São Paulo, quinta-feira, 28 de outubro de 2004

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RETOMADA

Descontados os efeitos sazonais, indústria registra o maior resultado desde 95; aquecimento pode gerar pressão sobre preços

Uso da capacidade instalada bate recorde

JANAINA LAGE
DA FOLHA ONLINE, NO RIO

A utilização da capacidade instalada da indústria bateu recorde em outubro, chegando a 86,1%. É o maior resultado para um mês de outubro desde 1976, de acordo com dados da Sondagem da Indústria de Transformação, da FGV (Fundação Getúlio Vargas).
Descontados os efeitos sazonais (típicos de cada período), o uso da capacidade instalada ficou em 85,2%, o mais alto nível desde abril de 1995, quando o indicador havia sido de 85,4%.
O aquecimento do setor, que pode resultar em alta de preços, é percebido também pelo nível de consumo detectado pelos empresários. O percentual dos que avaliam a demanda atual como "forte" chegou a 24% em outubro. O resultado significa uma volta aos níveis de janeiro de 1995.
Apesar dos indicadores similares à época do Plano Real, o coordenador de Pesquisas em Análises Econômicas da FGV, Aloísio Campelo, afirma que o crescimento deverá ser mais duradouro desta vez. "Estamos com ajustes em várias áreas, como o ajuste fiscal, das contas externas, do balanço de pagamentos [diferentemente da época do lançamento do Real] e ainda com inflação sob controle. Agora temos condições de tocar adiante o crescimento."
Na avaliação do professor da Escola de Pós-Graduação em Economia da FGV Samuel Pessoa, a política macroeconômica "acertada" e a adoção do câmbio flutuante tornaram a economia menos sujeita a choques externos. "Não vejo, olhando para o futuro, nenhum choque interno ou externo que possa frear o ciclo de crescimento", afirmou.
O alto nível de utilização da capacidade, porém, traz a dúvida se as empresas terão fôlego para aumentar a produção sem realizar novos investimentos. Também reacende a discussão sobre a possibilidade de o aquecimento econômico desembocar no aumento de preços, já que a produção não cresce no ritmo do consumo.
O receio de uma aceleração dos preços não se confirma com a expectativa dos empresários -38% deles esperam uma elevação neste trimestre, contra 44% no trimestre anterior. Esse percentual, no entanto, era menor no período de outubro a dezembro do ano passado -25%. Na época, a economia estava desaquecida.
Apesar do desempenho favorável da indústria, o nível de investimento permanece baixo. A previsão para 2004 é que os investimentos representem apenas 6,52% das vendas neste ano. Em 2001, o percentual fora de 8,46%.
Segundo a pesquisa, a diferença entre os números de empresários que pretendem contratar e demitir no próximo trimestre chegou a 26 pontos percentuais. Esse é o melhor saldo para um mês de outubro desde o início da série. Os setores mais otimistas em relação à expansão da mão-de-obra são mecânica, produtos alimentares e vestuário e calçados.


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