São Paulo, terça, 28 de abril de 1998

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"Mercado financeiro leva um susto com queda nas Bolsas de Valores

RICARDO GRINBAUM
da Reportagem Local

Investidores e analistas financeiros estão preocupados com a extensão da crise financeira iniciada ontem. A queda no valor das ações nas principais Bolsas de Valores do mundo pode ser um ligeiro ajuste na cotação dos papéis ou o início de uma fase de baixa no mercado financeiro internacional.
"A dúvida é se estamos diante de uma nova crise internacional", diz Florian Bartunek, diretor de renda variável do banco Pactual. As maiores preocupações se concentram na paralisia da economia japonesa e o medo de que haja uma bolha especulativa na Bolsa de Nova York prestes a explodir com violência.
Existem basicamente dois cenários, na avaliação dos especialistas. Na visão otimista, a nova rodada de queda nas Bolsas, abatendo os preços em 6,4% na Itália ou 5% na Holanda, são simples correções de rumo. As Bolsas de Valores estavam com as cotações um pouco infladas e bastaria um corte de 5% a 10% nos preços para recolocar o mercado financeiro em seu eixo.
A avaliação mais pessimista é de que haja uma enorme bolha especulativa nas Bolsas dos Estados Unidos e Europa. O nervosismo de ontem no mercado financeiro estava calçado no medo de que a suposta bolha pudesse ser furada por aumento de juros por parte do Federal Reserve, o banco central norte-americano, em sua próxima reunião marcada para o dia 19 de maio.
Outro medo é que a crise no Japão piore e afete o mercado financeiro internacional. Estão em mãos de japoneses boa parte dos títulos da dívida norte-americana. Se precisarem vender os papéis para fazer caixa, os japoneses abatem a cotação dos títulos, o que elevaria os juros praticados no mercado financeiro e tiraria recursos das Bolsas.
"Era previsível uma correção nos preços, mas ninguém sabia quando ocorreria. Agora, ficou claro que a correção está para ocorrer devido aos problemas nos Estados Unidos e Japão", diz Rodrigo Bresser, do banco Matrix.
Sem saber qual a extensão da nova rodada de queda nas Bolsas, os investidores brasileiros se dividiram. Alguns resolveram vender seus papéis e esperar o tremor financeiro passar, mas outros optaram por aproveitar a oportunidade de fechar bons negócios.
"O preço das ações já estava baixo no Brasil e os principais fundamentos da economia não mudaram. Alguns investidores acharam que a queda de 5% nas cotações deixou os papéis muito baratos e deram ordem de comprar ações", diz Eduardo De La Peña, analista de investimentos do banco Bozano, Simonsen.
As ações brasileiras estão 23,43% mais baratas do que estavam em julho do ano passado, no pico das cotações. Enquanto as cotações se recuperaram nos Estados Unidos e na Europa, no Brasil elas ficaram em marcha lenta. Na queda de ontem, o Brasil também sentiu mais.
"Era previsível que as Bolsas brasileiras caíssem, acompanhando a baixa generalizada internacional. O que causa mais apreensão é o fato de a queda ter sido mais acentuada no Brasil do que a média internacional", diz Luis Stuhlberger, diretor da corretora Hedging-Griffo.



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