FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Não adiantou o índice da Bovespa disparar em pontos nem os investidores procurarem mais o mercado de ações: durante 2003, o número de empresas com ações negociadas em Bolsa caiu e atingiu seu menor patamar desde a metade da década de 70.
Do pico de 1989, quando 592 empresas tinham ações negociadas na Bolsa paulista, restam atualmente apenas 369 -número próximo dos 362 registrados em 1975. Desde janeiro, 30 empresas fecharam o capital.
Na prática, investidores jogaram mais dinheiro num número menor de empresas.
Com esse movimento, parece cada vez mais distante o sonho do presidente da Bovespa, Raymundo Magliano Filho, de ter pelo menos mil empresas listadas na Bolsa, como declarou em entrevista recente à Folha.
Se a mentalidade do pequeno investidor dá sinais de que começa a mudar -com a crescente participação que esse segmento tem tido no mercado de ações-, as empresas ainda resistem em aderir à Bolsa como fonte de financiamento.

Peso dos juros
Analistas apontam diferentes fatores para o fenômeno: o desaquecimento econômico, os custos contábeis mais elevados para estar no mercado de ações e mesmo o conservadorismo e a falta de conhecimento de empresários em relação à Bolsa.
"A economia não está crescendo há alguns anos. Com isso, muitas empresas não vêem motivos para participar do mercado de ações, que é uma alternativa de financiamento mais comum em outros países", afirma Ricardo Magalhães, gestor de renda variável da Mellon Global Investments.
Uma das empresas que seria "bem vinda" no mercado de ações, segundo analistas, é a Casas Bahia. No entanto, com faturamento estimado em R$ 5 bilhões neste ano, a maior rede de eletroeletrônicos do país não vê motivos suficientes para mudar de rumo.

Dias melhores
Além da valorização de 93,5% acumulada no ano, até o dia 26, a Bovespa apresentou bons resultados em outros aspectos. A média diária negociada neste ano é a melhor desde 97, ficando acima dos R$ 800 milhões.
Em novembro, o Ibovespa ultrapassou os 20 mil pontos pela primeira vez. Fechou na última sexta-feira em 21.816 pontos.
A participação de investidores estrangeiros também comprova o bom momento da Bolsa paulista -ao menos sob o ponto de vista do ingresso de capitais.
Até o dia 22, a compra de ações com recursos de estrangeiros superava as vendas, no ano, em quase R$ 7 bilhões. Em 2002, essa saldo ficou negativo em R$ 1,4 bilhão. Desde o início do Plano Real, o ano em que esse saldo foi melhor foi em 96, quando ficou positivo em R$ 3,4 bilhões.
A Bovespa tem feito um trabalho bastante forte para desmistificar o mercado de ações entre os pequenos investidores.
A crescente participação do segmento pessoa física na Bolsa, nos últimos meses, mostra que o trabalho pode estar surtindo o efeito esperado. Por isso, analistas avaliam que seria fundamental a Bolsa passar a fazer o mesmo entre as empresas, a fim de trazê-las para o mercado de ações.

Poucas ações
"É muito pouco provável que esse cenário [empresas saindo da Bolsa] mude até o fim do primeiro semestre do próximo ano. Uma mudança nesse sentido depende, além das empresas, da conjuntura macroeconômica", diz Magalhães.
Dados da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) mostram que a emissão de papéis pelas empresas -como ações e debêntures- ficou em R$ 9,5 bilhões neste ano, até o fim de novembro, volume 57% inferior ao registrado em 2002.
Neste ano, só ocorreram 23 lançamentos. Como comparação, em 2000, por exemplo, o total de emissões de papéis havia sido de R$ 42,8 bilhões. Na divulgação dos dados, Luiz Leonardo Cantidiano, presidente da CVM, disse que os juros elevados desestimularam as empresas a buscar recursos no mercado de capitais.
Cantidiano afirmou ainda que, por causa do desaquecimento econômico, caiu a necessidade de as empresas captarem recursos para novos investimentos.



Texto Anterior: Painel S.A.
Próximo Texto: Pecuária: Governo dos EUA diz que vaca louca chegou do Canadá
Índice