São Paulo, quinta-feira, 28 de novembro de 2002

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ANO DO DRAGÃO

Eustáquio Reis, diretor do órgão, diz que daqui para a frente será preciso "lutar contra essa tendência"

Ipea detecta "pequeno descontrole" de preços

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

O diretor de Estudos Macroeconômicos do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Eustáquio Reis, disse ontem que já há "um pequeno descontrole" na inflação do país. É a primeira vez durante o atual surto que um economista de um órgão do governo -o Ipea é subordinado ao Ministério do Planejamento- fala em descontrole inflacionário.
"Daqui para a frente você tem que lutar contra essa tendência", afirmou Reis. E acrescentou: "Dada essa tendência, o alarme tem que ser soado". As afirmações foram feitas durante a divulgação do "Boletim de Conjuntura" de outubro do Ipea.
De acordo com Paulo Levy, coordenador do Grupo de Acompanhamento Conjuntural do Ipea, o combate à inflação deve ser o principal foco a ser atacado agora e no próximo governo.
"O problema da inflação é a questão crítica a ser atacada no curto prazo. Em um horizonte mais longo, o foco deve ser buscar o retorno dos financiamentos externos", disse ele, para quem a escassez de financiamentos externos está na raiz da atual crise.
O temor dos economistas do Ipea em relação a uma possível escalada inflacionária é explicado por números que estão no documento divulgado ontem. O indicador de tendência da inflação anualizada para os quatro meses seguintes saltou de 7,3% em agosto para 8,3% em setembro e para 9,6% em outubro. O índice usado como referência é o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), do IBGE.
O indicador de tendência é uma espécie de núcleo da inflação (a inflação expurgada de fatores que possam gerar movimentos bruscos) projetado para os quatro meses seguintes àquele no qual o modelo é rodado. Segundo Levy, o salto observado de agosto para outubro "é inédito" e mostra "uma tendência preocupante".
O Ipea está estimando que o IPCA deste ano será de 10,5%. Em 2003, o órgão estima que a inflação cairá para 9%, desde que o governo tome as medidas necessárias ao controle do atual surto, incluindo a manutenção dos juros nos atuais 22% até junho.
Segundo Levy, se o governo quiser baixar a inflação para níveis mais próximos da meta para 2003 -a meta oficial é de 4%, com tolerância de 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo-, terá de aumentar a taxa de juros.
Apesar de preocupante em relação ao problema inflacionário, o Boletim do Ipea também traz boas notícias. Os economistas detectaram uma suave melhoria nas perspectivas de crescimento econômico, suficientes para elevar para 1,4% a previsão de aumento do PIB (Produto Interno Bruto) neste ano (1,3% no mês passado).


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