São Paulo, quinta-feira, 29 de janeiro de 2004

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BASTIDORES

Governo se desaponta com empresários

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

"Sentimento de traição" é uma expressão exagerada para descrever o ânimo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da cúpula do governo em relação ao empresariado nacional, mas "desapontamento" é um termo preciso. A Folha apurou que Lula e seus principais ministros ficaram contrariados ao saber de um levantamento da FGV (Fundação Getúlio Vargas) apontando que diversos setores da indústria pleiteavam aumento de preço de até 18% em janeiro.
Em conversas ao longo deste mês, o presidente e a cúpula do governo criticaram os empresários brasileiros. Disseram que eles formam o maior grupo de pressão para pedir a queda dos juros, mas se comportam com a mesma unidade na hora de remarcar preços, sem levar em conta o esforço do governo para conter a inflação.
Lula chegou a dizer a interlocutores que faltava espírito patriótico aos empresários. O presidente e os ministros José Dirceu (Casa Civil) e Antonio Palocci (Fazenda) tiveram diversas reuniões com pesos-pesados da indústria brasileira em 2003. Nesses encontros, justificaram o rigor fiscal e monetário do primeiro ano de mandato de Lula como precondição para o crescimento.
Afirmaram que o governo faria a sua parte, baixando os juros, mas pediram aos empresários que fizessem mais investimentos e que não remarcassem preços com base na inflação passada, mas, se tivessem que fazê-lo, que levassem em conta a projeção dura. A previsão de inflação para os próximos 12 meses é de 5,99%, segundo o IPCA. Nos últimos 12 meses, essa taxa foi de 9,3%.
No entanto, ao saber do levantamento da FGV, Lula disse que o presidente do BC (Banco Central), Henrique Meirelles, tinha razão ao recomendar cautela no ritmo da queda dos juros, alertando-o do risco de baixar demais a taxa em 2003 e enfrentar pressões inflacionárias na virada para 2004. No início de outubro passado, em encontro com Lula e Palocci na casa do ministro da Fazenda, Meirelles disse que os empresários poderiam olhar a inflação passada e remarcar preços. A partir desse encontro Lula pediu a Palocci e Dirceu que fizessem apelos aos empresários.
É nesse contexto que devem ser entendidas as recentes declarações de Luiz Inácio Lula da Silva e de José Dirceu que desagradaram ao empresariado nacional.


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