São Paulo, sexta-feira, 28 de setembro de 2001

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FORA DO ALVO

Alta do dólar, energia e combustíveis deve pressionar os preços

Inflação de 2002 poderá superar meta, admite BC

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central projetou, pela primeira vez, inflação para 2002 acima da meta central prevista para o ano, de 3,5%. A elevação da estimativa de inflação foi atribuída pelo BC à trajetória (de alta) do dólar, da energia elétrica e dos combustíveis. Se a inflação ficar dois pontos percentuais acima ou abaixo, a meta terá sido cumprida.
Na ata referente à reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) da semana passada, divulgada ontem, o BC informou que os choques que afetam a economia brasileira neste ano ainda terão reflexos sobre a inflação no próximo ano.
O BC admitiu que, se a cotação da moeda americana permanecesse pressionada, haveria "riscos de ocorrerem repasses [em 2002" para os preços domésticos da depreciação recente da taxa de câmbio".
De acordo com o ata, as projeções (do BC) indicam inflação para 2002 "pouco acima de 3,5%".
Para prevenir o contágio da alta do dólar sobre os preços, o BC preferiu não baixar os juros básicos da economia neste mês. A instituição considerou que a taxa vigente (19% ao ano) é adequada para controlar a trajetória dos preços.
Armínio Fraga, presidente do BC, já havia admitido que a inflação ultrapassaria o limite estabelecido para este ano, de 6% (4% com margem de dois pontos percentuais).
No relatório de inflação de junho, o BC estimava que a inflação em 2002 seria de 3%, com a taxa básica de juros permanecendo nos 18,5% anuais, conforme era naquele mês.

Tolerância
Ainda que as projeções apontem para inflação dentro da margem de tolerância de dois pontos percentuais, as estimativas para 2002 são um sinal desfavorável para a política monetária conduzida pelo BC.
De certa forma, o BC admite isso na ata. Informa o texto: "Observe-se que a projeção da inflação dos preços de mercado, sobre a qual a política monetária tem maior impacto, permanece significativamente abaixo de 3,5%".
Ou seja, o efeito que o BC poderia obter com o aumento de juros (seu principal instrumento de política monetária) ele já conseguiu, que foi conter pressões sobre os chamados preços competitivos, que são dados de acordo com as condições de mercado.
Mesmo assim, a inflação tende a continuar a subir no próximo ano, pois os itens que mais têm aumentado são os preços administrados e produtos cotados em dólar, justamente aqueles que o BC não consegue controlar por meio de política monetária.
A inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) ficou em 5,06% no acumulado até agosto. Desse total, 2,30 pontos foram somente dos preços administrados (tarifas públicas e combustíveis, por exemplo). Os demais preços contribuíram com os outros 2,76% na inflação registrada no período.
A baixa elevação dos preços de mercado pode ser atribuída à redução do consumo, o que dificulta o aumento de preços.
O BC reconhece o impacto da política monetária no desaquecimento da economia. Segundo a ata, "a queda da demanda pode ser explicada pela piora do cenário externo, pelos reflexos nas expectativas da crise energética e pela postura restritiva adotada pela política monetária".
O BC espera, contudo, que a economia "cresça moderadamente no ano [de 2001].



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