São Paulo, quarta-feira, 28 de maio de 2008

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análise

Presidente temia perder ativo político

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O temor de perder um ativo político que vitamina sua popularidade e a preocupação em incentivar a produção de biocombustíveis compõem o pano de fundo que levou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a autorizar nova renegociação da dívida vencida dos agricultores.
O ativo político é composto pela combinação de baixa inflação dos últimos anos e pelo aumento da renda das famílias, que elevou o consumo de alimentos, sobretudo dos populares. Com a atual ameaça inflacionária, uma preocupação mundial, Lula aposta no incentivo à produção de alimentos para amenizar a alta dos preços. E assim manter sua popularidade em alta.
A produção de biocombustíveis é uma bandeira internacional de Lula, a qual defenderá na próxima semana na reunião da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), em Roma. Críticos afirmam que as lavouras de biocombustíveis estão tomando terreno destinado ao cultivo de alimentos.
O lobby ruralista é um dos mais ativos do Congresso. Isso vem de longe. Nos dois mandatos de FHC(1995-2002), houve renegociações das dívidas por motivações técnicas e políticas. No primeiro mandato de Lula, também aconteceram renegociações, mas o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, freou concessões exageradas.
Em 28 de junho de 2006, em plena campanha para a reeleição, Lula perdeu Roberto Rodrigues, à época ministro da Agricultura. Palocci já havia deixado o governo três meses antes, mas a equipe econômica não fez concessões pretendidas por Rodrigues, ministro muito identificado com as reivindicações dos ruralistas.
Agora, Lula dá uma bela colher de chá aos agricultores. O presidente toma essa decisão num momento de alta de preço de alimentos e de elevação do lucro do produtor rural.
A medida terá custo para o Tesouro. O ministro Guido Mantega (Fazenda) fez uma conta estranha. Disse que R$ 9 bilhões é o valor do "perdão" que os agricultores poderão ter, mas o custo para os cofres públicos seria de R$ 1,2 bilhão. Discurso esquisito para ministro da Fazenda.


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