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Banco rebaixa classificação do país
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
Como parte do efeito cascata
que a desvalorização do real vem
causando nas avaliações das corretoras de valores e dos bancos estrangeiros, ontem foi a vez de o
Goldman Sachs rebaixar sua recomendação para a compra de títulos da dívida externa brasileira.
Em relatório reservado distribuído a seus clientes, o banco de
investimentos norte-americano
reduziu sua recomendação de
"marketweight" (dentro do valor
de mercado) para "underweight"
(abaixo do valor de mercado). O
motivo alegado é o de sempre: a
possibilidade de vitória de Lula
nas eleições presidenciais.
Ao justificar o rebaixamento, a
empresa norte-americana vai
além e arrisca, pela primeira vez,
uma porcentagem: de acordo
com o Goldman Sachs, a probabilidade de Lula ser o próximo presidente brasileiro é de 55%. "Tal
resultado deve ser associado a um
teste imediato do presidente pelo
mercado financeiro", diz o banco.
Para os economistas, que escreveram que a nova recomendação
está valendo desde a última terça-feira, "a queda nos mercados brasileiros seria particularmente severa se Lula demorar a designar
um ministério forte e não anunciar políticas críveis imediatamente após a eleição".
Se isso acontecer, afirma o banco, há o risco de o FMI (Fundo
Monetário Internacional) não
concluir sua primeira revisão do
acordo de auxílio financeiro,
"piorando a crise financeira".
A corretora de valores Merrill
Lynch tomou a mesma decisão na
quarta-feira, rebaixando a avaliação dos bônus do Brasil em seu
portfólio de títulos da dívida de
mercados emergentes e também
citando a liderança de Lula.
No mesmo dia, o Goldman
Sachs havia reduzido sua recomendação para o Bradesco, Itaú e
Unibanco, também apontando
uma possível vitória de Lula como
um "aumento significativo dos
riscos para esses bancos".
Ontem ainda, analistas da agência classificadora de riscos Standard & Poor's disseram que a dívida externa do Brasil "não é insustentável", apesar de terem afirmado que manterão a classificação do país como "B+" com perspectiva negativa, melhor por
exemplo do que a do Senegal, que
tem a mesma letra e o mesmo sinal mas é considerado "estável".
"O Brasil é capaz de cumprir
suas obrigações com dívidas no
médio prazo, mas pode precisar
de mais dinheiro do FMI se seus
mercados financeiros continuarem piorando", disse a analista Jane Eddy, da agência.
Para David Beers, especialista-chefe em dívida soberana da S&P,
"se os mercados seguirem com
esse fraco desempenho após as
eleições, o FMI será pressionado a
dar financiamentos adicionais".
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