São Paulo, quinta-feira, 29 de janeiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Lula ameniza discurso, mas volta a fazer críticas ao empresariado

GABRIELA ATHIAS
ENVIADA ESPECIAL A MUMBAI

No último discurso que fez na Índia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva amenizou a retórica em relação aos empresários brasileiros. Anteontem, Lula havia feito uma crítica pública ao setor diante de uma platéia formada por 150 grandes empresários indianos e 30 brasileiros, na cidade de Nova Déli, a capital do país.
"Houve quem achasse que fui duro com meus companheiros empresários brasileiros quando os desafiei", disse ontem, acrescentando: "Temos que desafiar a cada dia, não aqueles que estão aqui e que têm viajado pelo mundo, mas aqueles que ficam dentro dos seus países, esperando milagres. No mundo dos negócios, não há milagre. Há trabalho, persistência e perseverança".
Quando criticou os empresários, Lula afirmou que os indianos são mais "ousados" por já terem aberto um escritório no Brasil para cuidar dos seus interesses.
Os brasileiros ainda não tomaram iniciativa semelhante. Na ocasião, Lula afirmou, também, que os empresários brasileiros deveriam vender mais e reclamar menos.
O discurso que Lula fez em Nova Déli desagradou aos empresários nacionais.

Fazer as pazes
Robson Andrade, vice-presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), que foi à Índia a convite de Lula, reagiu dizendo que as empresas nacionais fazem um "esforço" de exportação, mas que os brasileiros competem em condições desfavoráveis no exterior porque convivem com altas taxas de juros.
Ontem, ao ouvir o novo discurso de Lula, Andrade mudou de opinião: "O presidente amenizou o tom e deixou claro que não estava se referindo aos empresários que estão aqui na Índia. Enfim, ele se explicou melhor".
Para José Augusto Fernandes, também da CNI, Lula "contextualizou melhor suas idéias".
Logo no início do discurso de ontem, Lula deixou claro que gostaria de "fazer as pazes" com os empresários. Apresentou à platéia os 80 empresários brasileiros presentes ao seminário como "um respeitável grupo que está buscando parceiros e sócios para seus investimentos tanto aqui quanto no Brasil".
O seminário entre empresários brasileiros e indianos aconteceu no luxuoso hotel Maharata Sheraton, localizado a 40 km do centro de Mumbai.

Elogios
Lula ainda aproveitou o último discurso para agradecer à hospitalidade do primeiro-ministro, Atal Behari Vajpayee, e do presidente Abdul Kalam. Mas, como estava falando de improviso, acabou cometendo um deslize.
Empolgado pela visita feita horas antes ao Taj Mahal, um dos monumentos mais famosos da Índia, disse: "Um país que consegue preservar um monumento daquela magnitude tem tudo para ser um país mais desenvolvido do que a Índia é hoje".
Os principais jornais indianos voltaram a publicar ontem reportagens elogiando o presidente brasileiro. Citaram sua liderança entre os países menos desenvolvidos e tomaram como novidade o objetivo de crescimento econômico acompanhado de inclusão social.
As lideranças empresariais e políticas indianas também têm feito elogios públicos a Lula. Os empresários daquele país, ao final do discurso de despedida, o aplaudiram de pé.


Texto Anterior: Bastidores: Governo se desaponta com empresários
Próximo Texto: 43% das indústrias prevêem aumentos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.