São Paulo, sábado, 28 de novembro de 2009

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Emirado se deixou levar pelo próprio sucesso

ROULA KHALAF
SIMEON KERR
DO "FINANCIAL TIMES"

Setembro foi um mês importante para Dubai, o momento em que as escolas reabriram suas portas e a cidade pôde começar a contar quantos estrangeiros ali radicados, atingidos pelo derretimento financeiro global, tinham partido.
Para a surpresa de todos, as salas de aula não estavam vazias, e o êxodo de Dubai não foi tão dramático quanto previsto.
Para muitos de seus moradores, a cidade-Estado, apesar de carregar uma dívida de US$ 80 bilhões (100% de seu PIB), é dotada de economia diversificada e de uma cultura mais liberal que muitos de seus vizinhos, portanto um bom lugar para morar. O desaquecimento econômico chegara a favorecer o estilo de vida em Dubai, ao reduzir o trânsito e o número de obras em construção.
Apesar das preocupações que ainda permaneciam em torno do mercado imobiliário, que sofrera um crash espetacular, e sobre a qualidade dos empréstimos em mãos dos bancos, a confiança das empresas tinha começado a retornar.
Mas a decisão surpresa da quarta de anunciar o congelamento do pagamento das dívidas da Dubai World, o consórcio imobiliário mais importante da cidade, suscitou dúvidas. Boa parte do otimismo dos últimos meses era baseada na premissa de que Dubai estava iniciando uma restruturação e que saldaria suas dívidas. Alguns meses atrás o governo levantou US$ 10 bilhões no banco central dos Emirados Árabes Unidos e tinha começado a dar apoio às suas empresas.
"Embora tenhamos visto uma melhora na confiança desde meados do ano, o reescalonamento da dívida da Dubai World vai impor um revés a esse sentimento", disse Monica Malik, economista no banco de investimentos EFG-Hermes, em Dubai.
Ela ainda prevê uma melhora gradual na economia de Dubai, mas o alto nível de endividamento corporativo e individual e de exposição do setor imobiliário significa que as perspectivas econômicas são frágeis.
Como Dubai acabou carregando essa dívida bilionária se explica como resultado de uma expansão forte, baseada numa política correta de diversificação. Mas isso gerou confiança exagerada e excessos.
Ao criar uma série de zonas livres dedicadas a setores específicos, como mídia e finanças, Dubai atraiu empresas estrangeiras e se estabeleceu como provedor regional de serviços.
Em 2008, o petróleo foi responsável por apenas 2% do seu PIB. O comércio atacadista e varejista, o setor imobiliário e o de serviços a empresas respondiam por muito mais.
Mas Dubai se deixou levar por seu próprio sucesso, com um governante excessivamente ambicioso, o xeque Mohammed bin Rashid, sonhando mais alto e instituindo um ambiente empresarial ferrenhamente competitivo.
Alguns dos maiores conglomerados criaram empresas imobiliárias e de investimentos que competiam entre si e estabeleceram subsidiárias também competitivas.
À medida que os projetos imobiliários foram se tornando mais exuberantes, o governo do emirado perdeu o controle sobre as finanças das entidades que controlava.
Quando a crise financeira chegou, uma de suas primeiras vítimas foi o mercado imobiliário, que vinha vivendo um boom especulativo. O HSBC disse em relatório recente que o mercado perdeu 50% de seu valor, levando à perda de riqueza e comprometendo a qualidade dos ativos dos bancos.


Tradução de CLARA ALLAIN


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