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A INCRÍVEL CONTA QUE ENCOLHEU
Déficit nominal entre janeiro e agosto deste ano passou de 7,15% para 2,41% do PIB
BC muda regras e corta o déficit público
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O déficit público acumulado
neste ano caiu R$ 37,14 bilhões,
graças a uma mudança nos critérios usados pelo Banco Central
para calcular o impacto da variação das cotações do dólar nas
contas do governo.
Com as modificações, o déficit
nominal (diferença entre receitas
e despesas do governo, incluindo
os gastos com juros) acumulado
entre janeiro e agosto deste ano
passou de R$ 56,20 bilhões (7,15%
do PIB) para R$ 19,06 bilhões
(2,41% do PIB).
A queda de R$ 37,14 bilhões no
déficit nominal chega a superar o
superávit primário (receitas menos despesas do governo, exceto
gastos com juros) de R$ 36,8 bilhões obtido pelo setor público
entre janeiro e agosto.
Com esse resultado primário, o
país praticamente garantiu, antecipadamente, o cumprimento da
meta acertada com o FMI (Fundo
Monetário Internacional). O
acordo com o Fundo prevê a obtenção de superávit de R$ 34,4 bilhões até setembro.
No final do mês passado, o BC já
havia anunciado a redução de
mais de US$ 30 bilhões na dívida
externa por causa, em parte, de
mudança na metodologia no cálculo do endividamento do país no
exterior.
Duas metodologias
A partir deste mês, o BC passou
a considerar o efeito do câmbio
apenas sobre as parcelas da dívida
que são efetivamente pagas em
determinado período. Antes, a
variação do dólar afetava todo o
estoque da dívida pública, o que
fazia com que o déficit nominal
fosse maior.
A mudança foi anunciada na semana passada, mas os novos números só foram divulgados ontem. De acordo com o BC, a mudança conta com o aval do FMI e
tem por objetivo adequar as estatísticas brasileiras aos padrões internacionais.
O BC continuará a divulgar o
déficit nominal segundo as duas
metodologias, mas, como disse o
chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, o número que desconsidera o efeito
do câmbio será "o oficial" de agora em diante.
O BC sempre divulgou as contas
do governo segundo as duas metodologias. No início deste ano,
porém, passou a divulgar apenas
um resumo do resultado apurado
sem considerar a desvalorização
cambial e passou a dar mais ênfase no critério que, agora, deixou
de ser usado.
O argumento era que, com a estabilidade do câmbio, tornara-se
desnecessário continuar divulgando, com detalhes, os números
obtidos pelos dois critérios.
Cálculo mantido
Lopes ressaltou que, mesmo
com a mudança no cálculo, o efeito da desvalorização do real continuará a ser percebido nos números referentes à dívida pública,
que continuará a ser calculada da
mesma maneira.
No mês passado, a dívida líquida do setor público (governo federal, Estados, municípios e estatais) representava o equivalente a
53,7% do PIB (Produto Interno
Bruto). Em julho, essa proporção
estava em 52,6% (de julho para
agosto houve alta de 1,1 ponto
percentual).
O aumento da dívida foi causado justamente pela alta de 4,95%
registrada pelo dólar em agosto.
Entre um mês e outro, a valorização da moeda foi responsável pelo
aumento de R$ 11,4 bilhões no endividamento do setor público. No
total, a dívida passou de R$ 641,29
bilhões para R$ 658,28 bilhões entre julho e agosto.
Segundo Lopes, a expectativa
do BC é que a relação entre dívida
e PIB fique "um pouco acima" de
54%. Em dezembro de 2000, essa
proporção estava em 49,3%.
A alta do dólar tem grande impacto sobre o endividamento
porque, combinados, compromissos externos e internos atrelados ao câmbio representam
46,7% da dívida total.
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