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RECEITA ORTODOXA
Aperto fiscal e queda do dólar fazem valor ir a R$ 47,1 bi, 2,68% do PIB; superávit primário fica em 4,6%
Déficit público tem menor nível desde 91
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Graças à combinação dos efeitos do aperto fiscal recorde e da
queda do dólar, o déficit público
foi reduzido, em 2004, para o seu
nível mais baixo desde 1991, ano
em que o Banco Central passou a
calcular essa estatística.
Ao todo, governo federal, Estados, municípios e estatais tiveram
um déficit de R$ 47,144 bilhões
-ou seja, a soma das despesas do
setor público, incluindo os gastos
com juros, superou o total de receitas nesse montante.
O déficit equivale a 2,68% do
PIB (Produto Interno Bruto), o
menor em 14 anos. Ele ainda pode
ser revisado, pois os números finais do PIB em 2004 ainda não foram divulgados. Ainda assim, o
resultado fica abaixo, por exemplo, dos 3% fixados como teto para a União Européia e que não são
cumpridos por países como Alemanha e França.
Um dos fatores que explicam
esse bom desempenho foi o aperto fiscal conduzido pelo setor público: no ano passado, o superávit
primário (receitas menos despesas do governo, exceto gastos com
juros) somou R$ 81,112 bilhões,
ou 4,61% do PIB -maior resultado desde o Plano Real (1994) e
bastante superior ao acordado
com o FMI (Fundo Monetário Internacional): 4,25%. O próprio
governo, porém, já havia adotado,
por conta própria, uma meta
equivalente a 4,5% do PIB.
A maior economia do setor público pode ser explicada tanto pela redução nos investimentos por
parte do governo quanto pelo aumento na arrecadação de tributos. O superávit serve como indicador sobre a disposição do setor
público de continuar pagando sua
dívida em dia, mesmo que signifique aperto em outras áreas.
Mas mesmo esse superávit recorde não foi suficiente para pagar toda a carga de juros que incidiu sobre a dívida pública em
2004: os encargos somaram R$
128,256 bilhões. Apesar de continuarem num patamar elevado,
essas despesas foram menores do
que em 2003, quando chegaram
ao recorde de R$ 145,205 bilhões.
A redução é conseqüência tanto
da queda do dólar -cuja cotação
recuou 8,13%- quanto da taxa
Selic -que, entre 2003 e 2004,
caiu de 23,25% para 16,25%. Taxa
de juros e câmbio são os principais indexadores da dívida pública e, portanto, são os que mais
afetam os gastos com juros.
Há dúvidas sobre a possibilidade de o déficit público se manter
no nível atual ao longo de 2005,
por causa, principalmente, da alta
recente da Selic. Desde setembro,
os juros foram de 16% ao ano para
18,25%, e a tendência é de alta.
Para o BC, porém, ainda não é
possível medir com precisão o
efeito fiscal da alta dos juros. "Esse impacto é gradual. Depende de
como vão evoluir outros fatores,
como a inflação e o câmbio", diz
Luiz Malan, chefe-adjunto do Departamento Econômico do BC.
Quando o superávit primário
não é suficiente para compensar
os gastos com juros, o governo recorre a empréstimos para financiar o déficit. No ano passado, porém, mesmo com esses empréstimos, a dívida pública se reduziu.
No final de 2003, o endividamento estava em R$ 913,145 bilhões, o
que representava 57,2% do PIB.
Em dezembro de 2004, essa proporção havia se reduzido para
51,8%, embora a dívida tenha ficado em R$ 956,996 bilhões.
Foi a primeira vez desde 1994
que a relação entre dívida e PIB
apresentou queda entre um ano e
outro. A redução foi possível graças à inflação e ao crescimento da
economia. O PIB é o total de riquezas produzidas pelo país. Ele é
calculado com base nos preços
dos bens e dos serviços negociados no país -logo, é influenciado
não só pelo nível de atividade mas
também pela inflação.
Entre 2003 e 2004, o PIB estimado pelo BC para o cálculo dos indicadores da dívida passou de R$
1,597 trilhão para R$ 1,847 trilhão
-ou seja, variação de 15,7%, embora o crescimento real esteja
projetado em 5%. Só essa expansão, nas contas do BC, teria sido
suficiente para reduzir a relação
entre dívida e PIB em 7,7 pontos
percentuais ao longo de 2004.
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