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ANÁLISE
Dívida escancara contraste entre produção e política
Apesar de avanço na produtividade, política agrícola do país ainda é ineficiente
Ações estanques de pastas como a da Agricultura,
dos Transportes e do Meio Ambiente elevam custos
para produzir no país
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
A renegociação das dívidas
de produtores rurais pode pôr
fim a um período cinzento da
agricultura brasileira. O país,
que já está atingindo alto grau
de desenvolvimento na produção agropecuária, ainda vive no
passado quando se trata de política agrícola.
O acerto da dívida pode dar
fôlego ao produtor e fazer com
que haja pressão menor sobre o
governo, que pode desenvolver
metas agrícolas adequadas ao
novo estágio do setor.
Mas a responsabilidade pelos
problemas atuais das dívidas
não é só do governo. Parte delas
veio de secas, perda de preços
internacionais em determinados momentos, desvalorização
do dólar e, também, de decisões
erradas de muitos produtores
em períodos de bonança, quando houve obsessão por expansão de áreas e compra de terras
e de máquinas -e não pela busca de produtividade.
As medidas de alívio do governo devem ser acompanhadas, no entanto, de mudanças
urgentes no que se refere a crédito, seguros e até tributação
sobre insumos. Esses pontos já
são prioridades do governo,
mas ainda de forma incipiente.
Não basta apenas crédito.
Agora que o país caminha para
uma nova fase econômica, o governo deve pensar o setor agrícola de forma unificada. As
ações estanques dos vários ministérios -Agricultura, Transportes, Meio Ambiente e outros- tornam os custos de produção no Brasil bem mais elevados do que no resto do mundo, fazendo com que o produtor
nacional perca rentabilidade.
O governo deve fazer o planejamento de safra para pelo menos dois anos, liberando recursos no momento apropriado.
Com crédito, o produtor pode
decidir a melhor hora de comprar insumos.
Novos mecanismos
Esse crédito deve ser estendido também à comercialização, permitindo aos produtores
buscar proteção nos novos mecanismos atuais, inclusive no
mercado futuro, o que já ocorre
em outros países.
Da parte dos produtores, eles
têm de ter consciência de que
estão em uma atividade de alto
risco, como muitas outras. Ganha-se em um ano e guarda-se
para o próximo, que pode não
ser tão rentável.
Os últimos anos deram ao
produtor uma visão de que só
ficam no mercado os que realmente são "do ramo" e buscam
redução de custos e elevação de
produtividade.
As atitudes pouco éticas de
muitos produtores, de não pagar as dívidas no passado, à espera da salvação do governo, diminuíram. Hoje, os próprios
produtores estão mais conscientes de que os tempos mudaram.
Há quatro anos, parte dos
produtores rompeu contratos
de soja porque haviam negociado o produto com valores menores no início da safra, Neste
ano, apesar da grande diferença
de preços do início da safra dos
do período de colheita, foram
poucos os casos de rompimento de contratos.
O acerto dessas dívidas vem
em boa hora e pode dar fôlego
aos produtores. O cenário internacional é de escassez de
produtos e indica a manutenção de preços elevados nos próximos anos, embora os custos
tenham acompanhado a alta
das commodities.
A eficiência deverá fazer parte da agenda de todo produtor a
partir de agora. Essa eficiência
deve ser tanto na produção como na comercialização. O mercado mundial deixou de ser
apenas uma questão de oferta e
demanda, mas também de especulação maior.
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