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COMÉRCIO EXTERIOR
Robert Zoellick sinaliza que seu país não tem interesse em iniciar conversações diretas com o Mercosul
EUA querem focar as negociações na Alca
ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O representante de Comércio
dos Estados Unidos, Robert Zoellick, sinalizou ontem, em Brasília,
que seu país não tem interesse em
reiniciar negociações diretas de livre comércio com o Mercosul, como gostaria o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
preferindo concentrar esforços
nas conversas sobre a Alca (Área
de Livre Comércio das Américas).
Ele disse ainda que os EUA trabalham para concluir as negociações da Alca dentro do prazo previamente acordado -janeiro de
2005. Ponderou, no entanto, que
"negociações comerciais são sempre difíceis e não é atípico que os
prazos tenham de ser alterados".
Para justificar sua preocupação
com o cumprimento do prazo
-algo que o Brasil trata de maneira mais flexível-, Zoellick disse que a criação da Alca é importante para ajudar a diminuir as incertezas econômicas que assolam
algumas economias latino-americanas.
"Devido à fragilidade da economia mundial e às incertezas em alguns países da América Latina,
seria uma boa coisa se pudéssemos avançar esse processo [da Alca]", disse o principal negociador
dos Estados Unidos, após seu primeiro encontro em Brasília, com
o ministro da Fazenda, Antonio
Palocci Filho.
Zoellick, que chegou a ser chamado por Lula de "sub do sub do
sub" no ano passado, durante a
campanha eleitoral, terá hoje reunião com o vice-presidente, José
Alencar. Sua agenda não previa
encontro com Lula, que viaja hoje
à tarde para o Rio de Janeiro.
Em junho, Lula se encontra em
Washington com o presidente
dos EUA, George W. Bush. Um
dos temas principais será a Alca.
Negociações "4 + 1"
Anteontem, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim,
que se encontra hoje com Zoellick, afirmou que o Brasil pretendia "explorar" a possibilidade de
um acordo "4 + 1" (entre o Mercosul e os Estados Unidos).
Para o governo Lula, essas negociações seriam uma maneira de
conseguir um maior acesso ao
mercado norte-americano, sem
precisar encarar as dificuldades
do processo da Alca.
Questionado sobre o tema, Zoellick respondeu: "O foco principal
da minha viagem é tentar ver como o Brasil e os Estados Unidos,
como co-presidentes da Alca, podem avançar o processo da própria Alca". No final do ano passado, os dois países assumiram a co-presidência das negociações.
Em agosto de 2001, quando a
Argentina negociava um acordo
com o FMI (Fundo Monetário Internacional) e passava por crise financeira, o governo dos EUA propôs a retomada das discussões comerciais do "4 + 1", interrompidas havia dez anos.
Retomar discussão
Apesar de apresentado pelos
EUA, o assunto não foi adiante
porque não houve interesse do
governo brasileiro. Foram criados
apenas grupos de trabalho sobre
temas de interesses comuns, como sistema financeiro e barreiras
comerciais.
O governo Lula, porém, quer retomar novamente essa discussão
como uma alternativa às negociações da Alca que estão travadas.
Um dos objetivos da visita de
Zoellick é tentar encontrar uma
alternativa para retomar essas
discussões.
O governo Lula não está satisfeito com a Alca. Amorim, em diversas ocasiões, tem afirmado que os
interesses brasileiros podem não
ser atendidos, caso as conversas
continuem como estão.
Após a conversa com Palocci,
Zoellick se reuniu por cerca de
uma hora com o senador Aloizio
Mercadante (PT-SP), líder do governo no Congresso e favorável às
negociações no formato "4 + 1".
Mercadante disse que o governo
norte-americano "avançou" e
"melhorou muito" na sua posição
em relação a uma negociação
conjunta dos integrantes do Mercosul com os Estados Unidos.
Colaborou Humberto Medina,
da Sucursal de Brasília
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