São Paulo, sábado, 28 de setembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Banco rebaixa classificação do país

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

Como parte do efeito cascata que a desvalorização do real vem causando nas avaliações das corretoras de valores e dos bancos estrangeiros, ontem foi a vez de o Goldman Sachs rebaixar sua recomendação para a compra de títulos da dívida externa brasileira.
Em relatório reservado distribuído a seus clientes, o banco de investimentos norte-americano reduziu sua recomendação de "marketweight" (dentro do valor de mercado) para "underweight" (abaixo do valor de mercado). O motivo alegado é o de sempre: a possibilidade de vitória de Lula nas eleições presidenciais.
Ao justificar o rebaixamento, a empresa norte-americana vai além e arrisca, pela primeira vez, uma porcentagem: de acordo com o Goldman Sachs, a probabilidade de Lula ser o próximo presidente brasileiro é de 55%. "Tal resultado deve ser associado a um teste imediato do presidente pelo mercado financeiro", diz o banco.
Para os economistas, que escreveram que a nova recomendação está valendo desde a última terça-feira, "a queda nos mercados brasileiros seria particularmente severa se Lula demorar a designar um ministério forte e não anunciar políticas críveis imediatamente após a eleição".
Se isso acontecer, afirma o banco, há o risco de o FMI (Fundo Monetário Internacional) não concluir sua primeira revisão do acordo de auxílio financeiro, "piorando a crise financeira".
A corretora de valores Merrill Lynch tomou a mesma decisão na quarta-feira, rebaixando a avaliação dos bônus do Brasil em seu portfólio de títulos da dívida de mercados emergentes e também citando a liderança de Lula.
No mesmo dia, o Goldman Sachs havia reduzido sua recomendação para o Bradesco, Itaú e Unibanco, também apontando uma possível vitória de Lula como um "aumento significativo dos riscos para esses bancos".
Ontem ainda, analistas da agência classificadora de riscos Standard & Poor's disseram que a dívida externa do Brasil "não é insustentável", apesar de terem afirmado que manterão a classificação do país como "B+" com perspectiva negativa, melhor por exemplo do que a do Senegal, que tem a mesma letra e o mesmo sinal mas é considerado "estável".
"O Brasil é capaz de cumprir suas obrigações com dívidas no médio prazo, mas pode precisar de mais dinheiro do FMI se seus mercados financeiros continuarem piorando", disse a analista Jane Eddy, da agência.
Para David Beers, especialista-chefe em dívida soberana da S&P, "se os mercados seguirem com esse fraco desempenho após as eleições, o FMI será pressionado a dar financiamentos adicionais".


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Mesmo com crise, BNDES deve emprestar R$ 30 bi
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.