, bateu em 8.
Os C-bonds são, de longe, os títulos da dívida externa mais negociados no mundo. Em 97, giraram nada menos do que US$ 649 bilhões, mais do que o segundo, terceiro e quarto colocados juntos.
Investem nesses papéis os fundos mútuos dos EUA, os fundos de "hedge", que giram pelo mundo todo atrás de proteção, e bancos.
Foram principalmente os C-bonds que trouxeram perdas milionárias, com a crise, a muitos bancos estrangeiros e nacionais.
Os bancos nacionais não podem operar diretamente no mercado, mas vários deles atuam por intermédio de suas subsidiárias em paraísos fiscais.
Existem dois tipos de mercados de títulos da dívida. Um deles é o de balcão, que movimenta, por intermédio de telas eletrônicas, lotes de recursos que variam de US$ 2 milhões a US$ 10 milhões.
No outro, mais restrito, as vendas são feitas por telefone. É nesse mercado que os grandes volumes são movimentados. É chamado de "street". Os lotes são, na média, de US$ 50 milhões ou US$ 100 milhões.
Segundo bancos estrangeiros, o mercado de balcão já retomou inteiramente seu patamar de antes da crise asiática. Mas o "street" ainda não. Só agora os bancos começam a se falar por telefone.



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