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Queda da Selic não derruba gasto com juros da dívida
Despesas representavam 8,46% do PIB em igual período de 2005; neste ano, 8,29%
Despesa cai pouco porque o
Tesouro ampliou a emissão
de títulos prefixados ou
corrigidos por índices não
afetados pela taxa básica
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Mesmo com os recentes cortes da taxa Selic, o governo ainda não conseguiu, até agora, reduzir de forma significativa
seus gastos com juros.
Devido à estratégia adotada
pelo Tesouro Nacional na gestão de sua dívida, é provável
que as despesas públicas com
encargos financeiros permaneçam em níveis elevados por
mais algum tempo.
É o que mostram os números
divulgados ontem pelo Banco
Central. Entre janeiro e agosto
de 2005, todo o setor público
(União, Estados, municípios e
estatais) pagou R$ 105,688 bilhões em juros, equivalentes a
8,46% do PIB (Produto Interno
Bruto) do período.
De lá para cá, os números
mudaram muito pouco: nos
primeiros oito meses de 2006,
os gastos com juros foram de
R$ 110,665 bilhões, ou 8,29%
do PIB. Só no mês passado, essas despesas somaram R$
15,569 bilhões, quase o dobro
do valor que, ao longo de todo
este ano, deve ser destinado pelo governo ao Bolsa-Família.
A economia alcançada foi pequena perto da queda sofrida
pela taxa Selic, que estava em
19,75% ao ano em agosto de
2005 e hoje está em 14,25%.
Os gastos com juros não
caem muito porque, neste ano,
o Tesouro intensificou sua política de buscar financiamentos
por meio da emissão de títulos
prefixados ou corrigidos por índices de preços, cuja rentabilidade não é afetada pela Selic.
No mês passado, esses papéis
representavam 54,7% da dívida
líquida do setor público. Em
agosto de 2005, essa proporção
estava em 36,7%.
A vantagem dessa política é
que, caso a Selic suba em algum
momento, o impacto sobre a dívida pública será amenizado. A
desvantagem está no alto custo
que os títulos prefixados ou indexados à inflação têm quando
a Selic está em queda.
Em junho, o Tesouro chegou
a vender títulos com vencimento em 2008 e que pagavam ao
investidor uma taxa de aproximadamente 16% ao ano. Atualmente, existem papéis que vencem em 2045 e cuja taxa de juros é de 8% ao ano, além da variação do IPCA (Índice Geral de
Preços ao Consumidor Amplo).
Isso significa que, mesmo
que a Selic e a inflação caiam
muito daqui para a frente, parte
da dívida continuará tendo um
custo acima da inflação de 8%
ao ano por mais quase 40 anos.
Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, os juros altos pagos
por esses títulos são o preço a se
pagar pela maior segurança que
eles proporcionam para a dívida pública. "Como a parcela
prefixada da dívida é maior, o
impacto da redução dos juros
demora um pouco mais para
aparecer. Não há uma melhoria
tão pronunciada, mas se ganha
em estabilidade", afirma.
Como a carga de juros continua elevada, o ajuste fiscal promovido pelo governo não é suficiente para cobrir todas essas
despesas, e parte dela é refinanciada, aumentando o endividamento. No mês passado, a dívida líquida do setor público era
de R$ 1,034 trilhão, o que corresponde a 50,3% do PIB.
Segundo o BC, essa proporção deve encerrar o ano perto
de 50,5%. No final de 2005, a
relação entre endividamento e
PIB estava em 51,5%. A queda
ocorrida desde então se deve ao
crescimento da economia ocorrido no período. Embora a recuperação do nível de atividade
esteja acontecendo num ritmo
menor do que o esperado, ela
tem ocorrido a uma taxa superior à da dívida do governo.
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