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Confiança maior eleva crédito e prestações
Varejo estende prazos para prestações caberem no bolso do consumidor; comprometimento de renda em 2010 preocupa
Para especialista, bancos tentam agora recuperar tempo perdido com o conservadorismo no
crédito ao longo deste ano
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Passada a crise, lojistas, empresas de cartão, bancos e financeiras estão apostando no
crédito e na extensão dos prazos de pagamento para elevar
os volumes das vendas ainda
em 2009. O objetivo é aproveitar o momento de forte confiança do consumidor e dar
condições favoráveis de prazos
e de juros para "desobstruir" o
consumo represado.
Nos shoppings de São Paulo,
lojas de roupas, calçados e presentes que costumavam parcelar as vendas no cartão de crédito de três a quatro vezes estão
agora vendendo em até sete pagamentos sem juros. Para eletrodomésticos e móveis, o parcelamento está chegando a até
24 vezes nas Casas Bahia, que
tem parceria com o Bradesco.
A Cielo, antiga VisaNet, estendeu para todos os lojistas associados o parcelamento em
até 12 vezes sem juros no cartão
Visa, uma facilidade disponível
até então para poucos estabelecimentos. As redes Extra e Ponto Frio parcelam em até 18 vezes os eletrodomésticos e móveis nos cartões do grupo, que
tem parceria com o Itaú. As
compras de supermercado acima de R$ 100 podem ser pagas
em até quatro vezes no cartão.
O Banco do Brasil decidiu financiar em até 36 vezes as passagens aéreas da TAM.
Segundo especialistas, a recuperação do emprego e da
renda estimulam o consumidor
a assumir novas dívidas. Ao
mesmo tempo, a queda na inadimplência impele bancos e financeiras, que passaram o ano
retraídos, a "abrir as torneiras"
para fechar o ano com uma fotografia melhor no balanço.
No consumo, a inadimplência até 90 dias cai pelo oitavo
mês seguido -saiu de 10,3%,
em março para 7,4% em outubro. Os juros do financiamento
ao consumo recuaram do pico
de 73% ao ano, em dezembro,
para 50% em outubro. "[Os
bancos] vão tirar o atraso, pois
ficaram muito temerosos com
o que poderia acontecer. Querem recuperar o tempo perdido
porque não há o que temer",
disse o consultor Alvaro Musa,
ex-presidente da Fininvest.
Prazo recorde
Nem antes da crise o comércio trabalhava com prazos tão
longos de pagamento. Segundo
o BC, os prazos médios do crédito ao consumo atingiram em
outubro 217 dias (pouco mais
de sete meses), os maiores da
série histórica. Em agosto do
ano passado, eram de 193 dias.
O lado ruim é que o consumidor pode ficar com parte do salário comprometido com as
prestações ao longo de 2010.
"Há uma tentativa de estimular a tomada de crédito com
prazos maiores, de modo que a
prestação caiba na renda do
consumidor com facilidade",
disse Armando Castelar, especialista em crédito da UFRJ.
"Todo mundo chega para o
consumidor e diz que 2010 será
espetacular. Esse consumidor
se sente mais animado para
comprar a crédito. As pessoas
têm mais confiança para gastar
e comprar produtos mais caros.
E nisso o crédito será essencial", disse Sergio Vale, economista da MB Associados.
Segundo Castelar, os bancos
estão adiantando para o quarto
trimestre deste ano o cenário
de expansão do crédito previsto
para 2010, de crescimento de
25% ao ano, como antes da crise. "2010 vai começar no quarto
trimestre para os bancos. Os
bancos públicos saíram na
frente, e os privados estão
apostando no quarto trimestre
para ser o período mais forte do
ano no crédito. O foco é claramente a pessoa física -consignado, consumo e veículos-
porque os índices de inadimplência recuaram mais", disse.
Para Nilson Martiniano Moreira, diretor de empréstimos e
financiamentos do BB, aumentará a concorrência no crédito
nos próximos meses, especialmente por parte dos bancos
privados que querem recuperar
terreno perdido nos financiamentos. "Com a recuperação
da economia, a concorrência no
ano que vem vai ser muito mais
pesada. Vamos melhorar ainda
mais as condições negociais de
prazo e de taxa para os clientes.
Essa é uma tendência. Mas, até
o momento, nós ainda não sentimos isso dos concorrentes."
A Casas Bahia informou que,
após a redução dos subsídios
para a linha branca, diminuíram as vendas desses produtos.
Com o novo incentivo para
compra de móveis, a rede afirma que prevê aquecimento nas
vendas no final de ano. Em nenhum cenário, a rede varejista
afirma ver abalo na confiança
do consumidor.
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