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LUÍS NASSIF
O Movimento Brasil Competitivo
Os novos guerreiros começaram a se aglutinar em
fins dos anos 80. O país estava
sem rumo, sem comando, sem
idéias. Na academia, os economistas perdiam-se em discussões
intermináveis sobre inflação
inercial. Nas empresas, atuavam
apenas diretores financeiros e especialistas em indexação. Os intelectuais de plantão discutiam
furiosamente o presente, e o futuro não era mais do que adivinhar a taxa do overnight da próxima semana. Nos jornais e revistas, fontes em permanente
disponibilidade davam palpite
sobre irrelevâncias, enquanto o
futuro se esvaía na falta de pessoas e de projetos.
Foi aí que, percebendo a falta
de rumos, o anjo da anunciação
surgiu das brumas do futuro e
fez a revelação a um ministro de
Ciências e Tecnologia antenado
com os tempos. Israel Vargas
convocou, então, alguns dos
guerreiros acantonados na USP
(Universidade de São Paulo) e
na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e incumbiu-os de seguir a estrela da produtividade. E, tais quais os reis
magos do Evangelho, eles partiram em direção ao Oriente e foram dar no Japão.
De lá trouxeram os primeiros
escritos prevendo os novos tempos, estudos, esquemas, desenhos
e novos paradigmas que, batizados de "qualidade total", de início conquistaram poucos discípulos para a causa e expuseram
muitos deles à arena dos leões.
Um grupo atrasado tomou a
Fundação Cristiano Ottoni, onde se abrigavam os primeiros devotos da nova ordem, e expulsou-os, ainda que à custa do definhamento da instituição.
Adeptos de velhas verdades de
esquerda os acusavam de explorar o trabalho. Adeptos de velhíssimas verdades de direita duvidavam do que os novos métodos prometiam.
Mas os que atuavam na linha
de frente do trabalho entenderam o recado, e os melhores dele
rapidamente se integraram ao
novo exército da modernização.
Engenheiros que haviam desenvolvido programas de qualidade
para a Petrobras anos antes, técnicos que conduziram o programa nuclear, empresas que se enveredaram pela petroquímica e,
especialmente, as siderúrgicas
passaram a chamá-los e a confabular, a montar a conspiração
da modernização.
Em 1990 foi criado o Programa
Brasileiro de Qualidade e Produtividade, primeira formalização
do novo movimento.
Rapidamente a nova verdade
foi se espalhando pelo país, como
em uma conspiração. Cada iniciado recebia os ensinamentos,
as ferramentas de gestão e a
obrigação de repassá-las para a
frente. E os círculos iniciais de
qualidade foram se ampliando
por novos círculos, e dos generais
as novas verdades se espraiaram
por toda a tropa, conquistando
corações e mentes da soldadesca.
Neste mês da graça de novembro de 2002, com o lançamento
do Movimento Brasil Competitivo, ganha escala e massa crítica
o maior movimento espontâneo
de modernização da economia
brasileira em todos os tempos. A
"qualidade total" tornou-se valor maior, desideologizado, cortejado por governos de todas as
cores políticas. Por seus méritos,
impôs-se sobre o vão do macroeconomismo das panelas acadêmicas que dominavam os partidos.
Em menos de 12 anos, o país
criou uma das mais eficientes escolas de gestão do mundo. No
curto espaço de uma década, as
maiores empresas brasileiras deram um salto de qualidade sem
precedentes, tornando-se
"benchmark" em várias áreas.
Os novos processos estão ajudando a modernizar a gestão
privada, a administração pública, hospitais, escolas, ainda que
em escala menor.
Ontem, o lançamento do MBC
em São Paulo, uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de
Interesse Público), liderada pelo
empresário Jorge Gerdau Johanpetter, tendo em seu conselho os
principais porta-vozes do movimento pela qualidade, marca a
tentativa de dar escala à qualidade. Seu objetivo será atuar no
âmbito das organizações, das regiões e das cadeias produtivas,
monitorar o desempenho dos fatores que afetam a competitividade nacional e estimular a inovação e o marketing. E essas ferramentas deverão ser usadas
tanto para aumentar a competitividade das empresas como a
eficácia dos programas sociais.
O Brasil entra no século 21 com
as armas necessárias para vencer a grande batalha da globalização e da inclusão social.
E-mail - LNassif@uol.com.br
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