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CÂMBIO
Governo fica com a maior parte do excedente de moeda norte-americana
Sobram dólares no mercado, mas reservas seguem baixas
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Influenciado, principalmente,
pelo saldo recorde alcançado pela
balança comercial, o Brasil registrou um forte ingresso de dólares
neste ano -que foram parar, em
grande parte, nos cofres do governo. Segundo o Banco Central, o
fluxo de capital externo para o
país ao longo de 2004 deve resultar numa "sobra" de US$ 10,1 bilhões no mercado de câmbio. BC
e Tesouro Nacional ficarão com
US$ 9,2 bilhões (91% do total).
O objetivo do governo é reforçar as reservas em moeda estrangeira do país. Neste ano, o Tesouro pagou US$ 6,6 bilhões de seus
compromissos com dólares adquiridos diretamente do mercado. O BC, por sua vez, comprou
US$ 2,6 bilhões com intervenções
no câmbio feitas entre janeiro e
fevereiro e os depositou nas reservas internacionais.
Em geral, é das reservas que o
governo tira os dólares necessários para o pagamento de sua dívida externa. Como, nos últimos
anos, as reservas brasileiras têm
ficado em níveis considerados
muito baixos, optou-se por buscar parte dos recursos necessários
no próprio mercado de câmbio.
Essa política tem sido adotada
desde o ano passado. Em 2003,
porém, as condições eram mais
favoráveis. Computadas todas as
operações feitas no mercado de
câmbio -ingresso de investimentos, pagamento de dívidas,
exportações e importações, entre
outras-, a quantidade de capital
externo que entrou no país superou as saídas em US$ 14,1 bilhões.
Quando isso acontece, a "sobra" de dólares é adquirida por
bancos ou pelo governo. No ano
passado, US$ 7,1 bilhões foram
divididos entre Tesouro e BC, e
US$ 7 bilhões foram comprados
por instituições financeiras.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, diz
que uma das principais causas para a queda no fluxo de capital externo para o país, neste ano, é a redução nas captações feitas pelo
setor privado no mercado internacional. Neste ano, as empresas
instaladas no Brasil devem renovar cerca de 90% de seus compromissos externos. Em 2003, essa
proporção ficou em 115% (as captações superaram as renovações).
Além de reforçar as reservas, as
compras de dólares feitas pelo governo favorecem a alta do dólar
-ou, pelo menos, impedem a
queda da cotação. Depois de ultrapassar os R$ 3 no início do ano,
a moeda dos EUA tem sido negociada a menos de R$ 2,90 nas últimas semanas.
Desde fevereiro, porém, o BC
não faz nenhuma compra de dólares. Já o Tesouro fez, em junho,
seu último pagamento de dívida
com recursos adquiridos no mercado de câmbio. O BC diz ter a intenção de prosseguir com a recomposição das reservas, mas
não anuncia prazo para isso.
Na avaliação do economista-chefe do BNP Paribas, Alexandre
Lintz, o BC tem evitado comprar
dólares para não correr o risco de
pressionar a cotação da moeda, o
que seria mais um obstáculo ao
cumprimento das metas de inflação deste ano. "O principal problema é a inflação", afirma.
Sempre que observa uma alta
ou queda excessiva na taxa de
câmbio, o BC intervém vendendo
ou comprando dólares. Segundo
Lintz, o BC poderia voltar a intervir se o dólar fosse cotado a menos de R$ 2,85, o que poderia afetar a competitividade dos produtos brasileiros no exterior. "Nesse
caso, seria preciso manter uma
política monetária restritiva",
afirma. Ou seja, juros altos seriam
necessários para evitar que a alta
do dólar resulte em inflação.
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