|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LINHA CRUZADA
Aumento de telefone de uma única vez tem impacto de 0,56 ponto percentual sobre IPCA de 2003, diz BC
Teles racham governo, que "esconde" derrota
JULIANNA SOFIA
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Fracassada a tentativa de parcelar o reajuste das tarifas de telefonia, parte do governo emitiu ontem sinais de que o aumento de
uma só vez, como acabou ocorrendo, não é tão ruim assim.
Segundo esse grupo, formado
pelos ministros José Dirceu (Casa
Civil) e Antonio Palocci Filho (Fazenda), o reajuste escalonado teria efeitos nocivos sobre a meta de
inflação de 2004.
Além disso, esses ministros
acreditam que a solução acabou
preservando contratos e impedindo uma reação negativa de investidores estrangeiros.
Apesar disso, o presidente do
Banco Central, Henrique Meirelles, disse que o reajuste das tarifas
tem efeito ruim, pois reforçaria a
inércia inflacionária. Além de
Meirelles, o ministro Miro Teixeira (Comunicações) e o líder do
governo no Senado, Aloizio Mercadante, criticaram a Anatel e disseram que o governo vai insistir
nas negociações.
Enquanto o governo dava sinais
contraditórios, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva preferiu não
comentar publicamente o episódio. O governo não vai contestar a
decisão da Anatel na Justiça, pois
o reajuste não comprometeria a
política de combate à inflação.
A avaliação é que o aumento em
dose única está restrito à inflação
deste ano. O BC estimou ontem
que o reajuste vá representar impacto de 0,56 ponto percentual no
IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) do mês que vem.
Até maio, o IPCA acumulava alta
de 6,8% neste ano.
Na ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), o BC sinalizou que já abandonou a meta de inflação deste
ano (8,5%) e passou a se preocupar com o resultado de 2004, cuja
meta central é de 5,5%. Os danos
de um reajuste imediato, portanto, seriam menores.
Durante as negociações, o governo insistiu em que as empresas
parcelassem o reajuste em pelo
menos duas vezes. O reajuste médio imediato para pulso e assinatura residenciais seria de 17%.
Mais adiante, haveria outro de
aproximadamente 10%. Isso chegaria a 28,75% (reajuste médio
com base no IGP-DI acumulado
dos últimos 12 meses e previsto
nos contratos de concessão).
As empresas de telefonia chegaram a aceitar a proposta, mas exigiam do governo compensações
-como redução de metas a serem cumpridas, o que permitiria
diminuir investimentos. Como isso não foi aceito pelo Ministério
das Comunicações, elas recusaram o parcelamento.
Preocupação
A principal preocupação do governo era com o reajuste da assinatura e do pulso residenciais
-itens sem concorrência, que foram os menores. Os demais serviços que sofreram aumento, na
avaliação da área econômica, ficam fora do cálculo do IPCA e/ou
têm concorrência no mercado.
No começo desta semana, as
empresas atenderam pedido do
governo para que o adicional de
9% sobre o reajuste médio de
28,75%, previsto em contrato, não
fosse aplicado sobre a assinatura e
o pulso, o que poderia resultar
num aumento de 41,75%. As empresas, então, decidiram aplicar o
reajuste maior na habilitação.
O secretário de Direito Econômico, Daniel Goldberg -que
participou das negociações com o
setor-, considera que a Anatel
conseguiu impor uma perda às
concessionárias quando estabeleceu um reajuste menor que o previsto para assinatura e pulso residenciais. "A Anatel impôs um tremendo corte na própria carne das
empresas", disse. Apesar disso, o
reajuste autorizado ficou acima
do que o governo gostaria de ter
negociado desde o início.
Depois do fracasso das negociações do governo para tentar parcelar o reajuste das tarifas, a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) anunciou anteontem reajuste, válido a partir de julho, de 24,5% para assinatura e
pulso na telefonia fixa.
Em sua última ata, o Copom
previa que uma alta de 19% teria
impacto de 0,5 ponto percentual
sobre o IPCA. As estimativas de
preços futuros são uma das premissas usadas pelo BC para fixar
as taxas de juros -na reunião
passada, o Copom decidiu-se por
queda de 0,5 ponto na taxa.
"O risco de inércia inflacionária
é sempre presente. Espero que a
sociedade entenda que o comprometimento deste governo no
combate à inflação é sério. De que
o BC trabalha para que a inflação
convirja para a meta e não pense
em nenhuma indexação", disse
Meirelles, depois de participar da
abertura da reunião brasileira do
Fórum Econômico Mundial. "Esse é um aumento pontual, que seja visto assim e não contamine as
expectativas de inflação."
Colaboraram Sílvia Mugnatto e
Leonardo Souza, da Sucursal de
Brasília, e José Alan Dias,
da Reportagem Local
Texto Anterior: Painel FC Próximo Texto: Governo não deve ir à Justiça contra reajuste Índice
|