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DEBATE GLOBAL
Chefe do BC teria de deixar posto em setembro para concorrer em Goiás; ele nega antecipação de volta de Davos
Meirelles nega candidatura, mas timidamente
DO ENVIADO ESPECIAL A DAVOS
O presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, foi muito
pouco enfático ao negar ontem
que pense em concorrer a algum
posto eletivo em 2006, o que o levaria a afastar-se do BC.
A pergunta foi feita por um jornalista espanhol, em conversa informal durante o almoço sobre a
economia brasileira, em que Meirelles foi o expositor (leia texto na
página anterior).
Meirelles respondeu que não estava pensando nisso, mas com
um sorriso maroto nos lábios.
A Folha insistiu, e o presidente
do BC disse que, por enquanto,
estava pensando apenas "no BC e
na meta de inflação".
A hipótese de candidatura e, por
extensão, afastamento do BC foi
levantada em relatório de uma
entidade financeira nesta semana.
Como o prazo para filiar-se a partido político, condição fundamental para ser candidato, vence
em setembro, se houver intenção
de concorrer em 2006, Meirelles
deixaria nessa época o BC, porque
seria complicado a autoridade
monetária pertencer a partido.
Meirelles elegeu-se deputado federal por Goiás em 2002, mas renunciou ao cargo (e a seu partido
de então, o PSDB), ao ser convidado para o Banco Central.
O presidente do BC contou uma
história sobre o Reino Unido, que
diz ter ouvido de um dos dois personagens, para ilustrar a sua suposta pouca disposição para candidatar-se. Segundo ele, quando
convidado para ministro do Tesouro por Tony Blair, Gordon
Brown impôs uma condição: que
o BC inglês se tornasse independente. Blair perguntou a razão, estranhando que um político cedesse poder, em vez de acumulá-lo
(como ainda é no Brasil, o Tesouro comandava então o Bank of
England, o BC britânico).
Brown replicou: "Exatamente
por ser um político é que quero a
autonomia do banco. O cargo que
desejo é o o seu e, para alcançá-lo
não quero ser apontado como
responsável por medidas impopulares como as que o BC toma".
Uma das primeiras medidas de
Blair, ao assumir, foi justamente
dar independência ao BC.
"Você acha que alguém que aumenta os juros poderia se candidatar no Brasil? Você não tem lido
os jornais?", perguntou Meirelles.
A Folha lhe propôs então a hipótese inversa: o BC começar a
baixar os juros justamente no ano
eleitoral de 2006.
Meirelles limitou-se a fazer figa
com os dedos, de novo sorrindo.
Mais: contou que sempre que
vai a Goiás, sua base, lhe perguntam sobre a candidatura, o que
significa que não se trata de tema
alheio ao seu horizonte. Mais tarde, a Folha voltou a cruzar com
Meirelles nos corredores de Davos, quando já havia agitação nos
mercados com a notícia de que ele
antecipara sua volta ao Brasil, de
domingo para sábado, para viajar
no avião presidencial, a convite de
Lula. Meirelles disse que a volta já
estava prevista e que só não viera
no avião por outro compromisso.
(CLÓVIS ROSSI)
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