São Paulo, terça-feira, 28 de setembro de 2004

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SAFRA

Cotações não conseguem cobrir o custo de produção

Com oferta em excesso, produtor tem dificuldade para vender trigo

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

O plantio de trigo, que parecia ser uma boa solução para os produtores durante o cultivo de inverno, pode se tornar um pesadelo. O Brasil repete o desempenho do ano passado e volta a ter uma boa safra, que deverá superar os 6 milhões de toneladas. Isso havia ocorrido apenas uma vez na história do país, em 1987. A comercialização, no entanto, está travada e os produtores não conseguem desovar a produção.
Os preços atuais já estão abaixo do valor mínimo estipulado pelo governo no início da safra e nem cobrem os custos que os produtores tiveram com a produção. A pouca comercialização que ocorre é com as "vendas casadas" -os produtores trocam trigo por insumos básicos que serão usados na próxima safra de soja ou milho.
Mudanças tanto no cenário externo como no interno levaram a essa situação. Na área externa, a principal delas é a volta da produção mundial acima do consumo, o que ocorre pela primeira vez nos últimos quatro anos.
Na safra 2004/5, a produção mundial deverá atingir 611 milhões de toneladas, para um consumo de 601 milhões. Essa produção cessa um ciclo de dilapidação dos estoques mundiais, diz Ataídes Jacobsen, da Emater/RS.
Jairo Facchio, da JF Corretora, do Rio Grande do Sul, aponta outro agravante para a comercialização brasileira. Da produção do ano passado, 1,3 milhão de toneladas foi colocado no mercado externo, o que deu sustentação aos preços internos.
Os países do Leste Europeu voltaram a produzir e estão ocupando os mercados atingidos pelo Brasil na safra passada. Para o produto brasileiro ser competitivo no mercado externo, deveria chegar ao porto a R$ 330 por tonelada. O custo mínimo de produção fica próximo de R$ 400, dependendo da região.
No ano passado, o país começou a exportar trigo a US$ 140 por tonelada, atingindo até US$ 170. Neste ano, os preços estão por volta de US$ 125.
Do lado interno, o câmbio é um dos empecilhos para as exportações, diz o analista José Pitoli, do norte do Paraná. A valorização do real tirou competitividade do trigo brasileiro no mercado externo.
O Brasil depende de importações. Produz 6 milhões e consome 10 milhões de toneladas, mas o trigo está todo concentrado no Sul. O custo do transporte para o Nordeste é elevado e os armazéns são insuficientes, segundo Pitoli.
Diante desse cenário, Facchio é pessimista, e diz que a produção de trigo recua em pelo menos 30% no próximo ano.
Assim, os produtores certamente vão pensar bem antes de plantar trigo em 2005. Em 2003, o custo de produção por saca foi de R$ 17,60 e o produto foi vendido de R$ 23 a R$ 27, dependendo o período de comercialização. Neste ano, para um custo de R$ 22,80, a saca está cotada de R$ 21 a R$ 22, mas não há compradores.


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