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ARTIGO
Se o G-7 é a esperança, o mundo que se prepare para o abismo
GERARD BAKER
DO "FINANCIAL TIMES"
Há muitas razões para questionarmos o discernimento
dos manifestantes que vão tentar
atrapalhar as reuniões do FMI,
Banco Mundial e G-7 neste fim de
semana. Mas a mais importante é
que eles parecem agir movidos
pela ilusão de que as pessoas que
vão se reunir em Washington têm
o desejo de controlar a atividade
econômica global -ou, o que é
menos provável ainda, que elas
tenham a capacidade para isso.
O verdadeiro motivo pelo qual
os cidadãos preocupados com a
situação mundial deveriam sair às
ruas não é que os principais responsáveis por traçar as políticas
econômicas mundiais tenham
planos malvados para manipular
o planeta. Pelo contrário: é que,
mesmo com o crescimento econômico cada vez mais lento, quase parando, os mercados financeiros mergulhando até profundezas
não vistas nos últimos seis anos e
a confiança de empresas e consumidores diminuindo a olhos vistos, eles estão deixando transparecer que não têm nada a propor
em termos de planos.
É claro que se pode esperar demais dos planejadores econômicos. No final, os esquemas grandiosos pensados mesmo pelos
mais poderosos governantes raramente se seguram diante dos
bilhões de decisões individuais
tomadas diariamente nos mercados. Mesmo assim, em tempos
problemáticos, uma boa política
pode ajudar, pelo menos marginalmente, enquanto uma política
ruim pode causar ainda mais prejuízo. E um olhar rápido lançado
sobre a performance e as perspectivas do G-7 é desanimador. Se é
esse o comitê encarregado de salvar o mundo, o mundo pode ir se
preparando para cair no abismo.
Japão
Em ordem descendente de incompetência, comecemos pelo
Japão. É preciso dar o troféu aos
japoneses. Cada vez que se tem a
impressão de que a política econômica daquele país malfadado
não poderia piorar, ela piora. Na
semana passada, o Banco do Japão anunciou seu mais recente
plano "astuto" para arrancar a
economia da recessão em que está
atolada há uma década. Disse que
compraria títulos de dívidas dos
balancetes dos bancos confrontados com uma base de capital cada
vez menor, em razão da agonia
prolongada dos mercados de
ações japoneses.
Em nenhum momento pareceu
provável que o plano pudesse decolar; longe de oferecer uma solução para o problema fundamental
dos empréstimos que os bancos
fizeram e que não têm esperanças
de recuperar, o BC japonês oferecia mais uma maneira de os bancos evitarem tratar o problema de
frente. E os danos que poderia
causar ao balancete do próprio
banco central eram assustadores.
Dito e feito. O Banco do Japão
agora está dizendo que a proposta
não foi feita a sério, mas só a título
de terapia de choque, para obrigar
o governo a tomar medidas agressivas quanto ao problema das dívidas podres. Em outras palavras:
após passar dez anos reorganizando as cadeiras no convés do
Titanic, os responsáveis por traçar as políticas seguidas pela segunda maior economia mundial,
agora, quando o iceberg aparece
cada vez maior, se vêem reduzidos a discutir a direção em que as
cadeiras devem ser posicionadas
e quem deve colocá-las no lugar.
Europa
Temos, também, o caso da Europa. É verdade que Gerhard
Schröder jogou com o fator antiamericano para conseguir uma vitória vinda de trás nas eleições
alemãs e é compreensível que a
administração americana esteja
chateada com ele. Mas o ressentimento da administração Bush
diante do discurso de Schröder
deixa de levar em conta o mais
importante: o verdadeiro motivo
de preocupação é que a reeleição
de Schröder quase certamente
condena a Alemanha a mais anos
de mercados trabalhistas rígidos,
um ambiente regulamentador sufocante, horrores fiscais de longo
prazo e estagnação econômica.
Isso não quer dizer que Edmund Stoiber teria necessariamente representado uma mudança radical; na maioria das questões, as políticas advogadas pela
democracia cristã não oferecem
soluções melhores do que aquelas
defendidas pelos social-democratas. O que nos obriga a parar para
pensar é que o voto representou
uma reafirmação popular do status quo, num país que está se convertendo no Japão da Europa.
Uma situação que gera prisão
de ventre na maior economia da
Europa poderia não fazer muita
diferença para o mundo se as políticas fiscal e monetária européias
estivessem agindo como lubrificantes. Mas o pacto de estabilidade e crescimento da União Européia, muito inflexível demais
quando criado, está começando a
se desfazer. Enquanto isso, o BCE
(Banco Central Europeu) continua determinado a travar a guerra
derradeira. À medida que o crescimento europeu diminui, o BCE
continua a preocupar-se com os
riscos da inflação (alguém se lembra dela? Estava alta nos anos 70 e
80).
EUA
E isso nos conduz até os EUA.
Para sermos justos, os planejadores econômicos de Washington
têm feito uso da política econômica de maneira mais agressiva,
com vistas a fazer a economia, em
ponto morto, ""pegar". É especialmente verdade no front monetário; o estímulo fiscal do ano passado foi, na melhor das hipóteses,
um acidente de sorte. Mas a credibilidade dos líderes econômicos
dos EUA está sendo questionada
de uma maneira que não se vê há
anos. As viagens de Paul O'Neill
-homem que tende a sofrer acidentes diversos- pela selva dos
mercados internacionais não ajudaram em nada a gerar um clima
de confiança na política econômica americana. E, no Fed, a reputação antes cristalina de Alan
Greenspan está começando a se
turvar um pouco. A atitude defensiva que ele adotou recentemente
quanto à política seguida pelo Fed
durante os excessos dos mercados acionários no final dos anos
90 e a incerteza quanto à possibilidade de estímulos monetários,
mesmo agressivos, conseguirem
reanimar a economia pós-bolha,
tudo isso faz com que as avaliações da eficiência de Greenspan
sejam, necessariamente, expressas em termos condicionais.
Mesmo que seja possível restaurar a credibilidade americana, os
esforços dos planejadores econômicos ficarão em segundo plano,
por algum tempo, diante dos tambores de guerra que estão sendo
tocados por outros setores de
Washington, mais influentes. Incerteza cada vez maior nos EUA,
indiferença do BCE, estagnação
crônica na Alemanha e paralisia
cheia de discussões menores no
Japão. Essas seriam coisas que os
manifestantes neste final de semana fariam bem em criticar.
Tradução de Clara Allain
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