|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LINHA CRUZADA
Lula avalia que acordo da Anatel com empresas foi vantajoso
Governo não deve ir à Justiça contra reajuste
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva deixou ontem o Brasil rumo
à Colômbia com a decisão de que
o governo não questionará na Justiça o reajuste das tarifas de telefonia fixa. A AGU (Advocacia Geral
da União) não será acionada, nem
o governo estimulará ações do
Ministério Público, possibilidade
aventada pelo ministro Miro Teixeira (Comunicações).
Segundo a Folha apurou, Lula
avalia que o acordo da Anatel
(Agência Nacional de Telecomunicações) com as empresas do setor, se não foi o pretendido pelo
governo, foi melhor do que a simples aplicação do contrato feita
em outros anos e não tão ruim
quanto diz Miro.
Em telefonema para Lula, entre
as 20h e 21h de anteontem, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, disse ao presidente que a
reação dura de Miro ao anúncio
do reajuste poderia afugentar investimentos estrangeiros, transmitindo a idéia de quebra de contratos. Palocci disse ainda que o
entendimento entre a Anatel e as
empresas havia sido acompanhado por sua pasta.
Marcos Lisboa, secretário de
Política Econômica da Fazenda,
participou da negociação e a vendeu a Palocci como vantajosa porque a assinatura básica, que sempre teve alta maior, e o pulso subirão 24,5% e 25%. Já a habilitação,
que não entra na conta do IPCA e
é paga somente na compra do telefone, terá reajuste de 41,75%. Na
avaliação da Fazenda, ficou-se
com o menor dos males.
Mais: Palocci e José Dirceu (Casa Civil) ficaram contrariados
com Miro por achar que este induziu Lula a erro, expondo-o desnecessariamente.
Miro telefonou para Lula, anteontem, na hora do almoço, dizendo que o anúncio do reajuste,
feito pelo presidente da Telefônica, Fernando Xavier, feria acordo
com o governo. Segundo Miro,
Lula o autorizou a ser duro.
A Folha conversou ontem com
um ministro e um auxiliar do presidente, que trataram do assunto
com ele antes da viagem à Colômbia. Ambos disseram que Lula
não havia autorizado Miro a usar
o tom incisivo, mas a tentar negociar com a Anatel. Segundo eles,
Lula disse que, no final das contas,
considerava satisfatório o acordo
entre a Anatel e as empresas.
O ministro e o auxiliar dizem
que Miro, quando conversou com
Palocci anteontem sobre o reajuste, afirmou que pegaria bem para
Lula transmitir à população a
idéia de que ele seria contra o reajuste. Daí Miro ter envolvido tanto o presidente no confronto entre a Anatel e as empresas.
Apesar de contrariado com Miro, Lula não pretende fritá-lo ou
demiti-lo. Uma eventual saída dependeria somente da vontade do
ministro, de quem Lula gosta.
É fato que o governo preferia
um aumento parcelado, porque
seria uma medida boa de ser vendida para a opinião pública. Mas
Marcos Lisboa convenceu Palocci, depois de derrotada a proposta
inicial do governo, que seria melhor absorver o reajuste já na inflação deste ano do que deixar
uma parte para 2004.
Conta a favor dessa versão uma
informação que a Folha apurou:
Palocci pediu a Xavier que anunciasse, durante a tarde de anteontem, os números do reajuste que
seria confirmado pela Anatel na
noite do mesmo dia. É uma evidência de que Palocci fechou com
Lisboa e fez questão de sinalizar
isso. Xavier o fez.
Anatel e Miro
Segundo a versão do Planalto,
Miro reagiu duramente ao reajuste por ter se sentido traído pelo
presidente da Anatel, Luiz
Schymura, que não o teria avisado do acerto com as empresas.
Deveria ter havido uma última
reunião entre Miro, a Anatel e os
representantes das empresas, mas
ela não aconteceu. Schymura tocou o acordo, pegando Miro de
surpresa. A relação entre os dois
não é boa. O ministro acha que a
agência tem poder demais.
Para auxiliares, Miro jogou tão
duro, envolvendo Lula, para minar Schymura. Este, porém, demonstrou jogo de cintura, adiando um anúncio até o momento
em que teve o aval de Dirceu para
confirmar os números de Xavier.
Texto Anterior: Linha cruzada: Teles racham governo, que "esconde" derrota Próximo Texto: Para Miro, atitude representa "rendição" da agência às empresas Índice
|