São Paulo, quinta-feira, 29 de janeiro de 2004

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Preço controlado sobe mais que o livre

Inflação "do governo" supera a "do mercado"

ANA PAULA GRABOIS
DA SUCURSAL DO RIO

O governo manteve a taxa de juros em 16,5% ao ano com medo da evolução dos preços, principalmente daqueles que não estão sob seu controle. Entretanto, desde que o câmbio se tornou flexível, em 1999, as tarifas e preços controlados pelo governo têm subido mais que os preços livres e aumentado os custos do setor privado.
Em 2003, os preços do governo (tarifas e preços administrados) subiram 13,2%, e os preços dos empresários (preços livres), 7,79%. O cálculo foi feito pela Fecomércio-RJ (Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro), com base no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo).
O IPC-DI, da FGV, mostra o mesmo comportamento, com os preços do governo subindo mais que os dos empresários.
Sondagem da FGV (Fundação Getúlio Vargas) feita neste mês mostrou que 43% das empresas da indústria de transformação têm intenção de aumentar seus preços neste primeiro trimestre.
Para o economista Alexsandro Barbosa, da consultoria Global Invest, para atingir a meta de inflação fixada em 5,5% (pelo IPCA) em 2004, não há saída para o governo senão apertar os empresários com juros altos. Segundo cálculos da consultoria, para confirmar a previsão do BC de uma inflação de 7,8% nos preços administrados pelo governo para 2004, resta apenas uma inflação máxima de 4,5% para os preços dos empresários.
"De fato, o governo é o maior culpado da inércia inflacionária. Os juros não podem cair porque há uma meta rígida de inflação, de 5,5%, com um câmbio flutuante, um IPCA com um terço sensível ao câmbio e ainda as tarifas indexadas aos índices gerais de preços, também muito sensíveis às oscilações cambiais", diz. Para Barbosa, "a política monetária está punindo os empresários".
O economista Salomão Quadros, da FGV, afirma que, mesmo com algumas altas no atacado, a demanda de consumo é muito fraca para a alta chegar ao consumidor. "Nem todas essas intenções de aumento de preços vão se confirmar. E, para o consumidor, essa alta chega mais diluída", afirmou.
Na sua opinião, as empresas sofreram pressões no ano passado -custos com energia e outras tarifas e reajustes salariais- e precisam recompor sua margem. "As empresas não vão viver eternamente comprimindo margem. Tem uma hora que passam para a frente [os aumentos]", diz. Ele ressalta que isso não significa o início de um processo inflacionário porque tal tipo de ajuste é feito de uma vez e se esgota.
Para o economista Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, uma parada no corte do juros pode frear os investimentos e o esperado crescimento econômico sustentado. "Não se pode usar apenas um instrumento monetário, que são os juros, para ajustar os preços livres. Isso limita a capacidade de crescimento do país", afirmou.


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