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Monsanto quer obter até R$ 400 mi
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A multinacional Monsanto espera faturar entre R$ 120 milhões
e R$ 400 milhões no ano que vem
com direitos de propriedade intelectual sobre mais uma safra de
soja transgênica no país.
Falta apenas a assinatura do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva numa medida provisória autorizando o plantio.
Será a oitava safra cultivada a
partir de sementes contrabandeadas da Argentina, a segunda sobre
a qual a Monsanto cobra pela patente do gene resistente ao herbicida glifosato, fabricado por ela.
Pelos planos da empresa, os produtores terão de pagar, no ano
que vem, R$ 1,20 por saca de 60
quilos do grão colhido, o dobro
do valor do royalty pago neste
ano.
O principal obstáculo no caminho da empresa, um dos principais personagens da discussão sobre o uso de transgênicos, é a lei
sancionada por Lula em dezembro do ano passado e que proíbe o
plantio e a comercialização de sementes obtidas na safra deste ano.
Na época, o governo ganhava
tempo para discutir regras para a
análise dos transgênicos.
O problema agora só pode ser
resolvido por uma nova lei ou
medida provisória. A empresa
considera "desnecessária" uma
nova Lei de Biossegurança nos
moldes da que vem sendo discutida no Congresso, disse o diretor
Rodrigo Almeida.
Para a Monsanto, basta a lei antiga, que dá à CTNBio (Comissão
Técnica Nacional de Biossegurança) o poder de autorizar o plantio
e a comercialização de organismos geneticamente modificados.
Esse poder foi recentemente restabelecido pela Justiça Federal,
numa derrota dos ambientalistas.
A decisão de Lula sobre a edição
da medida provisória -pendente
até a sexta-feira- é mais um teste
para o lobby da Monsanto.
Nos últimos três anos, a multinacional mobilizou o governo dos
Estados Unidos, associações de
agricultores e produtores de sementes e cientistas na pressão
pró-transgênicos e seus interesses
comerciais no Brasil.
Até aqui, o lobby deu certo. As
duas safras de soja transgênica colhidas no governo Lula foram comercializadas com o aval do presidente da República.
A causa dos transgênicos conquistou corações petistas e até o
apoio de um estudo técnico assinado pela assessora do partido na
Câmara Maria Thereza Pedrozo,
reproduzido no endereço eletrônico da Monsanto.
Segundo a assessora, a maioria
absoluta dos agricultores do Rio
Grande do Sul que contrabandearam a soja geneticamente modificada tem pequenas propriedades,
com até 50 hectares. Um dos argumentos pró-soja transgênica
usados no estudo é a redução do
custo para os agricultores, tese
que começa a ser contestada.
Negociação
"R$ 1,20 [de royalty por saca] vai
ficar muito pesado", contabilizou
o agricultor Almir Rebelo, presidente do Clube Amigos da Terra
de Tupanciretã, município que
abriga a maior área de soja do Rio
Grande do Sul -cerca de 120 mil
hectares de culturas transgênicas.
Há anos, Rebelo faz lobby em
defesa da soja transgênica, e sempre alegou vantagens na economia com herbicidas. "O produtor
está preocupado com o preço",
avaliou.
Para a Monsanto, não há espaço
para negociação: o valor da conta
pelos direitos de propriedade intelectual está acertado com os
produtores desde a última safra,
sobre o qual foi concedido desconto de 50%. A multinacional
não divulga o quanto já foi arrecadado na última safra nem projeções de ganho com a próxima.
A Folha se baseou na expectativa da Abrasem (Associação Brasileira de Sementes), aliada da
Monsanto, de que a soja transgênica poderá alcançar a terça parte
da próxima safra do grão, embora
as sementes certificadas não passem de 1% do necessário. Caso a
previsão se confirme, os ganhos
da multinacional poderão chegar
a R$ 400 milhões só com royalties.
A expectativa do Ministério da
Agricultura é mais conservadora,
feita com base nos termos de
compromisso assinados pelos
próprios produtores.
No mínimo, a Monsanto conseguiria arrecadar R$ 120 milhões
com os direitos de propriedade
intelectual na próxima safra.
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