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LUÍS NASSIF
A indústria da música brasileira
Produto brasileiro de maior
penetração internacional,
único com acesso às redes globais
de distribuição e à grande mídia
global, a música popular brasileira ainda padece da ausência de
uma política de desenvolvimento
adequada.
O tema precisa ser tratado do
ângulo estritamente econômico.
Não é papel do Estado selecionar
o que é ou não é música a ser
apoiada, mas definir o marco de
um ambiente microeconômico
favorável, que permita o florescimento de uma indústria musical
competitiva.
As vantagens competitivas da
música brasileira são evidentes.
Tem-se o maior e o melhor estoque de músicos instrumentais do
planeta, um contingente apreciável de compositores e de composições -tanto contemporâneas como de outros tempos-, uma variedade incomparável de ritmos,
da música regional ao pop, arranjadores de primeira, cantores
e cantoras de nível, vários popstars de projeção internacional.
Mais: com o advento da música
digital, há uma produção independente sem paralelo com outros períodos. Hoje em dia, há
milhares de músicos produzindo
seus próprios CDs com qualidade
digital, estúdios espalhados por
todo o país.
O sapato pega em duas áreas:
na produção propriamente dita
(o que se poderia chamar de embalagem, design e promoção) e
na distribuição.
No caso da produção, ainda
existe bastante amadorismo na
MPB: capas descuidadas e pouca
preocupação em saber o que o
público quer -em cima do falso
purismo de "não fazer concessões
ao mercado". Mas a comercialização é o ponto central a impedir
a modernização e o crescimento
do mercado da música popular.
O mercado interno brasileiro se
escora em três pilares básicos: indústria fonográfica, sistema de
radiodifusão e roteiro de shows.
Em geral, lança-se o disco, o sistema de radiodifusão divulga, alavancando as vendas e, depois delas, os shows.
Esse modelo esbarra em alguns
pontos complexos -que dependem exclusivamente do governo
para serem corrigidos. O primeiro, a questão do direito autoral,
um sistema pouco transparente.
O segundo -e mais sério-, a
indústria dos jabás (os pagamentos efetuados a emissoras para a
divulgação de discos de gravadoras).
Investir em novos nomes, planejar lançamentos nacionais e
internacionais e atacar nichos de
mercado -tudo isso exige planejamento estratégico, capacidade
de enfrentar riscos, produtores
ousados e criativos, como os de
outros tempos.
O jabá acabou com essa capacidade de inovação, burocratizou
as grandes gravadoras, sufocou
as independentes. O trabalho
desses campeões da burocracia
consiste em apostar naquilo que
deu certo em outra gravadora e
irrigar as emissoras com jabás.
Cria-se uma atividade sem risco
e sem oportunidades. Ou se criminaliza definitivamente essa
prática -já que configura crime
de direito econômico- ou não se
romperá o círculo vicioso que
emperra a música brasileira.
O passo seguinte consiste em
identificar o que é o mercado de
distribuição, tanto interna como
externamente. Para mim, um
bom trabalho setorial do BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) sobre
a cadeia produtiva da música
traria mais benefícios do que
qualquer lei de incentivo fiscal.
Ajudaria a esclarecer os investidores, a identificar as oportunidades de negócio, a atrair novas
empresas para a área, rompendo
o monopólio das grandes gravadoras. Especialmente agora que
as novas formas de distribuição
digital abrem perspectivas antes
jamais imaginadas.
O outro passo seria a organização da informação sobre a rede
de casas de espetáculos existentes
em todo o país, de forma a facilitar o contato dos produtores independentes.
O momento é propício porque
há um contingente apreciável de
grandes artistas soltos por aí, pela falta de interesse das grandes
gravadoras em investir nessa área.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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