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São Paulo, quarta-feira, 28 de maio de 2003

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COMÉRCIO EXTERIOR

Robert Zoellick sinaliza que seu país não tem interesse em iniciar conversações diretas com o Mercosul

EUA querem focar as negociações na Alca

ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O representante de Comércio dos Estados Unidos, Robert Zoellick, sinalizou ontem, em Brasília, que seu país não tem interesse em reiniciar negociações diretas de livre comércio com o Mercosul, como gostaria o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preferindo concentrar esforços nas conversas sobre a Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
Ele disse ainda que os EUA trabalham para concluir as negociações da Alca dentro do prazo previamente acordado -janeiro de 2005. Ponderou, no entanto, que "negociações comerciais são sempre difíceis e não é atípico que os prazos tenham de ser alterados".
Para justificar sua preocupação com o cumprimento do prazo -algo que o Brasil trata de maneira mais flexível-, Zoellick disse que a criação da Alca é importante para ajudar a diminuir as incertezas econômicas que assolam algumas economias latino-americanas.
"Devido à fragilidade da economia mundial e às incertezas em alguns países da América Latina, seria uma boa coisa se pudéssemos avançar esse processo [da Alca]", disse o principal negociador dos Estados Unidos, após seu primeiro encontro em Brasília, com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho.
Zoellick, que chegou a ser chamado por Lula de "sub do sub do sub" no ano passado, durante a campanha eleitoral, terá hoje reunião com o vice-presidente, José Alencar. Sua agenda não previa encontro com Lula, que viaja hoje à tarde para o Rio de Janeiro.
Em junho, Lula se encontra em Washington com o presidente dos EUA, George W. Bush. Um dos temas principais será a Alca.

Negociações "4 + 1"
Anteontem, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, que se encontra hoje com Zoellick, afirmou que o Brasil pretendia "explorar" a possibilidade de um acordo "4 + 1" (entre o Mercosul e os Estados Unidos).
Para o governo Lula, essas negociações seriam uma maneira de conseguir um maior acesso ao mercado norte-americano, sem precisar encarar as dificuldades do processo da Alca.
Questionado sobre o tema, Zoellick respondeu: "O foco principal da minha viagem é tentar ver como o Brasil e os Estados Unidos, como co-presidentes da Alca, podem avançar o processo da própria Alca". No final do ano passado, os dois países assumiram a co-presidência das negociações.
Em agosto de 2001, quando a Argentina negociava um acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional) e passava por crise financeira, o governo dos EUA propôs a retomada das discussões comerciais do "4 + 1", interrompidas havia dez anos.

Retomar discussão
Apesar de apresentado pelos EUA, o assunto não foi adiante porque não houve interesse do governo brasileiro. Foram criados apenas grupos de trabalho sobre temas de interesses comuns, como sistema financeiro e barreiras comerciais.
O governo Lula, porém, quer retomar novamente essa discussão como uma alternativa às negociações da Alca que estão travadas. Um dos objetivos da visita de Zoellick é tentar encontrar uma alternativa para retomar essas discussões.
O governo Lula não está satisfeito com a Alca. Amorim, em diversas ocasiões, tem afirmado que os interesses brasileiros podem não ser atendidos, caso as conversas continuem como estão.
Após a conversa com Palocci, Zoellick se reuniu por cerca de uma hora com o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), líder do governo no Congresso e favorável às negociações no formato "4 + 1".
Mercadante disse que o governo norte-americano "avançou" e "melhorou muito" na sua posição em relação a uma negociação conjunta dos integrantes do Mercosul com os Estados Unidos.


Colaborou Humberto Medina, da Sucursal de Brasília


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