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Emirado se deixou levar pelo próprio sucesso
ROULA KHALAF
SIMEON KERR
DO "FINANCIAL TIMES"
Setembro foi um mês importante para Dubai, o momento
em que as escolas reabriram
suas portas e a cidade pôde começar a contar quantos estrangeiros ali radicados, atingidos
pelo derretimento financeiro
global, tinham partido.
Para a surpresa de todos, as
salas de aula não estavam vazias, e o êxodo de Dubai não foi
tão dramático quanto previsto.
Para muitos de seus moradores, a cidade-Estado, apesar de
carregar uma dívida de US$ 80
bilhões (100% de seu PIB), é
dotada de economia diversificada e de uma cultura mais liberal que muitos de seus vizinhos, portanto um bom lugar
para morar. O desaquecimento
econômico chegara a favorecer
o estilo de vida em Dubai, ao reduzir o trânsito e o número de
obras em construção.
Apesar das preocupações que
ainda permaneciam em torno
do mercado imobiliário, que
sofrera um crash espetacular, e
sobre a qualidade dos empréstimos em mãos dos bancos, a
confiança das empresas tinha
começado a retornar.
Mas a decisão surpresa da
quarta de anunciar o congelamento do pagamento das dívidas da Dubai World, o consórcio imobiliário mais importante da cidade, suscitou dúvidas.
Boa parte do otimismo dos
últimos meses era baseada na
premissa de que Dubai estava
iniciando uma restruturação e
que saldaria suas dívidas. Alguns meses atrás o governo levantou US$ 10 bilhões no banco central dos Emirados Árabes
Unidos e tinha começado a dar
apoio às suas empresas.
"Embora tenhamos visto
uma melhora na confiança desde meados do ano, o reescalonamento da dívida da Dubai
World vai impor um revés a esse sentimento", disse Monica
Malik, economista no banco de
investimentos EFG-Hermes,
em Dubai.
Ela ainda prevê uma melhora
gradual na economia de Dubai,
mas o alto nível de endividamento corporativo e individual
e de exposição do setor imobiliário significa que as perspectivas econômicas são frágeis.
Como Dubai acabou carregando essa dívida bilionária se
explica como resultado de uma
expansão forte, baseada numa
política correta de diversificação. Mas isso gerou confiança
exagerada e excessos.
Ao criar uma série de zonas
livres dedicadas a setores específicos, como mídia e finanças,
Dubai atraiu empresas estrangeiras e se estabeleceu como
provedor regional de serviços.
Em 2008, o petróleo foi responsável por apenas 2% do seu
PIB. O comércio atacadista e
varejista, o setor imobiliário e o
de serviços a empresas respondiam por muito mais.
Mas Dubai se deixou levar
por seu próprio sucesso, com
um governante excessivamente ambicioso, o xeque Mohammed bin Rashid, sonhando
mais alto e instituindo um ambiente empresarial ferrenhamente competitivo.
Alguns dos maiores conglomerados criaram empresas
imobiliárias e de investimentos
que competiam entre si e estabeleceram subsidiárias também competitivas.
À medida que os projetos
imobiliários foram se tornando
mais exuberantes, o governo do
emirado perdeu o controle sobre as finanças das entidades
que controlava.
Quando a crise financeira
chegou, uma de suas primeiras
vítimas foi o mercado imobiliário, que vinha vivendo um
boom especulativo. O HSBC
disse em relatório recente que
o mercado perdeu 50% de seu
valor, levando à perda de riqueza e comprometendo a qualidade dos ativos dos bancos.
Tradução de CLARA ALLAIN
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