São Paulo, quinta-feira, 28 de novembro de 2002

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EMPRÉSTIMOS

País tem baixa oferta de financiamento em relação ao PIB; instituições dizem que temem inadimplência

Juros altos levam à redução de crédito

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

A elevação das taxas de juros e a contração da atividade econômica estão contribuindo para o encolhimento da demanda por empréstimos no Brasil. Dados elaborados pela ABM Consulting mostram que o volume de crédito para pessoa física teve uma redução real de 11,4% (descontada a inflação medida pelo IGP-DI) entre maio e outubro deste ano.
Segundo projeção da mesma consultoria, o montante de financiamento em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro deve cair para cerca de 27,2% em 2002, taxa inferior aos 28% registrados no ano passado.

Juros altos
Esse número revela o atraso do mercado de crédito brasileiro em relação ao de outros países. Num universo de 40 nações pesquisadas, o Brasil só perde para o México, onde a relação entre crédito e PIB era de 24% no fim de 2001.
O baixo volume de empréstimos tomados pela população brasileira é consequência das altas taxas básicas de juros praticadas no país e do crescimento da dívida pública federal. Isso faz com que as aplicações em títulos públicos sejam mais atraentes para os bancos do que a oferta de crédito.
Além disso, os juros elevados reprimem a demanda e aumentam as chances de inadimplência, o que também faz com que os bancos cobrem taxas muito elevadas para emprestar recursos.
Segundo Roberto Troster, economista-chefe da Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos), a recente disparada nas taxas cobradas pelas instituições financeiras nos empréstimos a pessoas físicas reflete justamente o medo da inadimplência futura.
"O risco de inadimplência em segmentos de alto risco, como cheque especial, subiu muito", afirma Troster.
A expectativa de crescimento do calote tem levado, inclusive, as instituições financeiras a aumentar suas provisões contra créditos duvidosos. Apesar disso, a inadimplência continua praticamente estável neste ano. Dados da ABM Consulting mostram que a taxa de inadimplência nos empréstimos a pessoas físicas subiu de 15% para 15,5% entre janeiro e outubro deste ano.
Para Alberto Borges Matias, sócio da ABM Consulting, a elevação dos juros ao consumidor é, em parte, consequência da elevação da taxa Selic, hoje em 22%.
Tanto Matias como Troster citam o aumento dos depósitos compulsórios-que os bancos têm de recolher ao Banco Central-como outro motivo para a subida nos juros dos financiamentos. "Isso diminuiu a liquidez do mercado (quantidade de dinheiro em circulação) e encareceu o custo do dinheiro", diz Troster.
Apesar do recente aumento, os juros dos financiamentos a pessoas físicas já foram bem mais altos no Brasil. Em abril de 1995, essa taxa chegou a 273,6%, contra 79,3% no mês passado.


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