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SAFRA
Cotações não conseguem cobrir o custo de produção
Com oferta em excesso, produtor tem dificuldade para vender trigo
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
O plantio de trigo, que parecia
ser uma boa solução para os produtores durante o cultivo de inverno, pode se tornar um pesadelo. O Brasil repete o desempenho
do ano passado e volta a ter uma
boa safra, que deverá superar os 6
milhões de toneladas. Isso havia
ocorrido apenas uma vez na história do país, em 1987. A comercialização, no entanto, está travada e os produtores não conseguem desovar a produção.
Os preços atuais já estão abaixo
do valor mínimo estipulado pelo
governo no início da safra e nem
cobrem os custos que os produtores tiveram com a produção. A
pouca comercialização que ocorre é com as "vendas casadas" -os
produtores trocam trigo por insumos básicos que serão usados na
próxima safra de soja ou milho.
Mudanças tanto no cenário externo como no interno levaram a
essa situação. Na área externa, a
principal delas é a volta da produção mundial acima do consumo,
o que ocorre pela primeira vez
nos últimos quatro anos.
Na safra 2004/5, a produção
mundial deverá atingir 611 milhões de toneladas, para um consumo de 601 milhões. Essa produção cessa um ciclo de dilapidação
dos estoques mundiais, diz Ataídes Jacobsen, da Emater/RS.
Jairo Facchio, da JF Corretora,
do Rio Grande do Sul, aponta outro agravante para a comercialização brasileira. Da produção do
ano passado, 1,3 milhão de toneladas foi colocado no mercado externo, o que deu sustentação aos
preços internos.
Os países do Leste Europeu voltaram a produzir e estão ocupando os mercados atingidos pelo
Brasil na safra passada. Para o
produto brasileiro ser competitivo no mercado externo, deveria
chegar ao porto a R$ 330 por tonelada. O custo mínimo de produção fica próximo de R$ 400, dependendo da região.
No ano passado, o país começou a exportar trigo a US$ 140 por
tonelada, atingindo até US$ 170.
Neste ano, os preços estão por
volta de US$ 125.
Do lado interno, o câmbio é um
dos empecilhos para as exportações, diz o analista José Pitoli, do
norte do Paraná. A valorização do
real tirou competitividade do trigo brasileiro no mercado externo.
O Brasil depende de importações. Produz 6 milhões e consome
10 milhões de toneladas, mas o
trigo está todo concentrado no
Sul. O custo do transporte para o
Nordeste é elevado e os armazéns
são insuficientes, segundo Pitoli.
Diante desse cenário, Facchio é
pessimista, e diz que a produção
de trigo recua em pelo menos
30% no próximo ano.
Assim, os produtores certamente vão pensar bem antes de plantar trigo em 2005. Em 2003, o custo de produção por saca foi de R$
17,60 e o produto foi vendido de
R$ 23 a R$ 27, dependendo o período de comercialização. Neste
ano, para um custo de R$ 22,80, a
saca está cotada de R$ 21 a R$ 22,
mas não há compradores.
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