São Paulo, terça-feira, 28 de setembro de 2004

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SOCORRO

Rodrigo Rato lança dúvidas sobre possibilidade de excluir investimento do cálculo do superávit e de taxar transações financeiras

FMI contesta viabilidade de proposta de Lula

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

O diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Rodrigo Rato, demonstrou dúvidas ontem sobre a viabilidade das principais propostas que o governo brasileiro vem defendendo no cenário financeiro internacional.
Em entrevista, Rato questionou a possibilidade de retirar da conta de superávit primário os gastos relacionados a investimentos em infra-estrutura e a proposta defendida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na semana passada, nos EUA, de taxar transações financeiras internacionais para combater a pobreza.
O primeiro ponto vem sendo levantado pelo Brasil há mais de um ano. O país defende que o Fundo não considere como gastos os investimentos públicos na área de infra-estrutura no cálculo do superávit primário (economia que o país faz para pagar juros).
"Eu parto do pressuposto de que a melhor garantia para o futuro dos investimentos públicos é precisamente uma política orçamentária sã e contida, que garanta um fluxo constante de investimentos. Isso requer uma política de gastos eficaz, a contenção do déficit e, portanto, a formação de superávits primários", afirmou.
Diferentemente da expectativa do Brasil, Rato disse que o Fundo não tomará nenhuma decisão sobre o assunto durante a reunião anual do FMI que começa hoje, em Washington, com a participação, a partir de quinta, do ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) e do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.
Segundo Rato, os estudos do Fundo sobre o assunto não serão concluídos antes do final do primeiro trimestre de 2005.
Até lá, acrescentou o diretor-gerente, "caberá ao Brasil dizer o que quer fazer a partir de março" -quando o atual programa entre o Brasil e o FMI termina.
Rato afirmou também que "não existe um consenso" entre os membros do Fundo sobre outra proposta brasileira, a da criação de uma linha emergencial a que os países poderiam recorrer em casos de emergência mesmo sem ter assinado programas formais e completos com o FMI.
Sobre a proposta de Lula apresentada na semana passada na ONU de criar uma taxa internacional sobre operações financeiras para financiar programas contra a fome, Rato disse que essa "não é uma discussão técnica, mas política".
No mesmo dia em que Lula fez a proposta, os EUA rejeitaram com vigor a criação da nova taxa, fato que inviabilizaria sua aplicação em nível global.
"Seria preciso um consenso muito amplo. Por isso, não devemos nos afastar das políticas tradicionais", afirmou Rato.
O diretor-gerente do FMI elogiou a decisão brasileira de aumentar, na semana passada, de 4,25% do PIB (Produto Interno Bruto) para 4,5% a meta de superávit primário para este ano.
"Quando o governo decide poupar mais, ele abre espaço para o setor privado trabalhar, à medida que deixa de competir pelo financiamento disponível no mercado", disse. "Isso é bom."
Rato afirmou também que "o caminho mais importante neste momento para o Brasil é o de continuar com seu projeto de reformas estruturais".
O diretor-gerente do FMI lembrou que, embora o cenário econômico mundial seja positivo hoje, "o momento é de mudança na política monetária internacional" -que deve passar a ser mais restritiva após a elevação dos juros nas economias desenvolvidas.


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