São Paulo, sexta-feira, 28 de junho de 2002

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CALMANTE

Banqueiros de fora dizem a Armínio Fraga que tiveram muita perda

Investidor descarta títulos do país

ÉRICA FRAGA
ENVIADA ESPECIAL A LONDRES E PARIS

Se depender dos investidores estrangeiros, os preços de ativos brasileiros, como títulos do governo federal, não vão se recuperar tão cedo. Essa mensagem foi passada ao presidente do Banco Central, Armínio Fraga, na quarta-feira à noite, por presidentes e diretores de importantes bancos internacionais, durante jantar na casa do embaixador Celso Amorim, em Londres.
Segundo a Folha apurou, os investidores presentes ao evento -que representavam as instituições Goldman Sachs, Dresdner, HSBC, Morgan Stanley, Merryll Lynch e Santander- foram unânimes ao afirmar que os ativos brasileiros já se desvalorizaram tanto que seus preços atuais estão extremamente atrativos.
Por outro lado, também apresentaram outro discurso consensual, nada alentador para o Brasil, de que, "infelizmente", não podem entrar no mercado comprando esses papéis agora.
A principal justificativa foi técnica. Essas instituições, que tinham em suas carteiras títulos da dívida brasileira, por exemplo, perderam muito dinheiro quando o valor dos ativos brasileiros começou a despencar.
Cada uma dessas instituições tem um modelo interno de cálculo que estabelece o máximo de perdas que poderão amargar com determinado investimento. Quando esse limite é atingido, os operadores desses bancos têm de automaticamente começar a se desfazer dessas aplicações que estão trazendo grandes prejuízos.
A expressão usada no mercado para definir esse modelo é "valor em risco", da sigla em inglês VAT (value at risk).
Segundo um dos participantes do selecionado jantar na casa do embaixador, os executivos dos bancos argumentaram que, portanto, não podem se expor mais ao Brasil agora para evitar perdas ainda maiores. E só devem voltar a comprar ativos brasileiros depois que seus preços começarem a se recuperar. O que significa que essa esperada recuperação terá de se iniciar no mercado doméstico.

Eleições
As incertezas sobre as eleições foram o tema mais discutido da noite. Os investidores reafirmaram seus temores em relação a uma possível vitória da oposição nas eleições do próximo mês de outubro. Essa foi a justificativa política deles para se manterem afastados do país.
A estratégia de Fraga para tentar mudar, ou pelo menos atenuar, as expectativas ruins dos executivos foi a de voltar a repetir que estaria disposto a continuar no comando do BC, inclusive numa possível administração do PT. A prerrogativa para isso, voltou a insistir Fraga, é que o PT assuma um compromisso claro com a responsabilidade fiscal, o controle da inflação e o respeito aos contratos já firmados. O que mais surpreendeu um dos participantes do jantar foi a tranquilidade de Fraga. "Ele não pareceu um homem muito preocupado", disse.
Apesar dos receios, houve um consenso entre os participantes do jantar de que provavelmente qualquer candidato que vencer saberá reconhecer os ganhos da estabilidade econômica.
Todos concordaram também que as dificuldades enfrentadas pela economia e pelas finanças globais contribuem para a derrocada do mercado brasileiro.
Questionado, no entanto, ontem sobre as possíveis consequências do recente escândalo da empresa norte-americana WorldCom, proprietária da Embratel, para o Brasil, Fraga afirmou que não acredita que o país será afetado em termos macroeconômicos. O presidente do BC -que fazia nova palestra para investidores, desta vez em Paris, organizada pelo banco francês BNP Paribas-disse acreditar que os efeitos negativos ficarão restritos ao mercado financeiro. Fraga ressaltou apenas que esses escândalos servirão para reforçar no Brasil a importância de padrões de governança corporativa.
A platéia era composta, principalmente, por gestores de fundos e gerentes financeiros de empresas, que fizeram muito menos perguntas que os participantes da palestra dada por Armínio há dois dias em Londres.
Antes da apresentação de ontem, Fraga almoçou com um grupo menor de investidores, na residência do embaixador brasileiro em Paris, Marcos de Azambuja. Dentre os investidores, estavam empresários de importantes grupos franceses, como Alston, Lafarge e Peugeot-Citroen. Segundo o próprio presidente do BC, o cenário político é o que mais preocupa esses investidores que, no entanto, teriam reafirmado suas intenções de continuar aplicando no país.



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