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ARGENTINA
Depósitos estão em pesos
Justiça deve ordenar dolarização de contas
MARCELO BILLI
DE BUENOS AIRES
A Justiça argentina deve ordenar, nas próximas semanas, a redolarização dos depósitos bancários que foram pesificados pelo
governo. A decisão, que pôs o governo do presidente Eduardo Duhalde em alerta, poderá significar
que os bancos terão que pagar,
para cada dólar anteriormente
depositado, cerca de 3,5 pesos, e
não 1,40 peso, como haviam determinado as medidas que pesificaram a economia argentina.
O presidente do Banco Central,
Aldo Pignanelli, reagiu. Disse que
a medida causará hiperinflação e
quebra generalizada no sistema
bancário. O economista-chefe da
mesma instituição, Alejandro
Henke, afirmou que a dolarização
dos depósitos fará a cotação da
moeda norte-americana, que oscila ao redor de 3,55 pesos por dólar, chegar a 10 pesos por dólar.
A maioria dos juízes da Suprema Corte do país se mostra atualmente favorável à devolução na
moeda original de depósitos efetuados em dólar e retidos nos
bancos desde dezembro passado.
Em projeto de sentença apresentado anteontem, no julgamento de um caso de uma poupadora
que depositara US$ 13 mil, o juiz
da Suprema Corte Carlos Fayt sugeriu que a Corte reconhecesse
que os bancos estão obrigados a
redolarizar os depósitos e a devolvê-los em dólar ou na quantidade
equivalente em pesos, à cotação
da moeda americana do dia.
Outros quatro dos oito atuais
juízes do tribunal já haviam demonstrado ser favoráveis à redolarização e contra as medidas que
criaram o "corralito" e o "corralón", retenção dos depósitos à vista e a prazo, respectivamente.
O projeto do juiz, porém, não
prevê um prazo para que os bancos devolvam os depósitos redolarizados. Para cada caso, a Justiça
analisaria se existem razões para a
liberação dos recursos, levando
em conta variáveis como o montante depositado e se há decisões
anteriores favoráveis à devolução.
Mas os bancos esperam que a
decisão final da Corte, que deve
sair em dezembro, não fixe prazos
nem formas para liberar o dinheiro. Assim, as entidades financeiras poderiam negociar com os
clientes a devolução dos recursos
caso a caso. Os bancos esperam
também, caso a Justiça realmente
ordene a "redolarização", poder
negociar a devolução dos depósitos em títulos de longo prazo.
O voto do juiz Fayt não deve se
converter inteiramente em uma
sentença definitiva, mas deve ser
incorporado às posições dos demais juízes favoráveis à redolarização dos depósitos. Os outros estão inclinados a não fixar condições e prazos para a liberação dos
recursos dos depositantes.
A redolarização dos depósitos
poderá criar ainda mais desequilíbrios no sistema financeiro do
país. A pesificação já havia debilitado os bancos, porque os depósitos haviam sido pesificados a 1,40
peso por dólar, enquanto as dívidas com os bancos foram pesificadas a 1 peso por dólar.
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