São Paulo, quarta-feira, 28 de julho de 2004

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NEGÓCIO

Nova financeira oferecerá cartões e empréstimos pessoais, mas poderá atuar como banco no futuro, após permissão do BC

Pão de Açúcar e Itaú criam empresa de crédito

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O grupo Pão de Açúcar, maior varejista de alimentos do país, e o banco Itaú, segundo maior banco privado, anunciaram ontem uma parceria para a criação de uma nova empresa que irá explorar a área de crédito bancário. Será a maior associação já firmada no Brasil entre bancos e o varejo. Irá ultrapassar até o Carrefour e a financeira francesa Cetelem, com 4 milhões de clientes hoje.
A empresa Pão de Açúcar, ao lado de diferentes bancos, tem hoje pouco mais de 4,3 milhões de clientes que utilizam serviços e produtos financeiros (como cartões e empréstimos).
A princípio, a nova empresa será uma financeira, mas poderá atuar como banco, segundo permissão a ser solicitada ao Banco Central. O Itaú fornecerá cartões de crédito "private label" (restritos às lojas da rede), cartões com bandeiras de aceitação também fora das lojas, linhas de crédito direto ao consumidor e empréstimo pessoal. O acordo entre as partes terá duração de 20 anos, mas é prorrogável. A operação conjunta passa a valer a partir de janeiro de 2005, afirmou Abílio Diniz, presidente do Conselho de Administração da rede. "O Abílio [Diniz] está mais cauteloso quanto a afirmar isso aqui, mas posso garantir que vamos fazer as vendas da rede aumentarem", disse Roberto Setubal, presidente do Itaú.
Na prática, nessa operação, o Pão de Açúcar não abrirá a carteira. O Itaú desembolsará R$ 455 milhões no processo, dos quais R$ 380 milhões irão para a rede varejista pela exploração dos pontos (as lojas da rede devem ter postos de atendimento do Itaú).
Outros R$ 75 milhões serão empregados pelo banco como aporte inicial na nova empresa.
O Pão de Açúcar entra com outros R$ 75 milhões. Não irá, entretanto, colocar a mão no bolso para isso. Dos R$ 380 milhões a serem pagos pelo Itaú ao Pão de Açúcar, R$ 152,5 milhões vão para o caixa da loja neste momento. E, dentro desse valor, o grupo irá separar R$ 75 milhões para completar o aporte inicial.
Nessa conta, dos R$ 380 milhões, outros R$ 152,5 milhões serão liberados posteriormente à rede. "Isso ficará vinculado ao cumprimento de metas da nova empresa em cinco anos. Se forem alcançadas, o recurso é liberado", diz Fernando Tracanella, diretor de relações com investidores da rede de supermercados.
Todos os acordos para fornecimento de cartões firmados anteriormente pela rede com o ABN Amro Bank e o Fininvest (Unibanco) serão cancelados. A rede terá de rever os acordos neste ano e iniciará negociações para isso.

Renda
A operação dá ao Itaú o direito de explorar uma base de consumidores de diferentes extratos sociais que visitam as lojas diariamente. São 40 milhões de tíquetes (operações de venda) por mês nas lojas da rede (Barateiro, Extra, Pão de Açúcar, Eletro e Sendas). "O Itaú vai ter acesso direto àquele cliente de baixa renda que o banco não conseguiu atingir até agora com as suas operações", diz Álvaro Musa, sócio da consultoria Partner. "É um filão e tanto."
O Pão de Açúcar, por sua vez, tenta unificar suas operações na área financeira. "Parecia uma colcha de retalhos. Eles tinham operações com diversos bancos e não viam essa área de serviços bancários como estratégica", diz Musa.


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