|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FORA DO ALVO
Alta do dólar, energia e combustíveis deve pressionar os preços
Inflação de 2002 poderá
superar meta, admite BC
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco Central projetou, pela
primeira vez, inflação para 2002
acima da meta central prevista
para o ano, de 3,5%. A elevação da
estimativa de inflação foi atribuída pelo BC à trajetória (de alta) do
dólar, da energia elétrica e dos
combustíveis. Se a inflação ficar
dois pontos percentuais acima ou
abaixo, a meta terá sido cumprida.
Na ata referente à reunião do
Copom (Comitê de Política Monetária) da semana passada, divulgada ontem, o BC informou
que os choques que afetam a economia brasileira neste ano ainda
terão reflexos sobre a inflação no
próximo ano.
O BC admitiu que, se a cotação
da moeda americana permanecesse pressionada, haveria "riscos
de ocorrerem repasses [em 2002"
para os preços domésticos da depreciação recente da taxa de câmbio".
De acordo com o ata, as projeções (do BC) indicam inflação para 2002 "pouco acima de 3,5%".
Para prevenir o contágio da alta
do dólar sobre os preços, o BC
preferiu não baixar os juros básicos da economia neste mês. A instituição considerou que a taxa vigente (19% ao ano) é adequada
para controlar a trajetória dos
preços.
Armínio Fraga, presidente do
BC, já havia admitido que a inflação ultrapassaria o limite estabelecido para este ano, de 6% (4%
com margem de dois pontos percentuais).
No relatório de inflação de junho, o BC estimava que a inflação
em 2002 seria de 3%, com a taxa
básica de juros permanecendo
nos 18,5% anuais, conforme era
naquele mês.
Tolerância
Ainda que as projeções apontem para inflação dentro da margem de tolerância de dois pontos
percentuais, as estimativas para
2002 são um sinal desfavorável
para a política monetária conduzida pelo BC.
De certa forma, o BC admite isso na ata. Informa o texto: "Observe-se que a projeção da inflação dos preços de mercado, sobre
a qual a política monetária tem
maior impacto, permanece significativamente abaixo de 3,5%".
Ou seja, o efeito que o BC poderia obter com o aumento de juros
(seu principal instrumento de política monetária) ele já conseguiu,
que foi conter pressões sobre os
chamados preços competitivos,
que são dados de acordo com as
condições de mercado.
Mesmo assim, a inflação tende a
continuar a subir no próximo
ano, pois os itens que mais têm
aumentado são os preços administrados e produtos cotados em
dólar, justamente aqueles que o
BC não consegue controlar por
meio de política monetária.
A inflação medida pelo IPCA
(Índice de Preços ao Consumidor
Amplo) ficou em 5,06% no acumulado até agosto. Desse total,
2,30 pontos foram somente dos
preços administrados (tarifas públicas e combustíveis, por exemplo). Os demais preços contribuíram com os outros 2,76% na inflação registrada no período.
A baixa elevação dos preços de
mercado pode ser atribuída à redução do consumo, o que dificulta o aumento de preços.
O BC reconhece o impacto da
política monetária no desaquecimento da economia. Segundo a
ata, "a queda da demanda pode
ser explicada pela piora do cenário externo, pelos reflexos nas expectativas da crise energética e
pela postura restritiva adotada
pela política monetária".
O BC espera, contudo, que a
economia "cresça moderadamente no ano [de 2001].
Texto Anterior: Luís Nassif: A estratégia de Sergio Amaral Próximo Texto: Taxas do IGP-M e da Fipe mantêm recuos Índice
|