São Paulo, sábado, 29 de janeiro de 2005

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DEBATE GLOBAL

Chefe do BC teria de deixar posto em setembro para concorrer em Goiás; ele nega antecipação de volta de Davos

Meirelles nega candidatura, mas timidamente

DO ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, foi muito pouco enfático ao negar ontem que pense em concorrer a algum posto eletivo em 2006, o que o levaria a afastar-se do BC.
A pergunta foi feita por um jornalista espanhol, em conversa informal durante o almoço sobre a economia brasileira, em que Meirelles foi o expositor (leia texto na página anterior).
Meirelles respondeu que não estava pensando nisso, mas com um sorriso maroto nos lábios.
A Folha insistiu, e o presidente do BC disse que, por enquanto, estava pensando apenas "no BC e na meta de inflação".
A hipótese de candidatura e, por extensão, afastamento do BC foi levantada em relatório de uma entidade financeira nesta semana. Como o prazo para filiar-se a partido político, condição fundamental para ser candidato, vence em setembro, se houver intenção de concorrer em 2006, Meirelles deixaria nessa época o BC, porque seria complicado a autoridade monetária pertencer a partido.
Meirelles elegeu-se deputado federal por Goiás em 2002, mas renunciou ao cargo (e a seu partido de então, o PSDB), ao ser convidado para o Banco Central.
O presidente do BC contou uma história sobre o Reino Unido, que diz ter ouvido de um dos dois personagens, para ilustrar a sua suposta pouca disposição para candidatar-se. Segundo ele, quando convidado para ministro do Tesouro por Tony Blair, Gordon Brown impôs uma condição: que o BC inglês se tornasse independente. Blair perguntou a razão, estranhando que um político cedesse poder, em vez de acumulá-lo (como ainda é no Brasil, o Tesouro comandava então o Bank of England, o BC britânico).
Brown replicou: "Exatamente por ser um político é que quero a autonomia do banco. O cargo que desejo é o o seu e, para alcançá-lo não quero ser apontado como responsável por medidas impopulares como as que o BC toma".
Uma das primeiras medidas de Blair, ao assumir, foi justamente dar independência ao BC.
"Você acha que alguém que aumenta os juros poderia se candidatar no Brasil? Você não tem lido os jornais?", perguntou Meirelles.
A Folha lhe propôs então a hipótese inversa: o BC começar a baixar os juros justamente no ano eleitoral de 2006.
Meirelles limitou-se a fazer figa com os dedos, de novo sorrindo.
Mais: contou que sempre que vai a Goiás, sua base, lhe perguntam sobre a candidatura, o que significa que não se trata de tema alheio ao seu horizonte. Mais tarde, a Folha voltou a cruzar com Meirelles nos corredores de Davos, quando já havia agitação nos mercados com a notícia de que ele antecipara sua volta ao Brasil, de domingo para sábado, para viajar no avião presidencial, a convite de Lula. Meirelles disse que a volta já estava prevista e que só não viera no avião por outro compromisso. (CLÓVIS ROSSI)


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