São Paulo, quarta-feira, 28 de maio de 2008

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ANÁLISE

Dívida escancara contraste entre produção e política

Apesar de avanço na produtividade, política agrícola do país ainda é ineficiente

Ações estanques de pastas como a da Agricultura, dos Transportes e do Meio Ambiente elevam custos para produzir no país


MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

A renegociação das dívidas de produtores rurais pode pôr fim a um período cinzento da agricultura brasileira. O país, que já está atingindo alto grau de desenvolvimento na produção agropecuária, ainda vive no passado quando se trata de política agrícola.
O acerto da dívida pode dar fôlego ao produtor e fazer com que haja pressão menor sobre o governo, que pode desenvolver metas agrícolas adequadas ao novo estágio do setor.
Mas a responsabilidade pelos problemas atuais das dívidas não é só do governo. Parte delas veio de secas, perda de preços internacionais em determinados momentos, desvalorização do dólar e, também, de decisões erradas de muitos produtores em períodos de bonança, quando houve obsessão por expansão de áreas e compra de terras e de máquinas -e não pela busca de produtividade.
As medidas de alívio do governo devem ser acompanhadas, no entanto, de mudanças urgentes no que se refere a crédito, seguros e até tributação sobre insumos. Esses pontos já são prioridades do governo, mas ainda de forma incipiente.
Não basta apenas crédito. Agora que o país caminha para uma nova fase econômica, o governo deve pensar o setor agrícola de forma unificada. As ações estanques dos vários ministérios -Agricultura, Transportes, Meio Ambiente e outros- tornam os custos de produção no Brasil bem mais elevados do que no resto do mundo, fazendo com que o produtor nacional perca rentabilidade.
O governo deve fazer o planejamento de safra para pelo menos dois anos, liberando recursos no momento apropriado. Com crédito, o produtor pode decidir a melhor hora de comprar insumos.

Novos mecanismos
Esse crédito deve ser estendido também à comercialização, permitindo aos produtores buscar proteção nos novos mecanismos atuais, inclusive no mercado futuro, o que já ocorre em outros países.
Da parte dos produtores, eles têm de ter consciência de que estão em uma atividade de alto risco, como muitas outras. Ganha-se em um ano e guarda-se para o próximo, que pode não ser tão rentável.
Os últimos anos deram ao produtor uma visão de que só ficam no mercado os que realmente são "do ramo" e buscam redução de custos e elevação de produtividade.
As atitudes pouco éticas de muitos produtores, de não pagar as dívidas no passado, à espera da salvação do governo, diminuíram. Hoje, os próprios produtores estão mais conscientes de que os tempos mudaram.
Há quatro anos, parte dos produtores rompeu contratos de soja porque haviam negociado o produto com valores menores no início da safra, Neste ano, apesar da grande diferença de preços do início da safra dos do período de colheita, foram poucos os casos de rompimento de contratos.
O acerto dessas dívidas vem em boa hora e pode dar fôlego aos produtores. O cenário internacional é de escassez de produtos e indica a manutenção de preços elevados nos próximos anos, embora os custos tenham acompanhado a alta das commodities.
A eficiência deverá fazer parte da agenda de todo produtor a partir de agora. Essa eficiência deve ser tanto na produção como na comercialização. O mercado mundial deixou de ser apenas uma questão de oferta e demanda, mas também de especulação maior.


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