São Paulo, domingo, 28 de maio de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Equipe temeu "estragos irreversíveis"

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Uma dia antes da operação de recompra feita pelo Tesouro, a recompra de títulos públicos de investidores estrangeiros foi tema de reunião do ministro Guido Mantega (Fazenda) com o presidente do BC, Henrique Meirelles. Também participaram Rodrigo Azevedo, diretor de Política Monetária do BC, e Carlos Kawall, secretário do Tesouro.
No encontro, avaliaram-se o cenário externo e os desdobramentos no mercado de títulos da dívida. A partir daí, o Tesouro decidiu que iria garantir a recompra dos papéis para os estrangeiros que quisessem se desfazer dos títulos. Isso evitaria que o preço desabasse.
"Esse era um problema privado, mas o Tesouro agiu corretamente porque, ao dar saída para os estrangeiros que aplicaram nesses títulos, garantiu liquidez a esse mercado e preservou a credibilidade de um instrumento novo", avalia o economista Nathan Blanche.
Foi justamente isso que pesou na decisão do governo. Segundo apurou a Folha, a avaliação feita era que a volatilidade seria momentânea, mas poderia causar "estragos irreversíveis" nesse mercado de títulos com prazo de vencimento mais longo. Portanto, fazia-se necessária uma atenção especial aos estrangeiros.
O problema é que, ao vender os papéis, eles compraram dólares para deixar o Brasil, pressionando o câmbio. Apesar de a cotação da moeda estrangeira ter subido fortemente e despencado no dia seguinte, a avaliação de especialistas era que o BC deveria ter atuado não para reverter o cenário mas para evitar oscilação tão brusca como se viu, o que chegou a ser cogitado após a reunião com Mantega.
Como o país já tem um fluxo forte de moeda estrangeira devido ao crescimento das exportações, a avaliação era que não seria preciso vender dólares e atuar diretamente na formação da taxa de câmbio à vista, mas, sim, negociar contratos especiais de câmbio, conhecidos no jargão financeiro por "swap reverso". Essas operações influenciam as cotações futuras que, indiretamente, interferem no preço do dólar hoje.
"Isso suavizaria os movimentos de mercado sem interferir na tendência", disse Blanche. Para ele, "o batismo da nova equipe econômica foi errado nesse ponto". Mas o BC preferiu ficar fora.


Texto Anterior: Luís Nassif: O MoMA e o Masp
Próximo Texto: País avança, mas segue vulnerável
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.