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CALMANTE
Banqueiros de fora dizem a Armínio Fraga que tiveram muita perda
Investidor descarta títulos do país
ÉRICA FRAGA
ENVIADA ESPECIAL A LONDRES E PARIS
Se depender dos investidores estrangeiros, os preços de ativos
brasileiros, como títulos do governo federal, não vão se recuperar tão cedo. Essa mensagem foi passada ao presidente do Banco
Central, Armínio Fraga, na quarta-feira à noite, por presidentes e
diretores de importantes bancos
internacionais, durante jantar na
casa do embaixador Celso Amorim, em Londres.
Segundo a Folha apurou, os investidores presentes ao evento
-que representavam as instituições Goldman Sachs, Dresdner,
HSBC, Morgan Stanley, Merryll
Lynch e Santander- foram unânimes ao afirmar que os ativos
brasileiros já se desvalorizaram
tanto que seus preços atuais estão
extremamente atrativos.
Por outro lado, também apresentaram outro discurso consensual, nada alentador para o Brasil,
de que, "infelizmente", não podem entrar no mercado comprando esses papéis agora.
A principal justificativa foi técnica. Essas instituições, que tinham em suas carteiras títulos da
dívida brasileira, por exemplo,
perderam muito dinheiro quando
o valor dos ativos brasileiros começou a despencar.
Cada uma dessas instituições
tem um modelo interno de cálculo que estabelece o máximo de
perdas que poderão amargar com
determinado investimento.
Quando esse limite é atingido, os
operadores desses bancos têm de
automaticamente começar a se
desfazer dessas aplicações que estão trazendo grandes prejuízos.
A expressão usada no mercado
para definir esse modelo é "valor
em risco", da sigla em inglês VAT
(value at risk).
Segundo um dos participantes
do selecionado jantar na casa do
embaixador, os executivos dos
bancos argumentaram que, portanto, não podem se expor mais
ao Brasil agora para evitar perdas
ainda maiores. E só devem voltar
a comprar ativos brasileiros depois que seus preços começarem
a se recuperar. O que significa que
essa esperada recuperação terá de
se iniciar no mercado doméstico.
Eleições
As incertezas sobre as eleições
foram o tema mais discutido da
noite. Os investidores reafirmaram seus temores em relação a
uma possível vitória da oposição
nas eleições do próximo mês de
outubro. Essa foi a justificativa
política deles para se manterem
afastados do país.
A estratégia de Fraga para tentar
mudar, ou pelo menos atenuar, as
expectativas ruins dos executivos
foi a de voltar a repetir que estaria
disposto a continuar no comando
do BC, inclusive numa possível
administração do PT. A prerrogativa para isso, voltou a insistir Fraga, é que o PT assuma um compromisso claro com a responsabilidade fiscal, o controle da inflação e o respeito aos contratos já
firmados. O que mais surpreendeu um dos participantes do jantar foi a tranquilidade de Fraga.
"Ele não pareceu um homem
muito preocupado", disse.
Apesar dos receios, houve um
consenso entre os participantes
do jantar de que provavelmente
qualquer candidato que vencer
saberá reconhecer os ganhos da
estabilidade econômica.
Todos concordaram também
que as dificuldades enfrentadas
pela economia e pelas finanças
globais contribuem para a derrocada do mercado brasileiro.
Questionado, no entanto, ontem sobre as possíveis consequências do recente escândalo da
empresa norte-americana WorldCom, proprietária da Embratel,
para o Brasil, Fraga afirmou que
não acredita que o país será afetado em termos macroeconômicos.
O presidente do BC -que fazia
nova palestra para investidores,
desta vez em Paris, organizada
pelo banco francês BNP Paribas-disse acreditar que os efeitos negativos ficarão restritos ao
mercado financeiro. Fraga ressaltou apenas que esses escândalos
servirão para reforçar no Brasil a
importância de padrões de governança corporativa.
A platéia era composta, principalmente, por gestores de fundos
e gerentes financeiros de empresas, que fizeram muito menos
perguntas que os participantes da
palestra dada por Armínio há
dois dias em Londres.
Antes da apresentação de ontem, Fraga almoçou com um grupo menor de investidores, na residência do embaixador brasileiro
em Paris, Marcos de Azambuja.
Dentre os investidores, estavam
empresários de importantes grupos franceses, como Alston, Lafarge e Peugeot-Citroen. Segundo
o próprio presidente do BC, o cenário político é o que mais preocupa esses investidores que, no entanto, teriam reafirmado suas
intenções de continuar aplicando no país.
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