São Paulo, quarta-feira, 28 de agosto de 2002

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COMENTÁRIO

Dados sobre desemprego conflitam com crise

DA REPORTAGEM LOCAL

A crise que convulsiona o mercado financeiro e alimenta as altas do dólar ainda não afetou o mercado de trabalho. Pelo contrário, os dados sugerem que, apesar da turbulência, há alguma melhora.
Os indicadores econômicos faziam crer que o segundo semestre traria uma onda de demissões e de corte de salários. Afinal a economia se desacelerou, os investimentos deveriam ficar em compasso de espera e a instabilidade deve permanecer, no mínimo, até que as eleições terminem.
Não foi isso que aconteceu nos últimos meses. As taxas de desemprego continuam altas e os salários estão menores do que os registrados no ano passado, mas a ocupação, ou seja, o número de vagas disponíveis, aumentou.
Subiu também o número de pessoas não ocupadas, ou seja, aquelas que entram no mercado de trabalho à procura de emprego. Parte desse aumento ocorre porque pessoas que antes haviam desistido de procurar emprego voltam ao mercado.
O aumento do número de pessoas procurando trabalho pode fazer a taxa de desemprego subir -há mais pessoas para o mesmo número de vagas-, mas é um bom sinal, já que é razoável imaginar que os trabalhadores voltam ao mercado quando avaliam que as chances de arranjar um emprego são melhores.
Ainda é cedo para explicar essa discrepância entre os indicadores econômicos: de um lado, juros altos, baixo crescimento e crise externa, de outro, taxa de desemprego em queda.
Claro, as quedas ainda não são expressivas e o desemprego pode voltar a crescer nos próximos meses. Nesse caso, a explicação estaria na defasagem entre a crise financeira e os seus efeitos na economia real: primeiro o dólar sobe, as empresas esperam para tomar decisões, mantém seus planos e só depois se ajustam.
Mas a queda no desemprego pode significar também que o impacto da crise não tem sido tão forte. Como a indústria foi responsável pelo maior número de contratações, segundo o Dieese, a alta no emprego sugere que os empresários do setor começaram a se preparar para atender às encomendas de final de ano. Um movimento que teria começado antes em anos sem crises.
A alta do dólar pode também incentivar o aumento da produção em alguns setores industriais, aumentando a oferta de emprego. Algumas indústrias passam a exportar mais, outras recebem mais pedidos de clientes que estão tentando substituir as matérias-primas importadas por produtos nacionais. Em ambos os casos, o resultado é a manutenção ou aumento do nível de produção, mesmo em meio à crise.
(MARCELO BILLI)


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