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análise
Presidente temia perder ativo político
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O temor de perder um
ativo político que vitamina
sua popularidade e a preocupação em incentivar a
produção de biocombustíveis compõem o pano de
fundo que levou o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva a autorizar nova renegociação da dívida vencida dos agricultores.
O ativo político é composto pela combinação de
baixa inflação dos últimos
anos e pelo aumento da
renda das famílias, que
elevou o consumo de alimentos, sobretudo dos populares. Com a atual
ameaça inflacionária, uma
preocupação mundial, Lula aposta no incentivo à
produção de alimentos para amenizar a alta dos preços. E assim manter sua
popularidade em alta.
A produção de biocombustíveis é uma bandeira
internacional de Lula, a
qual defenderá na próxima semana na reunião da
FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), em
Roma. Críticos afirmam
que as lavouras de biocombustíveis estão tomando terreno destinado
ao cultivo de alimentos.
O lobby ruralista é um
dos mais ativos do Congresso. Isso vem de longe.
Nos dois mandatos de
FHC(1995-2002), houve
renegociações das dívidas
por motivações técnicas e
políticas. No primeiro
mandato de Lula, também
aconteceram renegociações, mas o então ministro
da Fazenda, Antonio Palocci Filho, freou concessões exageradas.
Em 28 de junho de
2006, em plena campanha
para a reeleição, Lula perdeu Roberto Rodrigues, à
época ministro da Agricultura. Palocci já havia deixado o governo três meses
antes, mas a equipe econômica não fez concessões
pretendidas por Rodrigues, ministro muito identificado com as reivindicações dos ruralistas.
Agora, Lula dá uma bela
colher de chá aos agricultores. O presidente toma
essa decisão num momento de alta de preço de alimentos e de elevação do
lucro do produtor rural.
A medida terá custo para o Tesouro. O ministro
Guido Mantega (Fazenda)
fez uma conta estranha.
Disse que R$ 9 bilhões é o
valor do "perdão" que os
agricultores poderão ter,
mas o custo para os cofres
públicos seria de R$ 1,2 bilhão. Discurso esquisito
para ministro da Fazenda.
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