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São Paulo, sábado, 28 de junho de 2003

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LINHA CRUZADA

Aumento de telefone de uma única vez tem impacto de 0,56 ponto percentual sobre IPCA de 2003, diz BC

Teles racham governo, que "esconde" derrota

JULIANNA SOFIA
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Fracassada a tentativa de parcelar o reajuste das tarifas de telefonia, parte do governo emitiu ontem sinais de que o aumento de uma só vez, como acabou ocorrendo, não é tão ruim assim.
Segundo esse grupo, formado pelos ministros José Dirceu (Casa Civil) e Antonio Palocci Filho (Fazenda), o reajuste escalonado teria efeitos nocivos sobre a meta de inflação de 2004.
Além disso, esses ministros acreditam que a solução acabou preservando contratos e impedindo uma reação negativa de investidores estrangeiros.
Apesar disso, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse que o reajuste das tarifas tem efeito ruim, pois reforçaria a inércia inflacionária. Além de Meirelles, o ministro Miro Teixeira (Comunicações) e o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante, criticaram a Anatel e disseram que o governo vai insistir nas negociações.
Enquanto o governo dava sinais contraditórios, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva preferiu não comentar publicamente o episódio. O governo não vai contestar a decisão da Anatel na Justiça, pois o reajuste não comprometeria a política de combate à inflação.
A avaliação é que o aumento em dose única está restrito à inflação deste ano. O BC estimou ontem que o reajuste vá representar impacto de 0,56 ponto percentual no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) do mês que vem. Até maio, o IPCA acumulava alta de 6,8% neste ano.
Na ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), o BC sinalizou que já abandonou a meta de inflação deste ano (8,5%) e passou a se preocupar com o resultado de 2004, cuja meta central é de 5,5%. Os danos de um reajuste imediato, portanto, seriam menores.
Durante as negociações, o governo insistiu em que as empresas parcelassem o reajuste em pelo menos duas vezes. O reajuste médio imediato para pulso e assinatura residenciais seria de 17%. Mais adiante, haveria outro de aproximadamente 10%. Isso chegaria a 28,75% (reajuste médio com base no IGP-DI acumulado dos últimos 12 meses e previsto nos contratos de concessão).
As empresas de telefonia chegaram a aceitar a proposta, mas exigiam do governo compensações -como redução de metas a serem cumpridas, o que permitiria diminuir investimentos. Como isso não foi aceito pelo Ministério das Comunicações, elas recusaram o parcelamento.

Preocupação
A principal preocupação do governo era com o reajuste da assinatura e do pulso residenciais -itens sem concorrência, que foram os menores. Os demais serviços que sofreram aumento, na avaliação da área econômica, ficam fora do cálculo do IPCA e/ou têm concorrência no mercado.
No começo desta semana, as empresas atenderam pedido do governo para que o adicional de 9% sobre o reajuste médio de 28,75%, previsto em contrato, não fosse aplicado sobre a assinatura e o pulso, o que poderia resultar num aumento de 41,75%. As empresas, então, decidiram aplicar o reajuste maior na habilitação.
O secretário de Direito Econômico, Daniel Goldberg -que participou das negociações com o setor-, considera que a Anatel conseguiu impor uma perda às concessionárias quando estabeleceu um reajuste menor que o previsto para assinatura e pulso residenciais. "A Anatel impôs um tremendo corte na própria carne das empresas", disse. Apesar disso, o reajuste autorizado ficou acima do que o governo gostaria de ter negociado desde o início.
Depois do fracasso das negociações do governo para tentar parcelar o reajuste das tarifas, a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) anunciou anteontem reajuste, válido a partir de julho, de 24,5% para assinatura e pulso na telefonia fixa.
Em sua última ata, o Copom previa que uma alta de 19% teria impacto de 0,5 ponto percentual sobre o IPCA. As estimativas de preços futuros são uma das premissas usadas pelo BC para fixar as taxas de juros -na reunião passada, o Copom decidiu-se por queda de 0,5 ponto na taxa.
"O risco de inércia inflacionária é sempre presente. Espero que a sociedade entenda que o comprometimento deste governo no combate à inflação é sério. De que o BC trabalha para que a inflação convirja para a meta e não pense em nenhuma indexação", disse Meirelles, depois de participar da abertura da reunião brasileira do Fórum Econômico Mundial. "Esse é um aumento pontual, que seja visto assim e não contamine as expectativas de inflação."


Colaboraram Sílvia Mugnatto e Leonardo Souza, da Sucursal de Brasília, e José Alan Dias, da Reportagem Local


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