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SOCORRO
Rodrigo Rato lança dúvidas sobre possibilidade de excluir investimento do cálculo do superávit e de taxar transações financeiras
FMI contesta viabilidade de proposta de Lula
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
O diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Rodrigo Rato, demonstrou dúvidas
ontem sobre a viabilidade das
principais propostas que o governo brasileiro vem defendendo no
cenário financeiro internacional.
Em entrevista, Rato questionou
a possibilidade de retirar da conta
de superávit primário os gastos
relacionados a investimentos em
infra-estrutura e a proposta defendida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na semana passada, nos EUA, de taxar transações financeiras internacionais
para combater a pobreza.
O primeiro ponto vem sendo levantado pelo Brasil há mais de um
ano. O país defende que o Fundo
não considere como gastos os investimentos públicos na área de
infra-estrutura no cálculo do superávit primário (economia que o
país faz para pagar juros).
"Eu parto do pressuposto de
que a melhor garantia para o futuro dos investimentos públicos é
precisamente uma política orçamentária sã e contida, que garanta
um fluxo constante de investimentos. Isso requer uma política
de gastos eficaz, a contenção do
déficit e, portanto, a formação de
superávits primários", afirmou.
Diferentemente da expectativa
do Brasil, Rato disse que o Fundo
não tomará nenhuma decisão sobre o assunto durante a reunião
anual do FMI que começa hoje,
em Washington, com a participação, a partir de quinta, do ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) e do presidente do Banco
Central, Henrique Meirelles.
Segundo Rato, os estudos do
Fundo sobre o assunto não serão
concluídos antes do final do primeiro trimestre de 2005.
Até lá, acrescentou o diretor-gerente, "caberá ao Brasil dizer o
que quer fazer a partir de março"
-quando o atual programa entre
o Brasil e o FMI termina.
Rato afirmou também que "não
existe um consenso" entre os
membros do Fundo sobre outra
proposta brasileira, a da criação
de uma linha emergencial a que
os países poderiam recorrer em
casos de emergência mesmo sem
ter assinado programas formais e
completos com o FMI.
Sobre a proposta de Lula apresentada na semana passada na
ONU de criar uma taxa internacional sobre operações financeiras para financiar programas contra a fome, Rato disse que essa
"não é uma discussão técnica,
mas política".
No mesmo dia em que Lula fez a
proposta, os EUA rejeitaram com
vigor a criação da nova taxa, fato
que inviabilizaria sua aplicação
em nível global.
"Seria preciso um consenso
muito amplo. Por isso, não devemos nos afastar das políticas tradicionais", afirmou Rato.
O diretor-gerente do FMI elogiou a decisão brasileira de aumentar, na semana passada, de
4,25% do PIB (Produto Interno
Bruto) para 4,5% a meta de superávit primário para este ano.
"Quando o governo decide
poupar mais, ele abre espaço para
o setor privado trabalhar, à medida que deixa de competir pelo financiamento disponível no mercado", disse. "Isso é bom."
Rato afirmou também que "o
caminho mais importante neste
momento para o Brasil é o de continuar com seu projeto de reformas estruturais".
O diretor-gerente do FMI lembrou que, embora o cenário econômico mundial seja positivo hoje, "o momento é de mudança na
política monetária internacional"
-que deve passar a ser mais restritiva após a elevação dos juros
nas economias desenvolvidas.
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