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BASTIDORES
Governo se desaponta com empresários
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
"Sentimento de traição" é
uma expressão exagerada
para descrever o ânimo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e
da cúpula do governo em relação
ao empresariado nacional, mas
"desapontamento" é um termo
preciso. A Folha apurou que Lula
e seus principais ministros ficaram contrariados ao saber de um
levantamento da FGV (Fundação
Getúlio Vargas) apontando que
diversos setores da indústria pleiteavam aumento de preço de até
18% em janeiro.
Em conversas ao longo deste
mês, o presidente e a cúpula do
governo criticaram os empresários brasileiros. Disseram que eles
formam o maior grupo de pressão para pedir a queda dos juros,
mas se comportam com a mesma
unidade na hora de remarcar preços, sem levar em conta o esforço
do governo para conter a inflação.
Lula chegou a dizer a interlocutores que faltava espírito patriótico aos empresários. O presidente
e os ministros José Dirceu (Casa
Civil) e Antonio Palocci (Fazenda) tiveram diversas reuniões
com pesos-pesados da indústria
brasileira em 2003. Nesses encontros, justificaram o rigor fiscal e
monetário do primeiro ano de
mandato de Lula como precondição para o crescimento.
Afirmaram que o governo faria
a sua parte, baixando os juros,
mas pediram aos empresários
que fizessem mais investimentos
e que não remarcassem preços
com base na inflação passada,
mas, se tivessem que fazê-lo, que
levassem em conta a projeção dura. A previsão de inflação para os
próximos 12 meses é de 5,99%, segundo o IPCA. Nos últimos 12
meses, essa taxa foi de 9,3%.
No entanto, ao saber do levantamento da FGV, Lula disse que o
presidente do BC (Banco Central), Henrique Meirelles, tinha
razão ao recomendar cautela no
ritmo da queda dos juros, alertando-o do risco de baixar demais a
taxa em 2003 e enfrentar pressões
inflacionárias na virada para
2004. No início de outubro passado, em encontro com Lula e Palocci na casa do ministro da Fazenda, Meirelles disse que os empresários poderiam olhar a inflação passada e remarcar preços. A
partir desse encontro Lula pediu a
Palocci e Dirceu que fizessem
apelos aos empresários.
É nesse contexto que devem ser
entendidas as recentes declarações de Luiz Inácio Lula da Silva e
de José Dirceu que desagradaram
ao empresariado nacional.
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