São Paulo, quinta-feira, 28 de outubro de 2004

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CÂMBIO

Governo fica com a maior parte do excedente de moeda norte-americana

Sobram dólares no mercado, mas reservas seguem baixas

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Influenciado, principalmente, pelo saldo recorde alcançado pela balança comercial, o Brasil registrou um forte ingresso de dólares neste ano -que foram parar, em grande parte, nos cofres do governo. Segundo o Banco Central, o fluxo de capital externo para o país ao longo de 2004 deve resultar numa "sobra" de US$ 10,1 bilhões no mercado de câmbio. BC e Tesouro Nacional ficarão com US$ 9,2 bilhões (91% do total).
O objetivo do governo é reforçar as reservas em moeda estrangeira do país. Neste ano, o Tesouro pagou US$ 6,6 bilhões de seus compromissos com dólares adquiridos diretamente do mercado. O BC, por sua vez, comprou US$ 2,6 bilhões com intervenções no câmbio feitas entre janeiro e fevereiro e os depositou nas reservas internacionais.
Em geral, é das reservas que o governo tira os dólares necessários para o pagamento de sua dívida externa. Como, nos últimos anos, as reservas brasileiras têm ficado em níveis considerados muito baixos, optou-se por buscar parte dos recursos necessários no próprio mercado de câmbio.
Essa política tem sido adotada desde o ano passado. Em 2003, porém, as condições eram mais favoráveis. Computadas todas as operações feitas no mercado de câmbio -ingresso de investimentos, pagamento de dívidas, exportações e importações, entre outras-, a quantidade de capital externo que entrou no país superou as saídas em US$ 14,1 bilhões.
Quando isso acontece, a "sobra" de dólares é adquirida por bancos ou pelo governo. No ano passado, US$ 7,1 bilhões foram divididos entre Tesouro e BC, e US$ 7 bilhões foram comprados por instituições financeiras.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, diz que uma das principais causas para a queda no fluxo de capital externo para o país, neste ano, é a redução nas captações feitas pelo setor privado no mercado internacional. Neste ano, as empresas instaladas no Brasil devem renovar cerca de 90% de seus compromissos externos. Em 2003, essa proporção ficou em 115% (as captações superaram as renovações).
Além de reforçar as reservas, as compras de dólares feitas pelo governo favorecem a alta do dólar -ou, pelo menos, impedem a queda da cotação. Depois de ultrapassar os R$ 3 no início do ano, a moeda dos EUA tem sido negociada a menos de R$ 2,90 nas últimas semanas.
Desde fevereiro, porém, o BC não faz nenhuma compra de dólares. Já o Tesouro fez, em junho, seu último pagamento de dívida com recursos adquiridos no mercado de câmbio. O BC diz ter a intenção de prosseguir com a recomposição das reservas, mas não anuncia prazo para isso.
Na avaliação do economista-chefe do BNP Paribas, Alexandre Lintz, o BC tem evitado comprar dólares para não correr o risco de pressionar a cotação da moeda, o que seria mais um obstáculo ao cumprimento das metas de inflação deste ano. "O principal problema é a inflação", afirma.
Sempre que observa uma alta ou queda excessiva na taxa de câmbio, o BC intervém vendendo ou comprando dólares. Segundo Lintz, o BC poderia voltar a intervir se o dólar fosse cotado a menos de R$ 2,85, o que poderia afetar a competitividade dos produtos brasileiros no exterior. "Nesse caso, seria preciso manter uma política monetária restritiva", afirma. Ou seja, juros altos seriam necessários para evitar que a alta do dólar resulte em inflação.


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