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Depois de "pito", Furlan defende política externa
DO ENVIADO ESPECIAL A DAVOS
Luiz Fernando Furlan, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, vestiu
ontem a camisa de disciplinado
membro do governo, depois de
um pito público do presidente
Lula, por ter criticado a política
externa, em especial a aproximação com os países do Sul.
"A América Latina está sempre
olhando para o Norte, em vez de
olhar para os vizinhos do Sul",
disparou Furlan, ao defender a integração física do subcontinente,
exatamente a menina dos olhos
do antigo presidente do BNDES,
Carlos Lessa, com quem Furlan
colidiu uma e outra vez, até a demissão de Lessa.
Furlan chegou a citar exemplo
muito em voga no Itamaraty, a repartição que o ministro criticou
pela aproximação com os países
do Sul: "É mais fácil ir do Brasil à
Venezuela via Miami, porque há
dez vôos diários para Miami e só
três semanais para Caracas".
Furlan defendeu também os investimentos que o governo está
fazendo nos países do Sul, outro
ponto criticado pelos setores que
atacam a política externa.
Foi premonitório, porque o presidente Lula, ao deixar o salão onde fizera seu pronunciamento ao
encontro anual 2005 do Fórum
Econômico Mundial, cruzou com
Enrique García, presidente da
Corporação Andina de Fomento,
e pediu que ajudasse, com dinheiro, projeto do presidente venezuelano Hugo Chávez de integração energética com o Brasil. "O
BNDES também vai entrar com
dinheiro", disse Lula a Garcia.
Mas a disposição do presidente
colide com a opinião de parte importante do empresariado, reiterada ontem durante debate sobre
a América Latina.
Alain Belda, o brasileiro que
preside a multinacional Alcoa,
por exemplo, acha que "é melhor
um mau acordo com uma economia de US$ 10 trilhões do que um
bom acordo com países pobres".
É um argumento semelhante ao
que Furlan usara na entrevista a
"O Estado de S.Paulo" que motivou a réplica de Lula.
A defesa da integração colide, às
vezes, com recuos em projetos
concretos. Juan Villazu, presidente da Corporação Nacional do Cobre (Chile) contou à Folha que,
no governo Fernando Henrique
Cardoso, começou a ser negociada uma integração, que poderia
chegar a fusão entre sua empresa
e a brasileira Vale do Rio Doce.
No governo Lula, o projeto entrou em banho-maria, porque o
relacionamento entre o presidente chileno Ricardo Lagos e Lula
não era dos melhores. Agora que
as relações voltaram ao melhor
nível, Villazu espera que as conversas com a Vale sejam retomadas.
(CR)
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