|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
INVESTIGAÇÃO
Governo francês informou Brasil sobre conta
Maluf tem US$ 1,46 mi em Paris; ex-prefeito diz ter vendido prédios
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
ROBERTO COSSO
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo da França informou
ao Coaf (Conselho de Controle de
Atividades Financeiras) que o ex-prefeito paulistano Paulo Maluf
(PP) possui conta em um banco
francês sediado em Paris, na qual
foi feito um depósito de cerca de
US$ 1,46 milhão (cerca de R$ 4,3
milhões) em abril deste ano.
A assessoria de Maluf admitiu a
existência de uma conta em Paris,
mas em nome de sua mulher,
Sylvia Lutfalla Maluf.
Conforme ofício do presidente
interino do Coaf, Marcos Caramuru de Paiva, ao procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, ao qual a Folha teve acesso,
a conta recebeu um depósito da
Fundação Blackbird, no valor de
US$ 1.455.321,50, em 16 de abril.
Essa fundação, com sede no paraíso fiscal de Liechtenstein, pertence a Flávio Maluf, filho do ex-prefeito.
Segundo o advogado de Maluf,
Ricardo Tosto, os recursos são
provenientes da venda de um terreno com prédios em São Paulo.
O documento enviado ao Coaf
foi elaborado pela unidade de inteligência financeira da França,
que se chama Tracfin (Traitement
du Renseignement et Action contre les Circuits Financiers Clandestins). Os bancos franceses têm
obrigação legal de comunicar à
agência as operações financeiras
que eles consideram suspeitas.
Os órgãos de inteligência financeira dos vários países trocam informações sobre operações que
apresentem indícios de prática de
crimes, entre os quais lavagem de
dinheiro. No Brasil, segundo a lei
nº 9.613/98, que trata de lavagem
de dinheiro, o Coaf tem a obrigação de informar autoridades
competentes, como o Ministério
Público Federal quando vê indícios de ilegalidades.
Os franceses não identificaram
o número da conta do ex-prefeito
nem o banco no qual ele teria conta. A Folha apurou que se trata de
uma agência do banco Crédit
Agricole em Paris.
Outras transferências
O ofício da Coaf afirma ainda
que, segundo o órgão de inteligência da França, o "senhor Paulo
Maluf recebeu, também, transferências da senhora Sylvia Lutfalla
Maluf" de: US$ 73.832,82 em 7 de
janeiro e US$ 116.123,78 em 1º de
abril deste ano. Essas duas transações foram efetuadas por meio do
banco brasileiro BCN (Banco de
Crédito Nacional S.A.). Não foi
especificado no documento em
que conta ou contas foram feitos
esses depósitos.
Sempre segundo o ofício do
Coaf ao Ministério Público, o dinheiro teria as seguintes finalidades prováveis: investimentos
imobiliários na França ou transferências para o Reino Unido, onde
Maluf também teria conta.
De acordo com as autoridades
francesas, um trabalho realizado
pelo órgão de inteligência francês
indicou que a Fundação Blackbird é organizada "segundo as leis
de Liechtenstein" e que mantém
uma conta no Banco Barings, em
Genebra (Suíça).
O Principado de Liechtenstein é
um conhecido paraíso fiscal europeu. As leis desse país permitem
que qualquer pessoa abra uma
empresa ou fundação sem ser
obrigada a se identificar publicamente. Esse tipo de empresa é
chamado de "offshore".
As autoridades da unidade de
inteligência financeira de Liechtenstein não foram localizadas pela reportagem.
O Tracfin disse à Folha que seu
trabalho é sigiloso e que os casos
não podem ser discutidos com
jornalistas.
A conta no banco francês e os
depósitos serão objeto de novas
investigações. Brindeiro recebeu
o ofício do Coaf em 23 de maio e
comunicou o fato à chefe da Procuradoria da República em São
Paulo, Paula Bajer da Costa, no
dia 10 de junho. O procurador que
conduzirá o caso será designado
na semana que vem.
Investigação
O Ministério Público do Estado
de São Paulo e a Procuradoria da
República em São Paulo investigam a existência de movimentações financeiras de Maluf em Jersey, na Suíça e nos EUA.
Na edição de 10 de junho de
2001, a Folha informou que a polícia da ilha de Jersey havia bloqueado cerca de US$ 200 milhões
de aplicações financeiras em nome de Maluf e de familiares. Maluf negou ter dinheiro no exterior.
Texto Anterior: Kirchner reafirma que não cede às exigências do FMI e do mercado Próximo Texto: Outro lado: Advogado diz que a conta pertence a Sylvia Maluf Índice
|