São Paulo, quinta-feira, 28 de novembro de 2002

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CRÉDITO

Taxa média nas operações de financiamento de pessoas físicas bate em 79,3% ao ano, a maior desde fevereiro de 2000

Taxa de juro sobe "tremendamente", diz BC

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os juros cobrados pelos bancos nos empréstimos concedidos a pessoas físicas atingiram, em outubro, o nível mais elevado em mais de dois anos, segundo levantamento feito pelo Banco Central. No mês passado, a taxa média cobrada nessas operações de crédito chegou a 79,3% ao ano -o equivalente a cerca de 5% ao mês.
Desde fevereiro de 2000, os juros cobrados pelos bancos nos financiamentos concedidos a pessoas físicas não eram tão altos. Naquele mês, a taxa ficou em 86,2% ao ano -ou 5,3% ao mês.
"A taxa de juros para as pessoas físicas subiu tremendamente", afirmou o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. Segundo ele, a elevação das taxas cobradas pelos bancos se explica pelo aumento da taxa de juros básicos da economia promovido pelo próprio BC em outubro. No início do mês passado, a taxa Selic passou de 18% ao ano para 21% ao ano. Hoje está em 22% ao ano.
A taxa Selic é usada como referência em praticamente todas as operações feitas pelo sistema financeiro. Em geral, ela corresponde aos juros que os bancos pagam para captar dinheiro no mercado, principalmente por meio da venda de CDBs (Certificado de Depósito Bancário).
"Recomenda-se que as pessoas evitem tomar empréstimos e, quando possível, é melhor comprar à vista", afirma o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.
Segundo ele, mesmo antes do Natal as pessoas já têm evitado contrair novas dívidas. "As taxas [de juros] muitos elevadas inibem a demanda por crédito", afirma.
Além de evitar as compras a prazo, Lopes diz que, sempre que possível, as pessoas devem se preocupar em quitar suas dívidas.
Dos 79,3% ao ano cobrados pelos bancos nos empréstimos a pessoas físicas, 51,5 pontos percentuais equivalem ao chamado "spread". Ou seja, é a diferença entre aquilo que os bancos pagam para captar os recursos e os juros cobrados na hora de repassar o dinheiro aos clientes.
As maiores altas nas taxas de juros ocorreram nas operações de financiamentos de automóveis e no crédito pessoal. No primeiro caso, os juros médios passaram de 47,4% ao ano para 53,0% ao ano. No crédito pessoal, a taxa subiu de 85,4% ao ano para 88,8%.
Segundo Lopes, o aumento nas taxas cobradas no financiamento de veículos se explica também pelo fim de promoções que algumas montadoras realizaram em setembro. Com o fim das ofertas, as taxas voltaram a subir.
Entre as empresas, em compensação, a taxa média de juros ficou praticamente estável, passando de 22,7% ao ano para 23,0% ao ano. Lopes diz que essa estabilidade se explica pelo fato de as empresas conseguirem negociar condições mais favoráveis com os bancos na hora de contrair um empréstimo.
A inadimplência, apontada por alguns bancos como um dos motivos para as elevadas taxas de juros praticadas no Brasil, tem se mantido estável. Segundo o BC, os financiamentos cujo atraso no pagamento é de, no mínimo, 15 dias representavam 7,9% do total em outubro, mesmo índice observado em setembro.
Devido às altas taxas cobradas pelos bancos, a procura por crédito está cada vez menor. No mês passado, o volume total de empréstimos concedidos pelo sistema financeiro ficou em R$ 214,1 bilhões, queda de 2,1% em relação aos números de setembro.


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