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LUÍS NASSIF
A volta da profecia
Nas colunas anteriores
tentei descrever didaticamente o modelo de política monetária e cambial adotado desde o Plano Real. À medida que o
modelo ia se esfacelando, foi
sendo substituído por um jogo
de slogans mágicos, que não fechavam entre si.
Tome-se uma dessas frases
mágicas, abundantemente
brandida em 1995, desmoralizada de 1999 em diante, mas que
volta como um morto-vivo para
assombrar o país, nas palavras
do chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamiro Lopes, à jornalista Claudia
Safatle, do "Valor".
Está ocorrendo desinvestimento no país, com multinacionais tirando o time e nenhum
centavo de investimento novo
entrando. Ao mesmo tempo, o
Banco Central pratica uma política deliberada de valorizar o
real para reduzir o superávit comercial e voltar a depender de
capitais de risco para fechar as
contas. Qual a explicação de Altamiro? Diz ele que o Brasil estava no primeiro estágio de recuperação dos investimentos externos, que é a volta dos capitais
especulativos. Agora está entrando no segundo, que é a volta do financiamento de prazo
mais longo. Em breve entrará
no terceiro, que é a volta do capital de investimento. Enquanto
isso, o dinheiro continua saindo.
A lógica do bravo Altamiro é
que os capitais de risco funcionariam como batedores, para
ver se o campo está minado. Depois que comprovar que o terreno é seguro, abre-se espaço para
o capital de investimento.
O Brasil tem larga tradição de
investimento externo aqui, multinacionais de todas as partes do
mundo. Só faltava uma GM,
Ford, Wal-Mart precisarem dos
batedores dos fundos de derivativos do Armínio Fraga e do
Ilan e de tantos ex-diretores do
BC para saber se podem investir
no Brasil. O que as multinacionais do setor produtivo querem
é: 1) perspectivas de crescimento
na economia; e 2) um ambiente
de estabilidade cambial.
A partir de 1994, o BC trabalhou para valorizar o real e reduzir o superávit comercial
-os dólares que entram por
meio do comércio exterior. Essa
política deixou o país cada vez
mais dependente desse capital
especulativo, exigindo juros cada vez maiores. O país parou de
crescer, a renda e o consumo
caíram. Matou um dos pressupostos para atrair investimento
externo.
Depois, a dependência externa tornou-se tão elevada que
uma hora explodiu, infligindo
pesados prejuízos ao capital de
investimento -aquele que, segundo o bravo Altamiro, só vai
aonde o capital especulativo for.
Matou o segundo pressuposto
para atração de investimentos.
Onde o capital de investimento se sente mais seguro, em uma
economia que dependa mais ou
dependa menos do capital especulativo? Em qualquer país racional a pergunta seria considerada estúpida, posto que a resposta é óbvia.
Quando o superávit comercial
explodiu para US$ 18 bilhões ao
ano, estava aberto o caminho
para reduzir essa dependência.
Agora se volta à mesma rota de
1995, em cima dos mesmos slogans.
O duro nem é saber que o diretor do Departamento de Economia do BC ainda insiste nessa
profecia. É saber que mudam
ministros da Fazenda e presidentes de BC, mas os erros continuam rigorosamente os mesmos.
E-mail - luisnassif@uol.com.br
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