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VINICIUS TORRES FREIRE
Juro menor. Na primavera
Juros não caem tão cedo, mas Banco Central parece aceitar inflação na risca da meta e vê bom crescimento em 2008
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HÁ TRÊS notícias no Relatório
de Inflação que o Banco
Central publicou ontem.
Duas boas e uma ruim, sendo que a
ruim fica até atenuada pelas duas
mais animadoras.
Primeira: o BC acredita que o país
possa crescer 4,5% em 2008. Menos
que em 2007, decerto. Mas, dada a
quantidade de barrancos que podem desabar pela estrada até dezembro do ano que vem, está bom.
Não é mau, de resto, para um país
que passou o último quarto de século na base de 2,5% ao ano. Sim, também pode-se dizer que se trata apenas de estimativas econômicas, tão
ou menos precisas que a previsão de
chuva para daqui a uma semana em
São Paulo ou sobre o El Niño ou o
Iraque no ano que vem.
Segunda: o BC não está histérico
com a inflação. Sim, é um juízo subjetivo, mas o BC de 2005 foi exasperantemente lento no corte de juros.
Agora, "sob nova direção", parece
aceitar o risco de a inflação em 2008
ficar outra vez na risca da meta de
4,5%. Faz pouco tempo, muita gente, inclusive este colunista, acreditava que o pessoal do BC não suportaria inflação maior que 3,5%. Por ora,
parece acreditar que, com crescimento do PIB de 4,5%, dólar a R$
1,80 e juros reais entre 7% e 7,5% ao
ano, dá para encarar a alta de preços
de pouco mais de 4%.
Terceira notícia, a ruim: 2008 terá
de ser um ano da graça para que os
juros caiam durante a primavera, e
olhe lá. Mas, se o país crescer mesmo
em torno de 4,5%, não chega ser
mau negócio, a não ser para as contas públicas, pois a conta de juros
continuará extorsionária, a dívida
cairá lentamente etc. etc.
No seu cenário básico, o BC prevê
inflação subindo (no acumulado de
12 meses) até o terceiro trimestre.
Está subentendido que o impulso
dado à economia pelo corte de juros
ocorrido até setembro só começa a
decair a partir de junho, julho. Se o
cenário se confirmar e houver calmaria no terceiro trimestre, talvez
abra-se uma possibilidade de juros
menores no último trimestre.
Há incertezas maiores. A já insuportável, de tão repetida, incerteza
sobre o tamanho da desaceleração
da economia americana e da correspondente, e também incerta, reação
do resto do mundo. É incerto também o destino do câmbio e de fluxos
financeiros e comerciais.
O preço das commodities vai cair e
estreitar ainda mais o saldo comercial brasileiro? Qual impacto que a
crise terá no fluxo financeiro para o
país? Vai haver aumento de percepção de risco a ponto de afastar capitais ou o país será uma alternativa
para o destino do dinheiro mundial?
Tudo isso terá reflexos no câmbio e,
mais ou menos, na inflação. Por falar
em inflação, o Brasil vai importar
mais da alta global de preços, em especial de alimentos? E por falar em
câmbio, as estimativas para 2008 estão por ora meio dispersas. Há gente
razoável a estimar desde R$ 1,60 a
R$ 1,90.
De novo, por fim, há uma ênfase
maior na pressão dos custos do trabalho e do nível de produtividade na
inflação. Bem, por ora não há pressão do lado de salários, e o próprio
BC o admite. Produtividade é um
troço difícil de calcular, ainda mais
no curto prazo. Mas o pessoal do BC
está preocupado com o mercado de
trabalho, mesmo num país em que o
desemprego anda pela faixa de 9%.
vinit@uol.com.br
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