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LUÍS NASSIF
Uma imensa Argentina
Nas colunas passadas,
procurei explicar os sucessivos erros de política econômica à luz desse processo de
internacionalização da poupança. Quando se permitir
que a poupança seja dolarizada completamente, o que
ocorrerá com o país?
Há um jogo com dois tempos, visando permitir a internacionalização do grande capital brasileiro. Quando Pérsio Arida, Edmar Bacha e André Lara Rezende propõem a
conversibilidade, como garantia da certeza "jurisdicional",
o que se quer é libertar o grande capital nacional do seu "pecado original", de estar atrelado a um país pouco desenvolvido, para integrar o universo
do grande capital internacional.
Aí, o Brasil será apenas uma
alternativa a mais de investimento. Esse capital poderá
evaporar a qualquer crise
mais séria, como já evaporou
nas sucessivas crises cambiais
de 1994 para cá. A conta sempre será paga pelos que ficarem por aqui.
O modelo praticado pelo
Real, mantido pelo segundo
governo Fernando Henrique
Cardoso e aprofundado pelo
governo Lula, segue uma lógica inexorável. No primeiro
momento, o Brasil funciona
como uma plataforma para
impulsionar o grande capital
nacional.
Para completar esse movimento, as sucessivas políticas
econômicas trabalham em cima de duas prioridades únicas. A primeira, garantir a capacidade do país de pagar juros elevados a esse capital. A
segunda, a de garantir espaço
para o crescimento continuado da dívida.
Pegue as "lições de casa"
pregadas nesse período. Desvinculação orçamentária, para reduzir gastos com educação e saúde. Contingenciamento de fundos constitucionais, para garantir o superávit
fiscal. Esvaziamento fiscal dos
Estados. A preocupação com
gastos sociais, expressa nessa
tal de focalização (focalizar os
públicos a serem atendidos),
em vez de uma preocupação
virtuosa com a gestão dos recursos sociais, é pretexto para
reduzir os gastos sociais.
O discurso em torno da melhoria microeconômica, do investimento em infra-estrutura
e quetais, também sempre foi
pretexto para justificar as taxas de juros elevadas. Investimentos essenciais em infra-estrutura, educação, tecnologia
nunca foram prioridade nem
com Malan, nem com Palocci,
nem com sucessivos secretários do Tesouro ou presidentes
de Banco Central, nem com
nenhum desses bravos formuladores do Real.
Sob Fernando Henrique
Cardoso, houve o massacre da
estrutura de pequenas e médias empresas nacionais e o legado de grandes empresas nacionais. Sob Lula, começa o segundo tempo do jogo, a perda
da identidade nacional das
grandes empresas brasileiras.
O capital da AmBev já se internacionalizou. O da CSN está a caminho, em uma fusão
qualquer no futuro. Em pouco
tempo, a maior parte da produção da Gerdau será internacional, assim como as demais multinacionais criadas
no período anterior.
Não tenha dúvida: o próximo presidente da República,
seja nas próximas eleições, seja na outra, se Lula for reeleito, será o político que apresentar idéias claras sobre como
resgatar o Brasil da sina de vir
a se transformar em uma
imensa Argentina.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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