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São Paulo, quarta-feira, 29 de janeiro de 2003

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ARTIGO

Bolsas podem subir com início da guerra, mas terão força?

HUW JONES
DA REUTERS, EM LONDRES

Com as ações européias perto de seus níveis mais baixos em seis anos devido ao temor de um iminente ataque dos EUA ao Iraque, muitos investidores estão se preparando para uma recuperação no mercado assim que uma ação militar começar.
Mas não está claro se os primeiros ataques aéreos provocarão uma recuperação sustentável ou apenas uma alta temporária.
Se a história serve de orientação, os analistas dizem que as ações podem subir até 20% quando a dúvida quanto ao momento de uma guerra para depor o ditador iraquiano Saddam Hussein for subitamente dirimida. Os EUA se consideram capazes de vencer fácil e talvez rapidamente o conflito.
"Se formos à guerra amanhã, os mercados podem se recuperar, porque uma incerteza paralisante será dissipada", diz Stuart Fraser, administrador de fundos na Standard Life Investments.
Em janeiro de 1991, as combalidas ações européias começaram a se recuperar quando os EUA e seus aliados lançaram ataques aéreos para expulsar do Kuait os invasores iraquianos. O índice FTSE 100, da Bolsa de Londres, subiu 25% em três meses, e o Dax (Frankfurt) teve alta de 30% em seis meses.

Comparação
Doze anos mais tarde, uma recuperação semelhante parece provável, argumentam muitos analistas.
"Fazer uma comparação direta é impreciso, mas trata-se do único modelo de que dispomos para estudo", diz Gareth Evans, estrategista europeu do ING Barings.
"Se recebermos notícias de guerra, o que pode acontecer nesta semana, elas removerão a incerteza, e o ágio de risco nas ações se reduzirá, o que pode gerar uma recuperação no mercado", disse Evans.
O ágio por risco é o retorno que as ações precisam oferecer acima dos títulos seguros dos governos a fim de atrair investidores.
Mas uma recuperação de 20% apenas levaria o índice europeu FTSE Eurotop 300 de volta ao patamar de dezembro de 2002.
O alarido da guerra provavelmente se fará ouvir de maneira mais ruidosa nos próximos dias, o que enervará os investidores e as seguradoras famintas de caixa ainda mais.

Recuperação pega-trouxa?
Mas qualquer alta do mercado deflagrada por uma ação militar contra o Iraque pode ser curta, já que a economia estagnada e a redução das expectativas de lucros demasiadamente ambiciosas uma vez mais voltarão ao topo das agendas dos investidores acompanhadas de um novo temor de ações retaliatórias de parte dos terroristas, o que agravaria a tendência de baixa.
"O maior medo é o que acontece depois que a guerra começar. O sentimento é que a coisa será decidida rapidamente, mas será que os ataques provocarão atentados terroristas na Europa?", pergunta Robert Crenian, estrategista do banco de investimento Dresdner Kleinwort Wasserstein.
Se os EUA agirem sozinhos ou com poucos aliados, os mercados ficarão perturbados, dizem os analistas, lembrando que os norte-americanos montaram uma ampla coalizão contra o Iraque em 1991.
"Se os EUA forem à guerra contra o Iraque sem um mandato claro, acredito que estarão alimentando problemas futuros", diz Adrian Fowler, diretor da equipe de ações européias na Aberdeen Asset Management.
O ING e outros bancos duvidam que qualquer recuperação possa ser mantida no curto e médio prazo até que a reabilitação econômica esteja pronta para ganhar ímpeto, no final do ano.
"Há a chance de que tenhamos uma alta pega-trouxa. Qualquer movimento substancial acima dos 940 pontos no Eurotop 300 geraria preocupações e a busca de oportunidades para sair", afirma Evans, do ING.

Recuperação anêmica
Mesmo que Saddam seja rapidamente derrotado, as empresas continuarão a ter de pagar suas imensas dívidas e restaurar seus balanços.
"Fundamentalmente, nada terá mudado, e por fim a guerra terá sido uma distração do fato de que a economia norte-americana, o propulsor do crescimento mundial, está apresentando uma recuperação anêmica que provavelmente deve continuar", diz Crenian, do Dresdner.


Tradução de Paulo Migliacci


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