São Paulo, sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

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VINICIUS TORRES FREIRE

Juro menor. Na primavera


Juros não caem tão cedo, mas Banco Central parece aceitar inflação na risca da meta e vê bom crescimento em 2008

HÁ TRÊS notícias no Relatório de Inflação que o Banco Central publicou ontem. Duas boas e uma ruim, sendo que a ruim fica até atenuada pelas duas mais animadoras.
Primeira: o BC acredita que o país possa crescer 4,5% em 2008. Menos que em 2007, decerto. Mas, dada a quantidade de barrancos que podem desabar pela estrada até dezembro do ano que vem, está bom.
Não é mau, de resto, para um país que passou o último quarto de século na base de 2,5% ao ano. Sim, também pode-se dizer que se trata apenas de estimativas econômicas, tão ou menos precisas que a previsão de chuva para daqui a uma semana em São Paulo ou sobre o El Niño ou o Iraque no ano que vem.
Segunda: o BC não está histérico com a inflação. Sim, é um juízo subjetivo, mas o BC de 2005 foi exasperantemente lento no corte de juros.
Agora, "sob nova direção", parece aceitar o risco de a inflação em 2008 ficar outra vez na risca da meta de 4,5%. Faz pouco tempo, muita gente, inclusive este colunista, acreditava que o pessoal do BC não suportaria inflação maior que 3,5%. Por ora, parece acreditar que, com crescimento do PIB de 4,5%, dólar a R$ 1,80 e juros reais entre 7% e 7,5% ao ano, dá para encarar a alta de preços de pouco mais de 4%.
Terceira notícia, a ruim: 2008 terá de ser um ano da graça para que os juros caiam durante a primavera, e olhe lá. Mas, se o país crescer mesmo em torno de 4,5%, não chega ser mau negócio, a não ser para as contas públicas, pois a conta de juros continuará extorsionária, a dívida cairá lentamente etc. etc.
No seu cenário básico, o BC prevê inflação subindo (no acumulado de 12 meses) até o terceiro trimestre.
Está subentendido que o impulso dado à economia pelo corte de juros ocorrido até setembro só começa a decair a partir de junho, julho. Se o cenário se confirmar e houver calmaria no terceiro trimestre, talvez abra-se uma possibilidade de juros menores no último trimestre.
Há incertezas maiores. A já insuportável, de tão repetida, incerteza sobre o tamanho da desaceleração da economia americana e da correspondente, e também incerta, reação do resto do mundo. É incerto também o destino do câmbio e de fluxos financeiros e comerciais.
O preço das commodities vai cair e estreitar ainda mais o saldo comercial brasileiro? Qual impacto que a crise terá no fluxo financeiro para o país? Vai haver aumento de percepção de risco a ponto de afastar capitais ou o país será uma alternativa para o destino do dinheiro mundial?
Tudo isso terá reflexos no câmbio e, mais ou menos, na inflação. Por falar em inflação, o Brasil vai importar mais da alta global de preços, em especial de alimentos? E por falar em câmbio, as estimativas para 2008 estão por ora meio dispersas. Há gente razoável a estimar desde R$ 1,60 a R$ 1,90.
De novo, por fim, há uma ênfase maior na pressão dos custos do trabalho e do nível de produtividade na inflação. Bem, por ora não há pressão do lado de salários, e o próprio BC o admite. Produtividade é um troço difícil de calcular, ainda mais no curto prazo. Mas o pessoal do BC está preocupado com o mercado de trabalho, mesmo num país em que o desemprego anda pela faixa de 9%.

vinit@uol.com.br


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