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São Paulo, domingo, 28 de setembro de 2003

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MIL E UM RECURSOS

Países tinham cerca de US$ 300 bi aplicados nos EUA, mas os tiraram sob o temor de confisco de bens

Lula quer atrair investimentos de árabes

Moacyr Lopes Jr./ Folha Imagem
O presidente Lula, que tentará atrair recursos de países como Arábia Saudita


GABRIELA ATHIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo brasileiro quer se credenciar para receber pelo menos uma parte dos US$ 300 bilhões que os países árabes, especialmente Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita, retiraram dos Estados Unidos após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.
A redução dos investimentos de países árabes nos Estados Unidos foi detectada por monitoramento feito pelo Itamaraty. O dinheiro estava empregado em vários setores, mas especialmente no mercado de capitais.
O presidente Luiz Inácio Lula da Lula, conforme apurou a Folha no Departamento de Promoção Comercial do Itamaraty, quer sinalizar o interesse brasileiro em receber pelo menos parte desses investimentos.
Ele gostaria que esses recursos fossem direcionados à área de infra-estrutura.
Lula já agendou para dezembro visita a cinco países árabes. O objetivo central é a captação de investimentos. O presidente deverá viajar ao Líbano, à Síria, aos Emirados Árabes Unidos, à Arábia Saudita e ao Egito.

Temor de confisco
Segundo o Itamaraty, os países árabes estão encerrando seus investimentos nos Estados Unidos, temendo confiscos.
Depois do 11 de Setembro, os norte-americanos reforçaram seu esquema de segurança e de inteligência para prevenir futuros atentados. Essa política tem levado à prisão, sob suspeita de envolvimento com grupos terroristas, centenas de cidadãos árabes residentes nos Estados Unidos.
Isso porque os atentados às torres gêmeas do World Trade Center em Nova York e ao Pentágono são atribuídos a integrantes da rede terrorista Al Qaeda, liderada pelo saudita Osama Bin Laden.
A política antiterror também serviu de pretexto para que o governo do presidente George W. Bush invadisse o Iraque, depondo o ditador Saddam Hussein.
Agora, segundo o Itamaraty, os empresários árabes temem que a iniciativa privada vire alvo dessa política. As empresas receiam a hipótese de virem a ser acusadas de ter relação com terroristas, causando constrangimento a seus proprietários e até o confisco dos seus bens.

África
O Oriente Médio não é a única região que está na mira do presidente Lula. Ele também busca uma maior aproximação com países africanos, especialmente com a África do Sul. Lula deverá ir ao continente em novembro.
O embaixador Pedro Mota Pinto Coelho, responsável pelas relações diplomáticas com os países africanos, diz que o Planalto tem interesse em se aproximar da África do Sul como parte da estratégia de fortalecer o bloco dos chamados países do Sul, que são as nações em desenvolvimento.
O objetivo, explica Pinto Coelho, é fortalecer esses países para futuras negociações multilaterais com as nações do Norte e também intensificar a atuação dos países mais pobres no âmbito da ONU (Organização das Nações Unidas).
"A agenda internacional precisa ficar mais próxima dos interesses dos países do Sul", disse Pinto Coelho.
Segundo o embaixador, essa agenda está fortemente marcada pela manutenção dos subsídios agrícolas impostos pelos países ricos, prejudicando as exportações das nações agrícolas, caso do Brasil e dos demais países em desenvolvimento.
Pinto Coelho citou ainda a invasão de países sem o aval das Nações Unidas, numa crítica implícita à invasão do Iraque pelos EUA: "Essa agenda não nos é favorável, é preciso que esses países [do Sul] se fortaleçam para participar mais intensamente da definição da agenda internacional".
Outro interesse específico do Brasil no continente africano é Angola, país rico em petróleo e diamantes. Acabou de sair de quatro décadas de guerra civil.
Segundo o embaixador, a Companhia Vale do Rio Doce, numa operação conjunta com uma empresa sul-africana, prepara-se para investir US$ 4 bilhões na extração de carvão naquele país.
Em razão de os acordos comerciais internacionais passarem pela OMC (Organização Mundial do Comércio), o que o Brasil pode fazer para fortalecer suas relações mercantis com outros países é uma declaração de intenções, que tem valor mais político do que jurídico ou comercial.
É uma espécie de ata, feita após a visita do presidente brasileiro a outros países. No texto, fica resumida a intenção política de estreitar relações comerciais.

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