São Paulo, sábado, 29 de janeiro de 2005

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Depois de "pito", Furlan defende política externa

DO ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

Luiz Fernando Furlan, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, vestiu ontem a camisa de disciplinado membro do governo, depois de um pito público do presidente Lula, por ter criticado a política externa, em especial a aproximação com os países do Sul.
"A América Latina está sempre olhando para o Norte, em vez de olhar para os vizinhos do Sul", disparou Furlan, ao defender a integração física do subcontinente, exatamente a menina dos olhos do antigo presidente do BNDES, Carlos Lessa, com quem Furlan colidiu uma e outra vez, até a demissão de Lessa.
Furlan chegou a citar exemplo muito em voga no Itamaraty, a repartição que o ministro criticou pela aproximação com os países do Sul: "É mais fácil ir do Brasil à Venezuela via Miami, porque há dez vôos diários para Miami e só três semanais para Caracas".
Furlan defendeu também os investimentos que o governo está fazendo nos países do Sul, outro ponto criticado pelos setores que atacam a política externa.
Foi premonitório, porque o presidente Lula, ao deixar o salão onde fizera seu pronunciamento ao encontro anual 2005 do Fórum Econômico Mundial, cruzou com Enrique García, presidente da Corporação Andina de Fomento, e pediu que ajudasse, com dinheiro, projeto do presidente venezuelano Hugo Chávez de integração energética com o Brasil. "O BNDES também vai entrar com dinheiro", disse Lula a Garcia.
Mas a disposição do presidente colide com a opinião de parte importante do empresariado, reiterada ontem durante debate sobre a América Latina.
Alain Belda, o brasileiro que preside a multinacional Alcoa, por exemplo, acha que "é melhor um mau acordo com uma economia de US$ 10 trilhões do que um bom acordo com países pobres".
É um argumento semelhante ao que Furlan usara na entrevista a "O Estado de S.Paulo" que motivou a réplica de Lula.
A defesa da integração colide, às vezes, com recuos em projetos concretos. Juan Villazu, presidente da Corporação Nacional do Cobre (Chile) contou à Folha que, no governo Fernando Henrique Cardoso, começou a ser negociada uma integração, que poderia chegar a fusão entre sua empresa e a brasileira Vale do Rio Doce.
No governo Lula, o projeto entrou em banho-maria, porque o relacionamento entre o presidente chileno Ricardo Lagos e Lula não era dos melhores. Agora que as relações voltaram ao melhor nível, Villazu espera que as conversas com a Vale sejam retomadas. (CR)


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